As Ruínas (2008)

4.5
(12)

As Ruínas (2008) (6)

As Ruínas
Original:The Ruins
Ano:2008•País:EUA, Alemanha, Austrália
Direção:Carter Smith
Roteiro:Scott B. Smith
Produção:Chris Bender, Stuart Cornfeld, Jeremy Kramer
Elenco:Jonathan Tucker, Jena Malone, Laura Ramsey, Shawn Ashmore, Joe Anderson, Sergio Calderón, Dimitri Baveas, Jordan Patrick Smith

Nota do Autor: Este artigo não entrega nenhuma surpresa além do que já foi divulgado na mídia anteriormente e, portanto é brando em spoilers, porém se você conseguiu nunca ter ouvido falar no filme antes e não sabe do que se trata, pare por aqui e volte depois de assistir, pois existem algumas peculiaridades que funcionam melhor quando se assiste pela primeira vez.

Ultimamente tudo o que vêm dos Estados Unidos em matéria de cinema de horror deve ser visto com cautela, tanto que qualquer fagulha de originalidade é recebida com pompa e fogos de artifício. Depois de um fim de 2007 e começo de 2008 marcado por obras cinematográficas genuinamente interessantes, ou seja, Cloverfield e Sweeney Todd, a indústria caiu na lama de sua própria incompetência durante a maior parte do primeiro semestre.

Foi quando em 4 de abril estreou As Ruínas nas grandes telas (no Brasil a Paramount prometia o lançamento para 6 de junho, mas foi cancelado, indo direto para o vídeo) e aí a crítica estadunidense explodiu em elogios a versão filmada da obra do autor Scott B. Smith, que também escreveu o livro que originou o filme Um Plano Simples, de Sam Raimi, sendo indicado ao Oscar pela adaptação.

Durante o lançamento, “O melhor dos últimos tempos” e “um clássico cult instantâneo” foram elogios frequentes dos veículos especializados, porém, como disse sobre a empolgação excessiva, decidi assistir com um receoso “olhar 43“. O que encontrei foi uma produção realmente diferente do que vemos ultimamente, com bons momentos e bastante violência, contudo com falhas que não justificam o produto final como a “salvação da lavoura” – a forma a mídia espalhafatosa a vendeu.

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As Ruínas é o primeiro longa-metragem dirigido por Carter Smith, que estava mais acostumado a trabalhar como fotógrafo de celebridades. Também é curioso que tenha tido o ator Ben Stiller como produtor executivo, pois, para quem não associou o nome a pessoa, Stiller é mais conhecido por suas comédias descompromissadas cheias de caras e bocas, totalmente incompatível com o tom soturno, sangrento, explícito e algumas vezes claustrofóbico que esta película passa. Isso porque eu ainda não disse que é um filme sério sobre plantas comedoras de carne… E, acredite, é convincente e empolgante, por mais estranho que possa parecer.

O roteiro acompanha a história de dois casais estadunidenses – Jeff (Jonathan Tucker, Pulse) e Amy (Jena Malone, Donnie Darko), e Eric (Shawn Ashmore, o Homem de Gelo de X-Men) e Stacy (Laura Ramsey, Venon e O Pacto) – que estão passando suas férias no México. Pouco antes de voltarem para seu país de origem, eles conhecem Mathias (Joe Anderson), um alemão bem apessoado que convida o grupo para procurar seu irmão Henrich (Jordan Patrick Smith), que partiu há poucos dias para encontrar um grupo de gregos em uma escavação arqueológica.

Apesar de conhecerem o alemão há poucas horas, os entediados estadunidenses não hesitam nem um pouco em participar da excursão no meio da mata e, no dia anterior à partida, até convidam para uma última festa na praia, onde Any bêbada até esboça um affair pelo rapaz.

Na manhã seguinte Mathias faz uma cópia do mapa com Dimitri (Dimitri Baveas), um dos viajantes gregos que também procura uma amiga jornalista na escavação, e partem para o local. Primeiro vão de ônibus até uma cidade pequena e pegam um taxi, ou melhor, uma decrépita caminhonete amarela com a palavra “taxi” pichada na lateral, para levá-los até a mata. Esta cena é um pouco clichê já que o grupo precisa persuadir o motorista com dinheiro, pois o mexicano diz que o destino que escolheram é um “lugar ruim“. Os seis desembarcam para prosseguir a pé pelo terreno acidentado, não sem antes encontrar o jipe de Henrich abandonado.

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Cruzando um rio, o sexteto encontra duas crianças que os observam e os ignoram, prenunciando o mal que se aproxima (como já visto em milhares de outros filmes) e depois de mais andança o grupo finalmente encontra a imponente estrutura do templo maia.

Mal chegam e aparece um mexicano (Sergio Calderón, Piratas do Caribe – No Fim do Mundo e MIB) em um cavalo gritando muitas palavras em espanhol e maia – basicamente dizendo para se afastarem imediatamente. Os estadunidenses – como só eles – não entendem nada e pensam que o homem quer dinheiro (hahaha!). Chega mais um grupo de mexicanos armados com flechas e armas, Amy tira foto da confusão, pisando sobre as vinhas na base dAs Ruínas, o que por algum motivo desconhecido até o momento exalta os mexicanos.

Dimitri pega a câmera – pensando que os mexicanos são ignorantes o suficiente para confundirem uma câmera fotográfica de um revólver – pisa sobre as vinhas, caminha para perto dos maias e acaba levando uma flechada no peito e um balaço no meio da testa. Os restantes se assustam com a brutalidade dos nativos e sobem nAs Ruínas encontrando o acampamento de Henrich e a escavação abandonada. Não tarda muito e Mathias encontra o irmão morto coberto pelas vinhas. Ninguém tem sinal nos celulares, exceto Mathias e Henrich que possuem telefones via satélite. Mas existem outros dois problemas neste caso, o celular de Mathias ficou com os maias e o de Dimitri está perdido no poço de escavação no meio dAs Ruínas. Ouvindo um som que parece o do celular de Henrich, o grupo pensa que pode ir até o fundo buraco e usar o telefone para pedir ajuda.

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Só que há mais um percalço: Mathias se oferece para descer e no meio do caminho a única corda disponível se rompe e o alemão cai de uma altura considerável no meio da escuridão.

Stacy desce para resgatar o alemão que não consegue mover suas pernas e aparenta estar com a coluna quebrada. A própria garota se corta profundamente no joelho e o grupo improvisa uma padiola para retirá-lo do buraco.

Desesperada com a situação, Amy desce para tentar conversar com os hostis maias e pedir ajuda para Mathias. Jeff dá assistência à garota que no calor da discussão joga um punhado das vinhas em um menino maia que está próximo. Diante da tensão, os ânimos ficam mais acalorados e os maias não hesitam em atirar no garoto, descobrindo que o problema dos habitantes não é na estrutura do templo em si ou no que ele representa, mas no mato sinistro que cresce lá.

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É quando as coisas realmente começam a ficar assustadoras: durante a noite Stacy nota que um broto das vinhas cresceu no machucado que sofreu. Seus amigos a removem, mas a garota passa o resto do filme obcecada com a ideia de que a planta está crescendo dentro dela. Mais tarde Jeff checa o estado de saúde de Mathias e descobre que o “capim maldito” envolveu as pernas do homem comendo até chegar aos ossos. Descobrindo a ameaça completa, os que sobreviverem não apenas têm que se livrar das vinhas comedoras de carne e dos recursos escassos, eles precisam dar um jeito de escapar dos maias que não estão dispostos a deixá-los disseminar as sementes por todo o México.

A primeira coisa que salta aos olhos nesta adaptação, roteirizada pelo próprio escritor, é ao trabalho refinado na fotografia do iraniano Darius Khondji (de Se7en e O Quarto do Pânico) e seu talento inato. A iluminação e as locações (o filme foi rodado na Austrália, não no México) são incríveis, especialmente nas poucas cenas dentro da escavação nAs Ruínas.

Também devemos dar crédito ao excelente elenco jovem, que foge do habitual conceito de que para atrair o público para os cinemas o diretor tem que destacar um desfile de moda sobrepujando o talento. Além disto, o fato de não haver nenhum nome especialmente conhecido no elenco reforça a credibilidade da produção.

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Carter Smith então dá um baile como diretor estreante em longas: cria suspense na hora certa, nunca recorre aos alívios cômicos, aos sustos falsos (que existem, mas são poucos) e não têm medo de mostrar cenas chocantes. No principal destaque, Mathias depois de ter sua perna devorada pelas vinhas até os ossos precisa ser amputado para não morrer de infecção.

Como se não já fosse doloroso o suficiente, o grupo só dispõe de uma pedra, um canivete e uma frigideira (para fazer a cauterização). Smith nos faz sentir mal desde a votação para decidir se eles vão realizar a “cirurgia improvisada“; e os preparativos…o diretor não poupa detalhes na hora H, certamente fazendo muitos espectadores desviar o olhar da tela.

De todos estes elogios que fiz, o detalhe que mais me impressionou foi a coragem de um diretor e um escritor/roteirista mostrarem para seus conterrâneos como os estadunidenses são perfeitos ignorantes e arrogantes em solo estrangeiro, subestimando os habitantes locais. Em uma das cenas, Jeff chega a dizer: “Quatro americanos não somem assim. Seremos encontrados!“. Tudo isso sem soar idiota e estereotipado como em Turistas, obviamente.

Certo, então por que pareço cair em contradição quando no começo do texto escrevi que não devemos nos empolgar tanto quanto os críticos estadunidenses? São três as respostas. Primeiro – e mais particularmente – o conceito como um todo: por mais interessante que seja, ao final das contas, o que vemos são 90 minutos de um grupo de adultos fugindo de vinhas assassinas que imitam vozes e ruídos (é sério). Uma premissa como esta é difícil de levar a sério e não me convenceu totalmente.

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Segundo, o desenvolvimento dos personagens é demorado e ainda assim ineficaz, provocando soluções previsíveis no roteiro (paranoia, conflitos internos por motivos torpes) e algumas incoerências com perguntas do tipo: por que eles não jogam as vinhas sobre os maias? Por que não tentam incendiar as vinhas? E por que mesmo depois de descobrir a ameaça eles deixam Mathias correndo perigo perto das vinhas? Para finalizar, a levemente otimista, gratuita e desnecessária realização de um gancho para forçar uma sequência. Gosto de pensar que Smith fez isso sob pressão dos produtores, porém não se pode ter certeza.

Entre pontos fracos e fortes, é um excelente filme, um alívio para quem está cansado de ver mais do mesmo – fugindo do básico “casais jovens em férias no exterior que passam um inferno” – e possui tudo o que um fã de horror pode encontrar. Porém classificá-lo de clássico é um tremendo exagero, mas justificável por causa da safra de redundantes bobagens hollywoodianas da época.

Pelo menos este prestígio exacerbado se refletiu na bilheteria: a produção custou apenas 8 milhões de dólares e se pagou já no fim de semana de estreia nos Estados Unidos. No total já rendeu mais de 22 milhões de dólares mundialmente. Assim pode-se dizer que boa diversão e grandes arrepios os aguardam na produção, portanto assistam sem receio de perder a viagem.

Curiosidades

 ATENÇÃO SPOILERS: Apesar do livro e roteiro terem sido escritos pela mesma pessoa, existem algumas diferenças: No livro é Eric quem se corta e têm as plantas crescendo dentro dele e esfaqueia Mathias acidentalmente (no filme é Eric quem é morto). Quem tem as pernas amputadas no livro é Pablo (Dimitri no filme) e as vinhas soltam ácido quando quebradas. Além disto, no livro Amy é a primeira personagem a morrer e ninguém sobrevive, já no filme, Amy consegue fugir.

– ATENÇÃO SPOILER: Existe um final alternativo onde Amy foge do templo maia dirigindo um pouco mais pelo caminho. A cena corta para um cemitério onde uma pessoa está andando por entre as lápides assobiando Frère Jacques. Ele ouve o mesmo som saindo de uma cova com a lápide escrita Amy. Em volta da lápide estão algumas flores vermelhas saindo e quando o coveiro tenta pegar uma, a vinha envolve seu braço. O filme termina com a última cena original com os gregos chegando ao templo.

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Gabriel Paixão

Colaborador e fã de bagaceiras de gosto duvidoso. Um Floydiano de carteirinha que tem em casa estantes repletas de vinis riscados e VHS's embolorados. Co-autor do livro Medo de Palhaço, produz as Horreviews e Fevericídios no Canal do Inferno!

7 thoughts on “As Ruínas (2008)

  • 30/08/2020 em 12:08
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    Mexicano e bicho burro. Jogava gasolina em toda as trepadeiras e tacava fogo.

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  • 20/01/2020 em 15:25
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    Filme tenso e assustador na medida para o gênero. As trepadeiras do demo são um show à parte. A cena do som de celular me arrepiou dos pés à cabeça e sim, americanos desinformados em solo estrangeiro são banquete.
    Nota 8,5 para o roteiro.
    Ps* Passei a prestar atenção na parreira de uvas lá de casa, vai que eu escuto o som de um celular que não é o meu…

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  • 15/01/2019 em 08:36
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    Seriam as vinhas um tipo de ‘primo de terceiro grau’ dos milharais de Gatlin?

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  • 14/01/2019 em 23:22
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    Ainda não sei pq ele não queimaram as plantas

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  • 28/09/2017 em 15:46
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    Adorei a análise. Me fez avaliar alguns pontos do filme sob uma ótica diferente. Bem complementada e com detalhes interessantes.
    P.s curti muito mais o final alternativo .

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  • 04/06/2016 em 13:15
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    Mto bom esse merece estar nos meus arquivos.

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    • 17/03/2023 em 09:15
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      Um bom filme, me pergunto por que não teve sequência?

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