Bruxa de Blair (2016)

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Blair Witch (2016) (1)

Bruxa de Blair
Original:Blair Witch
Ano:2016•País:EUA
Direção:Adam Wingard
Roteiro:Simon Barrett
Produção:Eduardo Sanchéz, Daniel Myrick, Adam Wingard, Simon Barret
Elenco:James Allen McCune, Callie Hernandez, Corbin Reid, Brandon Scott, Wes Robinson, Valorie Curry

Vivemos na era da imagem.

Somos acompanhados diariamente por câmeras de fotografia e filmagem, na forma do smartphone e temos a possibilidade de capturar e compartilhar momentos diversos em tempo real através das mídias sociais. Compartilhamento esse que se tornou quase uma obrigação social, ou até mesmo um ritual religioso, principalmente, mas não exclusivamente, entre os mais jovens. O registro do cotidiano e do lazer agora é um álbum de fotos acessível para qualquer pessoa, em qualquer lugar, a qualquer hora. Compartilhamos imagens que duram segundos através do Snapchat; fazemos transmissões ao vivo via Facebook; nos comunicamos com pessoas mundo a fora via webcams, Skype ou facechats; registramos nossos feitos atléticos por meio de GOPROS; gravamos eventos públicos com o auxílio de drones; admiramos youtubers mais que astros do cinema e televisão; assistimos shows pela tela do celular, mesmo estando ao vivo. Todos nós, em maior ou menor grau, direta ou indiretamente, vivemos em um mundo dominado pela imagem.

Por consequência, não causa estranhamento algum o fato de que o found footage, subgênero no qual pessoas e suas câmeras se embrenham em situações tenebrosas, seja a mais popular e expressiva face do terror na nova década de 10. Lá em 1999 o Projeto Bruxa de Blair reintroduziu a ideia do falso documentário e das filmagens encontradas ao mundo de cinema de forma brilhante e sem precedentes. Não foi o primeiro, sabemos, mas foi aquele que implantou no inconsciente coletivo ocidental o conceito de filmagens encontradas como forma de se fazer terror. É ele nossa referência quando vemos um filme gravado do ponto de vista dos personagens, com câmeras tremidas e qualidade propositadamente baixa – “Esse filme é tipo Bruxa de Blair?”.

Blair Witch (2016)

Passados dezesseis anos desde o lançamento da sequência que muitos preferem esquecer, finalmente chegou a hora de retornar para a floresta amaldiçoada de Burkittsville, onde, segundo as lendas, habitaria a bruxa Elly Kedward. Saem de cena Eduardo Sanchéz e Daniel Myrick, entram Adam Wingard e Simon Barrett, dupla de destaque no cenário contemporâneo do cinema de gênero. Todos eles, exceto Daniel Myrick, trabalharam juntos na franquia V/H/S, provavelmente onde nasceu o brotinho que se transformaria nesse novo projeto.

O novo longa gira em torno de um grupo de seis pessoas, encabeçado por James, irmão caçula de Heather Donahue, protagonista do filme anterior, e Lisa, cineasta que quer transformar o desaparecimento daqueles três jovens em um documentário. James está determinado a encontrar a irmã e para isso contará com a ajuda de alguns amigos e um casal que vive nos arredores da floresta. Como a história já deveria ter lhes avisado, o resultado acaba sendo nada menos que outra tragédia.

Blair Witch (2016) D

O número de personagens duas vezes maior já chama a atenção, mas o número de câmeras surpreende ainda mais. O grupo entra na floresta com quatro câmeras auriculares, uma câmera de vídeo analógica e uma digital, um drone e cerca de três câmeras portáteis – tipo webcams, com visão noturna, além dos próprios celulares e um tablet. Como disse no começo deste texto, vivemos na era da imagem e Blair Witch é uma cria desse universo. A grande quantidade de câmeras resulta em um número maior de pontos de vista para se contar a mesma história, recurso que em outras condições poderia até ter sido positivo. Aqui acaba sendo apenas justificativa para uma montagem absurdamente frenética e sem noção. Os cortes são intermináveis, repetitivos e cansativos. Ao passo que o filme original jogava o espectador dentro do bosque, tornando as árvores conhecidas e familiares, como um labirinto, este novo abre mão de qualquer coisa do tipo ao optar por esse estilo de montagem. Em um dos momentos mais embaraçosos do longa, uma das personagens machuca o pé e somos forçados a assistir os primeiros socorros por quatro ou cinco pontos de vista diferentes. É como se a regra de montagem de canais do youtube ditasse o ritmo do filme – pessoas vão absorver melhor uma série de várias pequenas cenas do que longos planos e não pode existir tempo de silêncio ou sem movimentação entre os planos.

Blair Witch (2016) (2)

Não só a montagem jogou a ambientação completamente pela janela, mas também provocou um resultado ainda pior: acabou completamente com o realismo. A Bruxa de Blair é um filme que perdura e persiste na luta contra o teste do tempo, entre outros fatores, pelo realismo com que se constrói. Neste novo filme, a uma total predominância do artifício. Não há momento algum em que seja possível pensa-lo como um registro real, mas apenas uma série de momentos esquemáticos que levam os personagens do ponto A ao ponto B. O casting e as performances atrapalham ainda mais nessa tentativa de imersão, já que são puramente rostinhos hollywoodianos tradicionais. A baixa qualidade das câmeras de vídeo e a utilização de atores desconhecidos criou um ar de curiosidade ao redor daquelas pessoas envolvidas com o projeto de 99. Aqui, a única curiosidade é de tentar identificar em quais filmes aquelas pessoas já haviam atuado antes, tão genérica é a aparência deles.

Em um certo ponto da projeção, me senti obrigado a imaginar Blair Witch como um filme convencional, ao invés de um found footage, na tentativa de me desvencilhar do incômodo causado pela artificialidade daquilo com que me deparei. Por coincidência, conforme se aproximava do final e o número de personagens diminuía gradativamente, o número de câmeras e pontos de vistas também abaixava proporcionalmente, de forma que as cenas vão se tornando um pouco mais intimistas e envolventes. A reta final marcou algumas outras escolhas que levaram o filme por um caminho completamente diferente e não necessariamente ruim. Ao passo em que conseguia me distanciar um pouco do filme anterior e tentava aproveitar Blair Witch pelo que ele é, a experiência tornou-se mais aproveitável.

Blair Witch (2016)

Os sons da floresta, brilhantemente desenhados, parecem contar uma história diferente do que havíamos visto na série até então. Antes era possível imaginar a bruxa através dos sons e das poucas manifestações sobrenaturais que dela emanavam. Particularmente, sempre a imaginei como uma figura fugaz, esguia, sorrateira, uma espécie de vulto que vagava e flutuava pela floresta, trazendo consigo uma presença infernal. Assistindo ao novo filme, não pude deixar de visualizar mentalmente a bruxa como um demônio musculoso de três metros de altura e pés cascudos, bufando e emitindo sons monstruosos – até mesmo a boa e velha Fumaça Preta de Lost me veio à mente. A escolha por uma maior exposição do mal em detrimento da construção minimalista do medo, tem também seu valor, mesmo que não tão grande. A verdade é que outros filmes utilizaram a mesma resolução misteriosa vista em Projeto Bruxa de Blair, porém poucos com um resultado tão efetivo. Será que havia sentido em fazer um novo filme e repetir exatamente o mesmo final? Revisitar pela terceira vez a floresta e entregar a mesma quantia de informações? Wingard e Barrett assumiram o risco de explorar o tema de uma forma diferente e esse será um dos principais pontos de divergência de opiniões entre os espectadores.

As novas informações introduzidas acerca da bruxa parecem interessantes a princípio, mas, passados dois dias desde que assisti ao filme, diferentes reflexões me fazem pensar que a tentativa de criar uma mitologia em torno da mesma é cheia de furos e inconsistências e o tiro saiu pela culatra, já que ele acaba colocando em cheque vários acontecimentos do filme original. Um exemplo é a ideia de que a floresta ficará imersa em escuridão constantemente. Apenas uma análise com spoilers poderia evidenciar todos esses problemas, mas este não é o caso. Fica a dúvida se essas inconsistências foram uma falha criativa por parte dos criadores, se o estúdio impôs algum tipo de regra específica ou se Barrett optou por passar por cima do que havia sido estabelecido antes para criar uma nova mitologia, em uma espécie de reboot. A verdade é que tanto Wingard quanto Barrett são capazes de fazer melhor, como já mostraram em The Guest (2014) e You’re Next (2011).

Blair Witch

Se o Projeto Bruxa de Blair lançou moda, o novo filme é um resultado da confluência de tudo que foi feito em seguida. Na mistura, percebemos não apenas elementos de A Bruxa de Blair, mas como também o uso de vários recursos de filmagens e pontos de vista diferentes que se assemelham a V/H/S (2012), e uma aproximação grande de filmes como REC (2007), The Troll Hunter (2010), The Borderlands (2013) e até, pasmem, Alien Abduction (2014)!

Com uma montagem pitoresca e confusa que arranca a força qualquer realismo, Bruxa de Blair não convence em momento algum que é um found footage ou o registro real de uma tragédia, além de não acrescentar em nada ao subgênero, exatamente por ser um mosaico de quinze anos de exploração da mesma forma. Apesar disso, é possível se deixar levar pelo final e aproveitar uma experiência até bastante assustadora e divertida, mesmo com todos os seus poréns. Infelizmente, Blair Witch não é assustador o suficiente para elevar o filme ao patamar de outros longas mais marcantes dentro do subgênero. É apenas mais um filme de terror com um certo valor de entretenimento.

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Daniel Rodriguez

Belorizontino, professor de inglês, psicólogo de formação e fã do bizarro, do estranho, do surreal, do sanguinário e do monstruoso!

16 thoughts on “Bruxa de Blair (2016)

  • 20/05/2019 em 12:47
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    Bom, comprei o DVD dese filme meio que ao estilo “gato por lebre”. Não li as letras miúdas, achei que era o primeiro, nem sabia da existência deste terceiro. Enfim comprei.
    Contrariando a maioria das críticas do pessoal, achei um bom filme.
    Não é lá um grande filme de terror, mas dá sim pra se envolver na história e no clima de suspense e claustrofobia.
    Eu esperava um pouco mais do final (tipo um grande susto) o que não aconteceu, mas não me decepcionou.
    Talvez o excesso de câmeras fez o filme parecer artificial, mas condiz com o contexto social-tecnológico atual: muitas câmeras, dispositivos de gravação, streaming, drones, etc. Diferentemente do primeiro, do contexto tecnológico de alguns anos atrás, quando poucos tinham câmeras de mão.
    E que mais uma vez me levou a imaginar como seria um futuro remake da Bruxa de Blair com os equipamentos de gravação futuros de daqui a 20-30 anos?

    P.S.: É um filme que é recomendado assistir com a casa totalmente escura e com o volume alto.

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  • 15/01/2017 em 23:51
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    Esse filme é o famoso picolé de chuchu: Sem graça.

    Não tem a mesma magia e tensão apresentados no primeiro filme e só é mais um found footage com sustos fáceis, personagens artificiais e enredo absurdo.

    Mesmo que o filme não fosse da série da Bruxa de Blair, ainda assim, seria um filme chato e extremamente comum, sem nenhuma novidade.

    Não recomendo.

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  • 22/12/2016 em 02:29
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    Acabei de assisti, sou um enorme fã do primeiro filme e esperei muiiiiiiiiiiiiiiiiito por este! Bem,o filme tem seus furos claro, concordo em dizer que passa de forma rápida demais sem ao menos conhecermos a floresta novamente. Mesmo assim, da metade em diante achei que ficou gostoso de assistir, principalmente quando sobram somente os dois últimos personagens ( pois dariam conta do filme inteiro, n entendi pq tanta gente rsrsrs). A casa da floresta foi muito bem explorada ( todos os cômodos praticamente), muita claustrofobia e aquele finalzinho de encostar na parede e não olhar foi genial!!! Na época do primeiro longa, filmes assim assustavam de forma fácil e hoje não assustam mais, pois me fez pensar, se ele fosse mais brando iria assustar ? Depois de Atividade Paranormal e suas milhares sequências foram culpadas pelo gênero Footage se desgastar, então se esse fosse lançado na época do segundo ( Livros das Sombras) com certeza teria sido melhor! Enfim, gostei, pois achei divertido e melhor que o segundo óbvio!!!!

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  • 17/10/2016 em 02:18
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    Jamais assistam esse filme, a não ser que seu objetivo na vida seja perder tempo com um filme que só tem gente burra e câmeras balançando.

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  • 02/10/2016 em 19:36
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    eu adorei o filme, acho terá mais destaque no DVD e Blu-ray , e atenção SPOILER…..o roteirista Simon Barrett já revelou que a criatura mostrada no filme não é a Bruxa!!!

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  • 02/10/2016 em 12:03
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    O povo nunca está satisfeito e acha que poderia mudar um roteiro ou produção.
    E achei espetacular!
    Um pouco corrido, os mesmos clichês, e não tão bem produzido (ok!),
    mas conseguiu me satisfazer dos 40 minutos em diante…
    Abração

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  • 26/09/2016 em 22:53
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    Olhei hoje no cinema, tinha menos de 10 pessoas na sessão, mas sinceramente, eu esperava mais do filme. O “original e clássico” terei de ver com outros olhos, pois achava ruim. Curto sim o estilo found-footage, mas esse filme, 2 caveiras e é muito…..

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  • 22/09/2016 em 11:13
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    Sabe… Eu só queria ver uma imagem da tal bruxa, mas tão protegendo bem das buscas (apesar dos pesares, ponto para eles).

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    • 02/10/2016 em 19:43
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      atenção para um spoiler………

      a Bruxa não aparece no filme ,mas aparece outra criatura, segundo o próprio roteirista Simon Barrett !! e essa tal criatura já postaram imagens dela no youtube!

      Fim do spoiler!

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  • 21/09/2016 em 21:05
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    Triste saber que nunca mais veremos um filme de terror tão bom quanto o primeiro A Bruxa de Blair. Não digo nem do subgênero found footage, mas sim do estilo horror mais inteligente, com desenvolvimento de personagens, realismo, atmosfera, imaginação etc. características que fizeram o primeiro filme tão bom.

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  • 21/09/2016 em 17:11
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    Tudo nesse filme está errado, pra começar o bando de idiotas vão a floresta sem nem se perguntar se o que eles assistiram no youtube poderia ser real, alias, alguns deles nem assistiram!, segundo, o roteiro deveria mandar alguém mais sério para isso, mas só vemos personagens muito burros e clichês que fazem as coisas mais sem sentido que eu já vi no cinema, e por ultimo, e os sustos são muito forçados, da pra perceber que som foi alterado na edição, você não acredita que aquele som seja natural, toda vez que surge um personagem na tela tem um jump scare com um som ensurdecedor colocado por cima, o que faz perder a credibilidade do falso documentário. Enfim, embora tendo alguns momentos “bons”, como a cena que um personagem quebra o galho de vodu e acontece uma coisa; esse filme foi um desperdício, perderam a oportunidade de fazer um filme tenso em uma floresta assustadora, pra vocês terem a noção, nem o final salva o filme, pois é muito bobo, a unica coisa boa dele é a Callie, que sabe realmente interpretar bem uma pessoa aterrorizada.

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  • 19/09/2016 em 22:06
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    Ok. O filme não é um nenhum Invocação do Mal 2, mas acima da média para um gênero tão explorado. São estilos diferentes, porém gostei mais do que A Bruxa (desculpem os amantes de terror-arte). Resumindo, é um found footage-blockbuster delicioso. Tinha lido algumas críticas negativas, mas felizmente saí do cinema com a satisfação de ter empregado bem meu dinheiro.

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  • 18/09/2016 em 18:21
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    Parabens, adorei a critica. Merecia até menos nota. Eu sou um fã maximo do estilo found footage e entendo pq muitas pessoas não curtem. Mas esse filme é um nojo e desrespeito ao original. Um completo caça niquel pior que o de 2001. Personagens esteriotipados e sem graça, filmagens que não aparentam amadorismo, ir pra outra linha diferente do primeiro… Enfim, são muitos pontos ruins, qualquer outro filme no estilo camera na mão acaba sendo melhor que esse ainda mais por esse ser uma “continuação” do bruxa de blair, deveria ser muito melhor produzido.

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