Aterro Maldito (2019)

3.5
(2)

Aterro Maldito
Original:Pet Graveyard
Ano:2019•País:UK
Direção:Rebecca Matthews
Roteiro:Suzy Spade
Produção:Scott Jeffrey, Rebecca Matthews
Elenco:Rita Siddiqui, Romulus Stoicescu, Claire-Maria Fox, David Cotter, Hattie Willow, Georgina Jane, Andrew Hollingworth, Kate Lush, Heronimo Sehmi

Fui tapeado. O título, a capa com um gato Sphynx e o lançamento próximo à data de estreia da refilmagem de Cemitério Maldito me fizeram acreditar que este seria mais uma picaretagem a la The Asylum, a produtora que alimentou o mercado de vídeo com pérolas como King – O Rei das Selvas (The King of the Lost Worlds, 2005 – em referência ao remake de King Kong), The Day the Earth Stopped (2008 – para lembrar O Dia em que a Terra Parou), O Poderoso Thor (2011), Titanic II (2010), Alien Predator (2018), entre outras bombas, e depois passou a se dedicar às bagaceiras com tubarões (franquia Sharknado, Ataque do Tubarão Mutante…) até desenvolver as séries Z Nation (para copiar The Walking Dead, mas acabou fazendo um inesperado sucesso) e a recém-lançada Black Summer, elogiada por Stephen King. Pet Graveyard foi co-produzida pela Millman e a Proportion Productions, que também deram à luz coisas bisonhas como: The Toybox, Palhaços Infernais…(Millman) e Mummy Reborn, Curse of the Scarecrow…(Proportion).

Por ser atraído por pérolas do gênero, havia uma mínima perspectiva de que esse novo filme fosse tão ruim que pudesse divertir. Se a cara de pau dos realizadores fossem além dessas referências evidentes e apresentasse um cemitério onde as coisas não ficam enterradas, Pet Graveyard entraria para a galeria das picaretagens aceitáveis. No entanto, o que foi visto fere qualquer semelhança com o longa inspirado em Stephen King, estabelecendo uma conexão falha com outro filme do gênero, Linha Mortal (que teve sua sequência-remake recentemente com Além da Morte). Sim, há a apenas o conceito principal (experimento de quase-morte), feito “nas coxas“, sem o menor empenho em assustar ou se tornar assistível para os fãs de bagaceiras.

No prólogo, um casal chega a uma oficina em busca de ajuda. O carro está com problema e eles precisam chegar até algum lugar urgente para terminar algo que começaram. A atendente, May (Hattie Willow), percebe que a situação alarmante e pede ajuda pelo telefone, apenas para testemunhar a mulher se esfaqueando no local. Na verdade, o infernauta já vai saber o que aconteceu com o casal pois o namorado ferido vai acordar no “purgatório” até encontrar um homem de capuz com uma máscara ridícula e ser morto lá e consequentemente cá; o mesmo vai acontecer com a garota.

Na cena seguinte, após a exibição tosca do título, conhecemos os irmãos Lily (Jessica Otoole) e Jeff (David Cotter), que estão brigando pelas escolhas do rapaz. Ele é um youtuber que curte loucuras como a de praticar esportes radicais e realizar rituais que viu na internet. Eles lamentam a morte da mãe, enquanto conversam no ritmo de um novelão trash. Mais tarde, Jeff recebe outras duas pessoas em sua casa, Dinu (Romulus Stoicescu, péssimo ator) e a bela Zara (Rita Siddiqui). Ambos tiveram perdas recentes e descobriram um ritual que permite um reencontro com os entes mortos para uma despedida final. O rapaz pretende filmar o experimento para ganhar seguidores na internet, e pede ajuda à irmã, por ser enfermeira e facilitar o processo.

Vão a um cemitério local, no interior de uma velha capela, com a testemunha do tal gato egípcio, que além de caminhar pelas tumbas, tem o poder de acender os olhos – uau! Que medo! Eles devem recitar algumas palavras mágicas, falar sobre a última lembrança que tiveram com o familiar morto e, por fim, devem morrer por três minutos, sufocados por um saco plástico. O ritual é feito bem toscamente, e o tempo entre a morte e a ressurreição é bem superior ao determinado: ora, ele é feito com os três, um após o outro, e na contagem chega a mais de dez minutos mortos, o que impediria qualquer retorno. Ao morrer, vão para aquele limbo (lê-se: fundo cinza, sem nada mais), e encontram os falecidos para a despedida, mas também a tal figura mascarada (descrita por Zara como um monstro, uma criatura não-humana…hahaha)

Após voltar da experiência, eles são assombrados pelos entes mortos e pelo homem mascarado até o momento em que voltarão para o limbo para enfim morrer. As sequências que envolvem os assombros são das mais mal filmadas do gênero, com destaque para a cena do banho. Depois de ser “aterrorizada” pelo “monstro“, Zara pede para dormir na casa de Jeff e Lily, embora tenha conhecido os dois no dia anterior. Mais tarde, ela acorda e resolver tomar banho (!!!) na casa dos novos amigos, apenas como justificativa para mostrar sutilmente seu corpo. O problema é que o ente querido que a está aterrorizando é um menino, o que torna o momento constrangedor pelo fato dela estar nua. E ainda para tornar tudo mais insuportável há o acréscimo de uma distorção na risada do garoto-fantasma para parecer algo demoníaco.

Se o roteiro de Suzy Spade é ruim em todos os sentidos – depois inventa um crânio capaz de matar o demônio, mas necessita que seja feito no limbo (embora não tenha nada no local, uma das assombrações aparece segurando o item); os irmãos marcam um encontro com Dinu no cemitério para contar que certa pessoa morreu ao invés de fazê-lo pelo telefone -, a direção de Rebecca Matthews também não ajuda. Na cena em que Zara está ferida, a câmera não consegue enquadrar a garota mexendo no celular para pedir ajuda. Isso sem contar as cenas em que aparece o gato, totalmente deslocadas e sem objetivo, ou as inúmeras machadadas recebidas por um personagem, que ainda sobrevive ao ato.

Um desperdício de tempo e criatividade, Pet Graveyard é chato, irritante e mal feito. Nem valeria uma resenha aqui no Boca do Inferno, mas serve como esquenta para a refilmagem de Cemitério Maldito. Coisas como esta deveriam estar enterradas, mas não em um cemitério indígena para evitar que retornem para nos assombrar pelo resto da vida.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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