Censor
Original:Censor
Ano:2021•País:UK Direção:Prano Bailey-Bond Roteiro:Prano Bailey-Bond, Anthony Fletcher Produção:Helen Jones Elenco:Niamh Algar, Michael Smiley, Nicholas Burns, Vincent Franklin, Sophia La Porta, Adrian Schiller, Clare Holman, Andrew Havill |
Pode-se dizer que a história do gênero é pavimentada por tendências, exploitation e censura. Este último foi o que abrandou o horror nas décadas de 80 e 90 – o surgimento do terrir e de vilões engraçadinhos está diretamente relacionado ao medo de seus realizadores de não verem seus filmes nas telas grandes em sua totalidade, uma vez que o final da década de 60 e o cinema de horror dos anos 70 foram responsáveis por clássicos grotescos extremamente mutilados pela censura. Ou você acha que seria possível existir um Aniversário Macabro e Quadrilha de Sádicos na segunda metade dos anos 80? Wes Craven desistiu dos exageros para pagar as contas, justificando a existência do péssimo Quadrilha de Sádicos 2 e o nascimento do onírico Freddy Krueger. Órgãos como a British Board of Film Censors ou BBFC e a famigerada lista dos video nasties passaram a tesoura no gênero, seja para cortar cenas sangrentas ou para sumir com obras obscuras, responsabilizando o cinema de horror pela violência que poderia destruir a essência familiar. Com esse medo – o tal “pânico satânico” dos anos 80 – assombrando realizadores no pano de fundo, fica muito mais interessante acompanhar o peculiar Censor, de Magnet Releasing.
Ambientado exatamente nesse período, o longa é protagonizado por Enid Baines (Niamh Algar), que trabalha no órgão de censura com a obrigação de classificar e até impedir o lançamento de produções violentas. Basicamente, compete a ela e mais alguns de sua equipe o recebimento, conferência e análise do que será lançado em VHS na Grã-Bretanha para evitar traumas e episódios como o que quase acabou com sua vida profissional: ao liberar um filme de terror onde um homem devorava o rosto de uma mulher, ela foi responsabilizada por uma influência real, envolvendo um marido que fizera o mesmo com a esposa. Temendo um novo apontamento da imprensa, ela passou a ser mais rígida e ter mais atenção ao que observa na tela, numa fixação que lhe poderá afetar sua vida pessoal.
Além disso, sua obsessão estabelece uma relação direta com um trauma de muitos anos: ao entrar em uma floresta com sua irmã de sete anos Nina (Amelie Child Villiers), ela retornara do passeio sozinha, sem se lembrar do que aconteceu. Seus pais já não mais acreditam que a garota possa estar viva, mas ela ainda mantém a esperança de seu retorno, assim que consiga reestruturar os cortes que fizera em suas próprias lembranças. O problema é que recebe um novo filme de terror, dirigido por Frederick North (Adrian Schiller), já censurado com outras obras pela companhia, sobre duas jovens que entram em uma floresta e tem um encontro com um homem gigante e um machado.
Essa produção, talvez inspirada em um acontecimento real, começa a perturbá-la de tal modo que ela passa a acreditar que a atriz Alice Lee (Sophia La Porta) possa ser sua irmã desaparecida. Teria o diretor sequestrado ou encontrado Nina na época e a mantido como parte de sua equipe, uma vez que o filme é basicamente uma releitura do que ela vivera? Enid irá adentrar esse submundo do gênero amador, das obras violentas e posteriormente censuradas, para entender o que aconteceu, sendo capaz de um resgate de seu passado oculto para descobrir o que sua mente foi capaz de censurar.
É interessante pensar que, do mesmo modo que a censura atrapalhou diversos cineastas por impedir o lançamento de seus filmes, ela também ajudou na divulgação deles, tanto que muitas obras colocavam selos de censura em diversos países (vide Faces da Morte mencionado no longa) como maneira de atrair curiosos – algo como fizeram antigamente os cineastas com os movie gimmicks. Se a obra passava sem cortes ou classificação, corria o risco de ela nem chamar a atenção. Nota-se essa ideia no distribuidor dos filmes de North que não parece incomodado por entregar mais uma produção para a avaliação do órgão censor. E são detalhes assim, e a própria menção a produções como A Vingança de Jennifer, que tornam a experiência de conferir Censor mais curiosa e agradável.
Com um ritmo narrativo mais lento, preenchido com alucinações hipnóticas e um medo sugestivo, Censor se constrói muito mais pela atmosfera e contexto do que propriamente pelo sangue e violência. É um terror psicológico que se sai bem pela ambientação muito bem desenvolvida – em todos os detalhes, como roupas, vestuário, cenários e passeios de trem -, na atuação espetacular de Niamh Algar (da série Raised by Wolves) e principalmente nas referências ao cinema sangrento da época. Traz mensagens importantes sobre o assédio sofrido pelas mulheres nos anos 80 – em cenas onde Enid é vista sob o olhar atento de colegas, na oferta de bebidas ou no encontro com o distribuidor – e como o cinema de gênero era analisado pelos inquisidores.
Sucesso no Festival de Sundance (2021), Censor foi colocado no mesmo patamar que obras como Hereditário ainda que não traga o mesmo teor assustador e muito menos um final apocalíptico. Contudo, existe ali um encerramento contundente, visto sob duas lentes, como se o olhar da censura já tenha se sobressaído à realidade. Uma ideia funcional, necessária e absolutamente criativa para que o público possa absorver de acordo com o seu ponto de vista. Magnífico!
Tem um clima meio tenso, interessante reconstrução de época, clima investigativo lembrou até um pouco 8mm e hardcore. Mas fecha tudo com chave de fenda.
Eu detestei o filme, chato e parado! Gosto é igual “Ass” cada um tem o seu !