A Casa Sombria
Original:The Night House
Ano:2020•País:UK, EUA Direção:David Bruckner Roteiro:Ben Collins, Luke Piotrowski Produção:David S. Goyer, Keith Levine, John Zois Elenco:Rebecca Hall, Sarah Goldberg, Vondie Curtis-Hall, Evan Jonigkeit, Stacy Martin, David Abeles, Christina Jackson, Patrick Klein, Crystal Swann, Laura Austin |
Fala-se muito atualmente sobre a refilmagem de Hellraiser, a cargo de David Bruckner, que já disse em algumas ocasiões que está buscando uma sintonia com o filme original, além de um espelho à obra de Clive Barker. Vale a pena então avaliar o camiho percorrido pelo cineasta até então, além de uma análise sobre seu filme que está discretamente em exibição nos cinemas brasileiros. Seu primeiro filme, O Sinal (The Signal, 2007), foi um excelente cartão de visitas de sua futura trajetória ao apresentar um enredo violento sobre uma transmissão que transforma as pessoas em seres violentamente insanos. Depois o cineasta participaria de dois segmentos, um pela antologia V/H/S (2012) e outro pelo ótimo Southbound (2015). Antes de voltar aos episódios com a série Creepshow, ele fez o terror na floresta O Ritual, envolvendo uma lerda nórdica e a luta pela sobrevivência de um grupo de amigos. Seu filme seguinte é exatamente A Casa Sombria.
Trata-se de mais uma produção sobre assombrações que perturbam os residentes, que tentam se reerguer após uma tragédia. Mas não é bem assim, lembre-se, Bruckner está na cadeira de diretor. A professora Beth (Rebecca Hall) acaba de perder o marido, Owen (Evan Jonigkeit), vítima de suicídio. Entregando-se à bebida intensamente, no reflexo de sua já permanente depressão, ela passa a ser aterrorizada por pesadelos bastante reais, além de situações incômodas em sua morada, como o aparelho de som que é ativado durante a madrugada, pegadas úmidas e vozes que parecem não ser oriundas de sua mente traumatizada. Descrente sobre a existência do sobrenatural, ainda mais após uma experiência de quase-morte, ela busca apoio dos amigos, principalmente de Claire (Sarah Goldberg) e do caseiro Mel (Vondie Curtis-Hall).
O que parecia ser a velha história de um fantasma saudoso torna-se algo mais profundo quando ela encontra outras assombrações envolvendo mulheres que rondam sua casa e descobre a foto de uma parecida com ela no celular de Owen. Será que ele a estava traindo? O que ele quis dizer em sua nota de despedida? E por que ele andava pesquisando sobre a construção de labirintos gregos? Como é de se imaginar – e justifica a observação na filmografia de Bruckner -, não se deve construir uma narrativa óbvia. O roteiro de Ben Collins e Luke Piotrowski (de Sereia Predadora, Tempos Obscuros e do novo Hellraiser) até permite que o espectador se sinta como um visitante de uma casa conhecida, com os clichês que trazem pesadelos e uma protagonista beberrona, mas nem todos os cômodos são assim tão familiares.
Depois que se entende a proposta, A Casa Sombria cresce exponencialmente em seu conceito, ainda que permita estabelecer comparações com outras produções conhecidas, e o ato final possa decepcionar um pouco. Também impede uma avaliação absoluta a insistência de Bruckner em desnecessários jumpscares – se você assistir em um cinema pouco comedido de tecnologia sonora, pode ser que você se incomode -,com a trilha explodindo os tímpanos após cada cena de suspense. Por outro lado, a câmera que revela a ameaça obscura faz um trabalho fantástico de perspectiva, a partir da movimentação de Beth, assim como todo o trabalho técnico e pelo modo como as informações são apresentadas gradualmente.
Com uma excelente atuação de uma amargurada Rebecca Hall (de Godzilla Vs Kong, O Presente e O Despertar), A Casa Sombria merecia um destaque maior nos cinemas brasileiros, como outras produções do gênero. Espera-se que o longa encontre logo um bom endereço em um sistema de streaming para que o público possa visitá-lo, enquanto imagina como serão os cenobitas na composição de Bruckner.
[com spoiler] … As produções anteriores do David Bruckner deixam o expectador curioso e esperançoso por uma produção diferenciada no gênero. Concordo com a ”perda de pontos” ocasionada pelos jumpscares (que nos momentos achei desleal) e a resolução final (Que me pareceu preguiça dos roteiristas ou que eles realmente se convenceram de que o material final estava 100% bom). Desde o principio da pra ”sacar” que a motivação do Owen era amor por Beth e redenção, evidenciado pelo seu auto-sacrificio (confundindo o expectador com ”suicidio”). O encontro ”palpável” de Beth com a entidade me lembrou muito o filme/livro ”A entidade” (The entity – 1982)… por um momento achei que haveria um Supernatural Violation (sugestão para nome de banda de Gore Metal, imagina a capa), mas faltou culh*es pra isto. Palmas para a ambientação em tons cinza e as sombras sempre presentes, palmas pra uma Beth antipática pelo luto e afogada em conhaque. E palmas pras cenas lúdicas dos sonhos de Beth. Ela não se mata, então a entidade estará sempre ali à sua espera? (3,5/5 estrelas, concordo)
Obs: Se ela puxasse o gatilho, ofuscaria qualquer erro de execução e entraria fácil para as listas de melhores filmes do gênero. Discordem, please.
[com spoilers] Não diria “lista dos melhores do gênero”, mas teria uma avaliação realmente melhor. Achei que o filme terminou sem final, não apresentou uma conclusão nem mesmo pessimista e muito menos resolveu o problema.
Abs
[com spoilers] Milici… o que você achou de algumas interpretações da galera afirmando que a entidade seria uma projeção dela para lidar com a simples realidade de o marido dela ser um serial killer que matava mulheres parecidas com ela, tentando suprimir uma vontade de mata-la ? (kkk – em algum momento a amiga de Beth afirma ”Todo mundo tem um segredo”, e ela se mostra cética com isto aplicado ao marido dela – afinal, seria negação, um dos primeiros sinais do luto.) Algumas coisas não batem mas não seria uma resolução melhor?
[com spoilers] Quando vi o filme, imaginei que pudesse para o trivial, envolvendo o marido como um assassino em série que mata mulheres parecidas com a esposa. Mas me surpreendi positivamente pelo conceito sobrenatural, ainda que tenha deixado o final aberto. Acredito que uma ideia simbólica como essa poderia trazer mais valor à obra, mesmo que voltasse à ideia trivial, e traria com certeza uma resolução melhor. Boa contribuição!