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Mistério no Lago
Original:Beneath Still Waters
Ano:2005•País:Espanha, UK
Direção: Brian Yuzna
Roteiro:Mike Hostench, Ángel Sala, Matthew Costello
Produção:Julio Fernández, Brian Yuzna
Elenco:Omar Muñoz, Santiago Pasaglia, Charlotte Salt, Michael McKell, Raquel Meroño, Ricardo Birnbaum, Josep Maria Pou, Pilar Soto, Manuel Manquiña, Diana Peñalver, Ricard Borràs

Entre os anos 80 até o começo do novo milênio, Brian Yuzna fazia parte de uma trinca produtiva ao lado de Stuart Gordon e inspirado em H.P.Lovecraft. Dessa parceria vieram obras importantes para a construção do gênero, como ReAnimator – A Hora do Mortos Vivos (1985), Do Além (1986) e Dagon (2001) – com a exceção de Herança Maldita (1995), que. embora baseado em um conto do escritor e ter a direção de Gordon, não houve o envolvimento de Yuzna. Com o nome associado ao horror, o cineasta filipino-americano também se arriscou na direção, tendo alguns bons acertos em sua fase mais criativa: A Sociedade dos Amigos do Diabo (1989), A Noiva do Re-Animator (1990), A Volta dos Mortos Vivos 3 (1993) e Progeny – O Intruso (1998), além de um segmento da antologia Necronomicon – O Livro Proibido dos Mortos (1993). Com a chegada dos anos 2000, Yuzna passou a errar mais, no comando de Faust – O Pesadelo Eterno (2000), o desnecessário Re-Animator: Fase Terminal (2003) e os horrendos Rottweiler (2004) e Anfíbio: A Criatura das Profundezas (2010). No entanto, nessa série de trabalhos irregulares, ele dirigiu o terror Mistério no Lago (Beneath Still Waters, 2005). Será que foi um suspiro saudoso de seus bons momentos?

Infelizmente, faltou muito oxigênio para chegar a um suspiro. Com falhas nos efeitos visuais entre outros aspectos técnicos como a fotografia e a a direção, sem falar na escolha de um elenco canastrão, o que sobra de positivo em Mistério no Lago é o enredo até interessante e os efeitos especiais práticos, herdados de uma época que dava gosto de assistir a filmes de terror. Assim, esta produção chega a relembrar os bons momentos da carreira de Yuzna como diretor, principalmente pelo que fez em A Sociedade dos Amigos do Diabo, mas ficaram faltando alguns acertos para torná-la recomendável. Ainda assim, é a melhor opção de sua carreira, pós virada do milênio, para os fãs do cinema B, com gore, sangue em profusão, zumbis, ocultismo e uma entidade demoníaca.

Inspirado no romance de Matthew Costello, o longa começa em 1965 no norte da Espanha, no entorno da cidade de Desbaria. Em vias de ativação de uma represa, que irá inundar o vilarejo de Marienbad, dois garotos – Luis (Omar Muñoz, de A Hora Negra, 2006) e Teo (Santiago Pasaglia) – vão ao local destruir vidraças e xeretar. Ao ouvirem vozes na igreja local, repleta de símbolos satânicos, quadros e velas vermelhas, descobrem no porão um homem amordaçado e três outras pessoas presas em um círculo. Teo resolve soltar o estranho sem saber que se trata de Mordecai Salas (Patrick Gordon), o líder de um culto demoníaco, seguidor do famoso ocultista Aleister Crowley, e que trouxe desgraça à região, o que impulsionou o prefeito Roberto Borgia (Antonio Portillo) a alagar a região. Solto, Salas arregaça a boca de Teo, e faz seu pronunciamento de vilão, como um alerta de seu retorno.

Quarenta anos depois, aterrorizada por pesadelos constantes envolvendo o avô – o tal prefeito -, Clara (Charlotte Salt, de A Lenda de Beowulf, 2007) está com a amiga Suzana (Pilar Soto) curtindo o sol e o lago, quando são surpreendidas pelo amigo Antonio (Damià Plensa). Este sofre uma morte estranha ao se ver preso a um lodo de algas escuras, o que atrai a atenção de curiosos e jornalistas para o local, ainda mais pela proximidade das festividades do aniversário de 40 anos da represa. É nesse grupo que está a repórter Teresa (Raquel Meroño, de Dagon, 2001), mãe de Clara,  e o jornalista mergulhador Dan Quarry (Michael McKell), também com a intenção de cobrir a data especial. Sua exploração à cidade submersa o deixa assustado pelas rachaduras da represa, o que pode trazer uma nova inundação, além de uma iluminação artificial não explicada.

Ele se une à repórter para investigar o que acontece, depois que sua câmera é apreendida e se nota que o prefeito (Ricard Borràs) está apenas preocupado com a comemoração, e vão ao encontro do responsável pelos cuidados da represa, Julio Gambine (Josep Maria Pou), que parece saber mais do que revela e será a próxima vítima da cidade maldita ao ser atacado por um zumbi, muito bem caracterizado. Mergulhadores tentarão encontrar o corpo de Antonio, mas um deles acabará vítima do lodo, além de encontrarem a cabeça de Julio. Enquanto isso, Clara, ainda aterrorizada por pesadelos cada vez mais reais – em um deles o avô diz que “ele está chegando” e ela deve resistir – irá trabalhar como babá, na mesma noite da festa e do encontro de Teresa e Dan com Luis (Manuel Manquiña), agora crescido mais ainda mantendo sua espadinha de combate pirata.

É com ele que a mitologia da trama será revelada: Salas reapareceu em Marienbad com um livro de ocultismo, escrito a sangue, para fins de ampliar seu exército de seguidores, até ser interrompido pelo prefeito Roberto. Mesmo liberto pelo garoto Teo, ele teve que esperar a morte de seu inimigo para finalmente encontrar a liberdade e poder espalhar novamente a perversidade. Por alguma razão que o roteiro de Mike Hostench e Ángel Sala não explica, ele quer Clara – seria apenas uma vingança? Também não há explicação para o garoto Luis ter sobrevivido no começo do filme – ora, poderia ter revelado às autoridades, incluindo o próprio prefeito, até porque o corpo de Teo não fora encontrado – e nem Dan e Teresa, depois que encontram Salas na estrada.

O último ato de Mistério no Lago traz Clara nos domínios de Salas, Dan mergulhando para cumprir algo que entendeu em latim da última fala de Roberto, e a festa na cidade, transformando-se em um palco de orgias e atos insanos, remetendo levemente ao final do filme A Sociedade dos Amigos do Diabo. Zumbis putrefatos irão aparecer para dificultar os confrontos, como o reencontro de Antonio com Suzana (sequência gratuita de exposição do corpo da moça), e até mesmo o fantasma do filho falecido de Dan.

Se o argumento até que rende uma trama apocalíptica com sequências grotescas – isso se você se esquivar dos furos e dos excessos de clichês -, a realização em si compromete o resultado. Cenas de chroma key com fundo evidentemente artificial, assim como as atuações ruins de alguns personagens (o garoto Teo do começo do filme é pavoroso; e o vilão Salas é extremamente caricato), diminuem a força narrativa e relembram o infernauta que se trata de um filme que abraça o trash. Um cuidado maior na pós-produção, e escolha mais adequadas, e o filme poderia se destacar positivamente na filmografia de Brian Yuzna. Contudo, resultou em mais um trabalho fraco, risível e mal realizado.

Exibido em alguns festivais em 2005, Mistério no Lago teve uma estreia limitada nos cinemas espanhóis e alcançou as mídias digitais nos anos seguintes. É um longa que reforçou a tendência à queda de um diretor que sabia o caminho mas optou por não segui-lo.

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