Cabana do Inferno 2
Original:Cabin Fever 2: Spring Fever
Ano:2009•País:EUA Direção:Ti West Roteiro:Ti West, Randy Pearlstein, Joshua Malkin Produção:Patrick Durham, Lauren Moews, Jonathan Sachar Elenco:Rider Strong, Noah Segan, Alexi Wasser, Rusty Kelley,, Marc Senter, Giuseppe Andrews, Mark Borchardt, Michael Bowen, Judah Friedlander, Larry Fessenden |
Quando se conhece a trajetória cinematográfica do diretor Ti West, fica difícil imaginá-lo no comando de Cabana do Inferno 2. Mais conhecido como um cineasta de enredos trabalhados em narrativas lentas, West não parece ter a mão de quem mergulhou uma obra em sangue, com sequências gráficas de vômitos e violência desmedida. Talvez pudesse pensar que se trata de um produto de início de carreira – uma consideração justificável -, porém, ao mesmo tempo em que dirigiu a continuação de um dos melhores produtos de Eli Roth, West desenvolveu o interessante A Casa do Diabo, que possui a assinatura característica de outros trabalhos seus, como Hotel da Morte, e até do recente X. Poderia se explicar pelo trato dado pelos produtores de Cabana do Inferno 2, que editaram e refizeram tantas cenas do filme que levaram Ti West a pedir que seu nome fosse tirado dos créditos e substituído pelo tradicional Alan Smithee (nome usado por realizadores da Sétima Arte que não querem assumir suas películas), mas foi impedido por ele não pertencer ao Directors Guild of America.
Na verdade, não se é possível imaginar como seria Cabana do Inferno 2 na versão concebida por Ti West. Não teria como encobrir as nojeiras e bobagens vistas na tela, sem refazer o filme inteiro. Desse modo, é melhor imaginar que o diretor havia feito com tal esmero A Casa do Diabo, que ele mesmo não entendera o que o levou a realizar Cabana do Inferno 2. Provavelmente as primeiras exibições foram tão negativas que ele temera que seu outro trabalho pudesse ser desmerecido. Isto posto, não quer dizer que essa continuação seja extremamente ruim, mas parece ter sido feita por um Ti West embriagado, ou que tentara espelhar o máximo possível o longa de Eli Roth até no espírito sem pudor e descerebrado.
Começando exatamente onde o anterior terminou, Paul (Rider Strong) acorda desfigurando no rio onde fora visto no final de Cabana do Inferno, e caminha trôpego pela floresta até cruzar a estrada e ser atropelado por um ônibus da escola Springfield. O motorista é tranquilizado pelo policial Winston Olsen (Giuseppe Andrews, também do primeiro filme), que o informa que ele atropelara um cervo. Quando o motorista parte em direção à escola, Winston encontra um pé pendurado próximo ao local e percebe que a vítima na verdade era um homem, no momento em que um caminhão de uma empresa de águas em garrafa passa atrás dele, dando indícios que a contaminação se espalhará pela cidade. Em um efeito de animação bem interessante, todo o processo de produção das garrafas é mostrado, incluindo a mistura com o sangue contaminado do rio, a coleta e o transporte até a escola.
Várias pessoas são vistas consumindo a água, como a jovem Cassie (Alexi Wasser), que é o interesse do veterano John (Noah Segan), ainda indeciso quanto a ir ou não ao Baile de Formatura. Seu amigo Alex (Rusty Kelley) pensa em convidar Liz (Regan Deal), e terá uma oportunidade ao encontrá-la chorando em uma sala por ter levado um fora. Com a boca cheia de brotoejas – que a câmera faz questão de dar um close -, ela faz sexo oral nele no banheiro escolar, transmitindo a doença mortal (entre outras enfermidades, possivelmente). Como no anterior, a mensagem sobre doenças venéreas volta a ter importância principalmente mais à frente, ao mostrar a jovem dançando na boate com os seios cheios de caroços, e os homens presentes nem sem importando com o que estão vendo.
Depois que uma sequência em referência a Alien, o Oitavo Passageiro acontece, com o motorista da empresa de águas Bill (participação do veterano Larry Fessenden, amigo do diretor) em um restaurante tendo o peito rasgado e o sangue jorrando pelo corpo, Winston, que era um policial caipira festeiro no primeiro, vai até a estação de água para informar sobre o contágio da água, apenas para testemunhar a morte do responsável por um grupo de soldados da CCD (Divisão de Controle de Contaminação). O baile acontece, com vários outros episódios escatológicos, como o do motorista do ônibus que resolve se vingar dos jovens urinando sangue no ponche; da garota que morre na piscina após um sexo sangrento; e da manifestação dos sintomas em Alex. Quando a noite avança, a doença se torna incontrolável, com casais vomitando uns sobre os outros e sequências de violência, como o do rapaz que tem a cabeça esmagada por um extintor. Referenciando Exército de Extermínio, os soldados se mostram tão ameaçadores quanto a doença, fechando as saídas da escola, obrigando John e Cassie a buscar meios de fugir dali, tanto da ofensiva militar quanto dos infectados.
Assim, Cabana do Inferno 2 desiste do tom claustrofóbico de uma cabana isolada na floresta para desenvolver uma produção apocalíptica, que mistura humor ultrajante com algumas doses de violência, sem poupar o espectador de cenas grotescas. Poderia ser um pouco mais splatter e deixar de lado as piadinhas sem graça, partindo para um survivor movie em um ambiente escolar em quarentena, até porque o elenco se porta bem e a trilha sonora agrada. Ao final desiste de dar a Winston uma redenção pelas suas ações no primeiro filme para mostrá-lo mais uma vez incauto e irresponsável, talvez para deixar um gancho para uma possível continuação.
Como boa parte do contágio acontece durante o baile, o roteiro de Joshua Malkin, a partir do argumento de Randy Pearlstein (do primeiro) e do próprio Ti West, acelera os sintomas para que o sangue possa verter mais rapidamente através dos contaminados. Um trato mais adequado e um tom apocalíptico poderiam dar a Cabana do Inferno 2 uma aparência mais interessante, até porque havia um bom material em mãos, como posteriormente seria feito com o longa Vírus (Carriers, 2009). Apesar de não conseguir se aproximar do original, o filme não merece a rejeição de West, até porque, independente do que ele esperava, ainda assim é a criação de um diretor que ainda não desenvolvera um estilo característico.