4.3
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O Tira do Futuro 4: Mutantes da Idade Média / Fome de Sangue
Original:Trancers 4: Jack of Swords
Ano:1994•País:EUA, Romênia
Direção:David Nutter
Roteiro:Peter David
Produção:Michael Catalano, Oana Paunescu, Vlad Paunescu
Elenco:Tim Thomerson, Stacie Randall, Ty Miller, Terri Ivens, Mark Arnold, Clabe Hartley, Alan Oppenheimer, Lochlyn Munro, Jeff Moldovan, Stephen Macht, Ion Haiduc

Esta quarta parte da franquia Trancers é uma das coisas mais absurdas que você um dia poderia se interessar em ver. A começar pelo título nacional: o longa teve exibições na TV brasileira como O Tira do Futuro 4: Mutantes da Idade Média – embora não existam mutantes e nem se passe na Idade Média – e até Fome de Sangue. Com isso a franquia se torna uma das mais difíceis de catalogar por aqui, batendo de frente com Wrong Turn e Puppet Master. O primeiro, lançado em 1984, recebeu o título Trancers – O Tira do Futuro. O segundo, de 1991, ignorou que se trata de uma continuação e veio com o simples O Tira do Futuro, seguido pelo terceiro, Trancers: A Luta pela Sobrevivência. E ainda viriam mais dois filmes, A Volta para Casa (1994) e o inédito por aqui Trancers 6, de 2002. Isso sem contar a “parte 2 oficial“, um curta-metragem, de 1988, chamado Trancers: City of Lost Angels, que compôs a antologia Pulse Pounders, perdida durante a falência da Empire, e recuperada posteriormente.

Contudo, você poderia questionar aos ventos: existe argumento para tantos filmes? Não necessariamente, mas você conhece o cinema bagaceira de produtoras como a Full Moon, que explora um conceito ao extremo, realizando cinesséries tão necessárias quanto um ar condicionado na Antártida. A “inspiração” (leia picaretagem disfarçada) para os dois primeiros filmes foram O Exterminador do Futuro e Blade Runner, ao apresentar o personagem Jack Deth (Tim Thomerson) como um caçador de “trancers“, pessoas controladas como zumbis a serviço de um mestre, e que retorna ao passado, em 1984, ficando por lá até 1991, para impedir que aqueles que terão descendentes importantes sejam mortos e não nasçam para uma revolução no futuro. Trancers 3 saltou de 1992, quando o herói se separou de Lena (Helen Hunt), para viajar a 2005, com a intenção de impedir o desenvolvimento de um exército de trancers, e que vencerão uma guerra dois séculos depois.

Na última cena do primeiro filme, Jack, que sonhava com uma aposentadoria, é determinado oficialmente a ser um viajante do tempo, explorando épocas para impedir problemas no futuro. E é aí que o quarto filme começa. Após retornar de mais uma viagem, trazendo a cabeça de seu parceiro Shark, um mandroide que o auxiliou no anterior, ele descobre que sua esposa Alice Stillwell (Megan Ward) está se relacionando com o membro do conselho Harris (Stephen Macht) – ambos estiveram em Amityville 6, interpretando curiosamente pai e filha. Jack conhece Lyra (Stacie Randall), substituindo Raines como a que apresenta armas para ele usar em suas viagens – à la 007 -, e tenta uma aproximação ao seu estilo machão, sem sucesso.

Ele é incutido de mais uma missão simples, mas quando adentra na máquina do tempo, a tal TCL, não percebe que há um Solonoid a bordo, uma criatura que parece um inseto gigante e que remete aos vilões do Changeman. A luta entre os dois afeta o mecanismo, levando Jack a uma outra dimensão, no reino Orpheu. Como os recursos para a ambientação de uma Idade Média não eram suficientes, fizeram uma mescla, envolvendo castelo, espadas, cavalos e armaduras. As filmagens aconteceram na Romênia, onde a Full Moon mantinha um escritório para driblar problemas fiscais e filmou outras produções, como a franquia Subspecies, e onde Charles Band possuía um castelo. Nesse outro mundo, Jack salva uma jovem de ser morta pelo nobre Borgia (Adrian Pintea), e o mata, já percebendo que a ameaça ali não são os trancers – apesar de usarem o termo -, mas vampiros.

Os nobres teriam chegado à região, e ocupado o reino, sob a liderança de Caliban (Clabe Hartley), com o apoio de Lucius (Mark Arnold) e outros nobres. O vilão planeja fazer com que seu filho Próspero (Ty Miller) renasça para a condição vampírica e possa ajudá-lo a liderar, necessitando que ele se alimente da “força vital” (não dizem “sangue” exatamente) de uma humana. Os que resistem aos domínios de Caliban são chamados de “ratos das cavernas“, enquanto aguardam a chegada de um “prometido“, nas previsões do feiticeiro Farr (Alan Oppenheimer), aquele que irá conduzir os rebeldes a um confronto final. Sim, como se nota, a estrutura de Trancers 4 é similar a Army of Darkness, de Sam Raimi, substituindo Ash por Jack.

Mais uma vez com suas frases de impacto (“Acho que não estamos mais no Kansas“), Jack precisa confrontar os inimigos, ao passo que, como sempre, envolve-se com alguma mulher bonita. Stacie Randall, em duplo papel, é a escolhida, agindo exatamente no oposto de sua outra personagem, oferecendo-se aos prazeres do herói. Ao invés de simplesmente matá-lo, Caliban planeja usar Jack para encontrar um meio de atravessar dimensões para estender seus domínios. Assim, ele mais uma vez é mantido como prisioneiro e novamente ajudado por uma mulher, contando com os rebeldes e até mesmo Próspero, que não se interessa em atacar humanos, tendo uma situação mal resolvida com Shaleen (Terri Ivens), que perdeu o noivo para os vampiros.

Trancers 4 é um outro filme, fingindo ser parte da franquia. Apresenta uma nova dimensão, embora as pessoas ali falem inglês e tenham atitudes similares, e tenta mudar o foco dos combates urbanos para os bucólicos, trocando armas de fogo por espadas. Não funciona muito bem. Mesmo para um filme curto, de apenas 74 minutos, o roteiro, de Peter David e Paul De Meo, parece não saber para onde ir. Traz facilitações como o dos vampiros irem ao encontro de Jack, sem que ele precise invadir o castelo, e situações que não se justificam. Há alguns momentos engraçados, como aquele em que Jack tenta usar o relógio que atrasa o tempo em 10 segundos, e somente ele é afetado, tentando acertar golpes nos inimigos em câmera lenta.

Filmado concomitante com a parte 5, também com direção de David Nutter, Trancers 4 realmente nem apresenta um fim, sendo o momento mais fraco de uma série que já não é lá essas coisas. Preso nessa Idade Média alternativa com “mutantes-vampiros“, Jack precisa de muito esforço dos roteiristas para não matar o espectador de tédio.

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