4.6
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A Pequena Caixa de Gwendy
Original:Gwendy’s Button Box
Ano:2018•País:EUA
Autor:Stephen King, Richard Chizmar•Editora: Suma

Imagine ter todo o poder do mundo nas mãos. Literalmente. Extinguir lugares e até mesmo pessoas, tornar-se a pessoa mais inteligente, ter uma vida perfeita, enfim, tudo que sempre quis, ao alcance de apenas um botão. Não é tão simples e maravilhoso quanto parece e, nas mãos de Stephen King, sempre há algo um pouco mais sombrio por trás de uma narrativa aparentemente inocente.

Surgindo na mente de King e tomando forma graças a sua parceria com Richard Chizmar, A Pequena Caixa de Gwendy é um livro que pode te surpreender.

Gwendy Peterson é uma garotinha de apenas doze anos que vive em Castle Rock. Durante suas férias de verão, decide subir todos os dias a chamada Escadaria Suicida, focada em emagrecer e se livrar do odioso apelido que ganhou na escola. Em uma de suas empreitadas, um curioso homem vestido todo de preto, inclusive seu chapéu, chama a garota para uma conversa. Gwendy educadamente recusa, afinal, é um estranho. Entretanto, o homem acaba sendo tão cordial e simpático que, aos poucos, a jovem se vê conversando com ele descontraidamente. Richard Farris, não mais um estranho tão desconhecido assim, dá a ela uma pequena caixa de presente, explicando que é um objeto mágico. Girando uma pequena alavanca, todos os dias sairá um – e não mais do que isso – pequeno chocolate em formato de animal de uma gavetinha que será o suficiente para saciar a fome. Já acionando a alavanca oposta, saíra uma reluzente moeda de prata. Tudo parece muito bom e agradável, até o senhor Farris explicar que os botões são a grande responsabilidade, e que Gwendy deve tomar muito cuidado. Cada botão colorido representa um continente, o vermelho realiza seus desejos e o preto… é o mais perigoso de todos. Explicado isso, Farris deixa uma perplexa e fascinada Gwendy para trás. Agora, é sua missão tomar conta da caixa com todas as suas forças, não deixando cair em mãos erradas, e isso mudará sua vida das mais diversas formas.

Leitores de Stephen King reconhecerão diversos elementos típicos de suas narrativas aqui: Castle Rock, crianças envolvidas em algo misterioso, a inocência que acaba revelando tons sombrios, a tartaruga, entre outros. Enquanto King traz uma pitada de terror e acontecimentos nebulosos e ambíguos, seu coautor, Richard Chizman, contribui com a fantasia e as reações da personagem frente aos causos da vida. É bem claro quais ideias partiram de cada autor, ainda que a narrativa seja uma só e funcione muito bem como uma voz única. Apesar das semelhanças já apontadas, não temos o desenvolvimento minucioso de personagens coadjuvantes e acontecimentos que é comum encontrar nas obras de Stephen King. Aqui, a única que importa é Gwendy.

O enredo parece simples, até mesmo infantil, mas não se engane. Os ares de contos de fadas rapidamente ganham raízes sombrias, tendo toques de suspense, sobrenatural e até mesmo um leve horror habilmente inseridos. A simplicidade da história esconde reflexões muito maiores, como por exemplo a relação poder x humano. Com uma caixa capaz de fazer tantas coisas, você conseguiria resistir e usá-la apenas para o mínimo necessário, ou usaria para subjugar outras pessoas e nações inteiras? O medo e o fascínio que a caixa exerce na jovem são muito bem retratados, sendo totalmente relacionável. Quando crianças, tudo que queremos é sermos notados, que gostem de nós, de sentir segurança, então faz todo sentido que a caixa seja entregue a alguém com um coração tão puro quanto o de uma criança. Sem rancores ou malícia. Porém, essa pureza permanece conforme crescemos? Nossas experiências afetam nossa visão de mundo, e o desafio que um objeto tão poderoso desses traz é o de permanecer forte e não deixar pensamentos mesquinhos e egoístas tomarem força. A transição da garota de criança para adolescente é feita de forma natural, respeitando os valores de Gwendy, mas não deixando de mostrar que, querendo ou não, às vezes ter poder fala mais alto e pode nos levar à indiferença e crueldade, mesmo que por apenas um segundo, nos deixando cegos momentaneamente.

A Pequena Caixa de Gwendy é uma leitura rápida, divertida e fascinante que certamente cumpre o papel de entreter. A narrativa e a carismática protagonista conquistam a cada página virada, atiçando a curiosidade sobre os mistérios da caixa e suas consequências. O que faz o livro perder um pouquinho de seu encanto é o final, extremamente didático, que acaba ficando destoante do restante da obra. Ainda assim, vale muito a leitura.

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