4.2
(9)

O Clube da Meia-Noite
Original:The Midnight Club
Ano:2022•País:EUA, Canadá
Direção:Axelle Carolyn, Michael Fimognari, Mike Flanagan, Viet Nguyen, Morgan Beggs, Emmanuel Osei-Kuffour
Roteiro:Mike Flanagan, Leah Fong, Christopher Pike, Julia Bicknell, Jamie Flanagan, Elan Gale, Chinaka Hodge
Produção:Kathy Gilroy
Elenco:Iman Benson, Igby Rigney, Ruth Codd, Annarah Cymone, William Chris Sumpter, Adia, Aya Furukawa, Sauriyan Sapkota, Matt Biedel, Samantha Sloyan, Zach Gilford, Heather Langenkamp, Emilija Baranac, Jenaya Ross, William B. Davis, Veronika Hadrava, Katie Parker, Daniel Diemer, Donny Lucas, Laird Scabar

Mike Flanagan criou um universo pessoal de produções de horror para a Netflix. Ano após ano, desde 2016, com o lançamento de Hush: A Morte Ouve, ele tem alimentado a plataforma com filmes e séries adaptadas, dando um toque particular de sustos e arrepios. Foi assim em 2017 (Jogo Perigoso), 2018 (A Maldição da Residência Hill), 2020 (A Maldição da Mansão Bly) e 2021 (Missa da Meia-Noite), com uma pausa em 2019 para comandar para o cinema sua visão sobre Doutor Sono. O Clube da Meia-Noite é a contribuição de 2022 e deve ser o penúltimo trabalho de Flanagan para a Netflix; ele ainda tem contrato para adaptar o conto de Edgar Allan Poe, A Queda da Casa de Usher. Depois o cineasta irá migrar para a plataforma da Amazon, onde se ocupará com uma longa série envolvendo a saga literária de Stephen King, A Torre Negra.

Provavelmente sua mudança de ares se deve à necessidade de um contrato maior, com mais temporadas. E ele bem que tentou com O Clube da Meia-Noite, que veio com a intenção de uma duração de mais temporadas, como se nota pelo modo como se encerrou, com pontas soltas e perguntas não respondidas. O anúncio do cancelamento da série pode ter sido o ponto final dessa parceria, ainda que Flanagan não assuma realmente a motivação. Mas não se pode culpar a Netflix pelo fim do ciclo, uma vez que a série antológica ficou muito distante de outros trabalhos do diretor. Tão distante que provavelmente não deixará saudades, servindo apenas para os interessados irem em busca da literatura que originou a produção, escrita por Christopher Pike.

Escrita em 1994, The Midnight Club basicamente tem como enredo principal um grupo de cinco adolescentes, em estado terminal, que resolve contar histórias assustadoras com o convite para que aqueles que primeiro partirem encontrem meios de entrar em contato com os que ainda vivem. Flanagan explorou esse conceito básico e misturou com outras publicações de Pike, como o livro The Season of Passage, de 1992. Com essa estrutura narrativa de antologia, O Clube da Meia-Noite veio com a proposta de abrigar entre os seguidores da plataforma os mais jovens, fãs de Stranger Things e similares, combinando elementos de horror e fantasia com namoros e amadurecimento. O resultado é apenas mediano, com uma trama principal sonolenta e poucas histórias que valem a pena acompanhar.

Ambientado nos anos 90, a trama começa com a jovem Ilonka (Iman Benson) descobrindo que tem câncer terminal na tireoide. Contrariando o pai, ela decide se mudar para o Brightclife Hospice Care for Teenagers, um asilo para jovens terminais que buscam meios de abrandar socialmente seus últimos anos de vida. A intenção é procurar saber mais sobre uma antiga residente, Julia Jayne, que teria se curado durante sua passagem no local. Assim que chega ao casarão, que, de acordo com as trivias, é o mesmo da série Locke & Key, ela conhece a administradora, Dra. Georgina Stanton (Heather Langenkamp, final girl de A Hora do Pesadelo), e os jovens Kevin (Igby Rigney), que tem leucemia, a intragável Anya (Ruth Codd), sua colega de quarto, além de Sandra (Annarah Cymone), Spencer (William Chris Sumpter), Cheri (Adia), Natsuk (Aya Furukawa) e Amesh (Sauriyan Sapkota).

Ilonka descobre que os jovens mantêm encontros à meia-noite na biblioteca para contar histórias assustadoras. Como recém-chegada ao grupo, ela conta a sua já envolvendo a tal Julia Jayne, misturando elementos fictícios com suas pesquisas, como a relação com os membros de um culto local chamado Paragon. Ao caminhar nas matas próximas a Brightcliffe, a garota posteriormente irá conhecer Shasta (Samantha Sloyan), que vive em um grupo que acredita no bom humor para energias positivas e que revelará mais detalhes sobre o passado do asilo. Entre as histórias contadas, Ilonka também verá assombrações habitando a casa, e tentará descobrir mais sobre um ritual que pode culminar numa possível cura.

Com essa trama principal sobre bruxaria e rituais pagãos, a série, em dez episódios, com direção de Mike Flanagan, Axelle Carolyn, Michael Fimognari, Viet Nguyen, Morgan Beggs e Emmanuel Osei-Kuffour, traz pequenas histórias narradas e estreladas pelos próprios jovens, uma vez que muitos dos acontecimentos dialogam com o passado deles. Tem o causo da bailarina que fez acordo com o Diabo (contada por Anya), de um assassino em série (de Kevin), da confecção de um jogo de guerra real (por Amesh), de uma bruxa que usa sua magia para ajudar os amigos (novamente Ilonka), de dois caronas na estrada (por Natsuki) e de um videocassete que prevê o futuro (Spencer). Há alguns bons momentos, como o relato do jovem assombrado e que foi apontado como o episódio com mais jumpscares de todos os tempos, além de algumas das descobertas que envolvem a própria Brightclife.

No meio dessa teia de tramas sobrenaturais, há os dramas e namoricos típicos da idade dos envolvidos. Ilonka se interessa por Kevin, que vive uma vida de mentiras com a namorada que quer vê-lo em um baile de formatura; Spencer tem problemas de aceitação com os pais religiosos; Natsuki e Amesh nutrem interesse mútuo, mas precisam atravessar entraves para assumir alguma coisa; e Anya tem um namoro não resolvido com Tim (Matt Biedel). Sandra é a religiosa, e Cheri é vista como uma mentirosa compulsiva. Embora sejam construções de personagens comuns em produtos como uma série de TV, muitas dessas tentativas de tridimensionalizá-los não funcionam, quebrando o ritmo da trama principal e das narrativas apresentadas.

Depois de apresentar casas assombradas e uma ilha com vampiros, O Clube da Meia-Noite se mostra a série menos interessante de Mike Flanagan. A temática adolescente e o próprio grupo que reside em Brightclife são cansativos e por vezes irritantes de acompanhar. Ilonka, a protagonista e que devia ser a principal identificação com o espectador, mostrou-se apenas uma jovem egocêntrica e chata, apesar de a atriz fazer bem seu trabalho. Aliás, todo o elenco está muito bem, com destaque para Ruth Codd e Heather Langenkamp, trazendo boas lembranças de quando esteve em um local parecido em A Hora do Pesadelo 3: Os Guerreiros dos Sonhos. Flanagan também relembra seu elenco de carteirinha com a volta de Zach Gilford e Crystal Balint (de Missa da Meia-Noite), Katie Parker (A Maldição da Mansão Bly), Alex Essoe (Missa, Doutor Sono e Mansão Bly), Rahul Kohli (Missa e Mansão Bly) e Henry Thomas (Missa, Mansão Bly, Doutor Sono, Residência Hill).

Com o cancelamento, fica uma sensação realmente de produto inacabado. A sobrevida de uma personagem importante (e seus próprios intentos), uma certa tatuagem… são algumas das perguntas que ficarão sem resposta. Flanagan não vê possibilidade de um filme encerrar a série ou nem mesmo uma nova temporada lançada posteriormente pelo fato do elenco ser composto de atores e atrizes novos e que não poderia justificar o envelhecimento, estando em estado terminal. Assim, Brightclife fecha suas portas sem que algum dos residentes falecidos possam retornar para assombrar os vivos ou trazer arrepios ao espectador.

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