O Meme do Mal (2022)

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O Meme do Mal
Original:Grimcutty
Ano:2022•País:EUA
Direção:John Ross
Roteiro:John Ross
Produção:Dawn Fanning Moore, David D. Moore
Elenco:Shannyn Sossamon, Sara Wolfkind, Usman Ally, Callan Farris, Tate Moore, Joel Ezra Hebner, Alona Tal, Shelli Boone, Brian Byrnes, Terry Dexter

Muito se tem discutido nos tempos atuais, com todos os múltiplos acessos, maneiras de lidar com as crianças e adolescentes e seu vício pelas telas. Para pais, torna-se cômodo deixar o jovem o tempo todo com o seu celular, tablet, games e até os streamings para “evitar que fiquem nas ruas e se envolvam com coisas erradas“. Contudo, relatos de casos envolvendo cyberbullying e influencers negativos, com seus desafios insanos, têm se multiplicado de maneira assustadora. Isso sem contar os golpes por aplicativos de relacionamento e a proliferação das fake news para conturbar ainda mais o ambiente virtual, perturbando a saúde mental de usuários e familiares. Quem não se lembra da perigosa Momo, um meme sobre uma entidade de olhos arregalados que se mostrou real e perigosa, ocasionando incidentes graves e mortes por suicídio, similar ao jogo da Baleia Azul? Se a realidade já é assustadora, por que não inspirar filmes do gênero?

Na verdade, esse subgênero de terror envolvendo tecnologia e internet nem é tão novo. Você poderia traçar uma origem nos Snuff Movies, lembrar dos VHS da franquia Faces da Morte, da “influencerSadako, de Ringu, dar uma passada em sites malignos como o de Medopontocombr, de jogos como Stay Alive, conhecer a criatura Slender Man, entre outros inspirados na obscura deepweb. Talvez sua pesquisa esbarre no terror O Meme do Mal (Grimcutty, 2022), que tenta uma abordagem um pouco diferente, apesar dos clichês, sobre uma maldição virtual envolvendo um ser um tanto quanto bizarro. E ainda pode matar a saudade de Shannyn Sossamon, que você conhece de filmes como Adoradores do Diabo (2005), Catacumbas (2007), Uma Chamada Perdida (2008), 24 Horas Para Sobreviver (2011), A Entidade 2 (2015) e das séries Wayward Pines (2015-2016) e A Lenda de Sleepy Hollow (2015-2016). Seu último trabalho no gênero, lançado por aqui, foi A Maldição do Teatro (Ghost Light, 2018).

Aqui, ela interpreta Leah Chaudhry, mãe da adolescente que sonha em ser influencer, Asha (Sara Wolfkind). Com gravações sobre maneiras de lidar com a ansiedade, embora tenha um público pequeno, ela sofre nas mãos do pai Amir (Usman Ally), que desenvolveu o “dia sem telas“, com a proposta da família sair para algum passeio sem se importar em fazer registros ou conversar com conhecidos. Ironicamente, o casal segue a influencer Melinda (Alona Tal), que apresentou ao seu público a criatura Grimcutty, responsável por incidentes com cortes pelo corpo e indução ao suicídio. Assim que Asha fica sabendo, ela passa a ser perseguida em todos os lugares pela entidade, tendo que resistir ao descrédito da família e encontrar uma forma de se livrar desse “meme do mal“.

Sem esconder o vilão digital desde o prólogo, o filme de John Ross traz uma abordagem inversa. Ao invés de mostrar jovens sendo influenciados pelo monstro viral, ele opta por evidenciar o quanto os pais podem sem querer contribuir para o problema. Ora, se Leah e Amir não mostrassem a criatura para Asha e seu irmão Kamran (Callan Farris), será que eles mesmo assim seriam afetados? E propõe uma discussão: qual é o papel dos pais nessa relação sobre o que é visto nas redes sociais? Devem se preocupar e fazer a tradicional “conversa de pais e filhos” ou deixar pra lá, somente evitando o interesse dos jovens apenas pelas telas? Dependendo do que você acredita, O Meme do Mal poderá estar prestando um desserviço ao alertar sobre os exageros nas crenças de que a internet possa ser prejudicial.

Apesar da profundidade proposta – não tão profunda, é bom salientar – o longa é envolto em clichês sobre maldições, investigação da origem e os ataques da criatura. O tal Grimcutty é bem malfeitinho, parecendo uma mistura de Tio Chico com o Gru, de Meu Malvado Favorito. E depois que você passa a enxergar essa similaridade, fica difícil levar a sério. O filme até acerta ao mostrar crianças ferindo seus pais e a ideia quase apocalíptica, mas sem uma ousadia no trato final, sem grandes surpresas, sem uma investigação a fundo do conceito que o envolve. Assim, um terror enfraquecido por uma narrativa pouca sólida dificilmente será viral o suficiente para que todos falem a respeito e queiram saber mais.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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