Damas Noir (2022)

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Damas Noir
Original:Cutting Edge: New Stories of Mystery and Crime by Women Writers
Ano:2022•País:EUA
Autor:Joyce Carol Oates, Margaret Atwood, Livia Llewellyn, S. J. Rozan, Jennifer Morales, Lisa Lim, Edwidge Danticat, Lucy Taylor, Elizabeth McCracken, Steph Cha, Bernice L. McFadden, Aimee Bender, S. A. Solomon, Cassandra Khaw, Valerie Martin, Sheila Kohler•Editora: DarkSide Books

Assim que as luzes se apagam, as metrópoles ganham uma nova vida. Durante o dia nos deparamos com ternos, responsabilidades, correria, pessoas ligadas com seus afazeres e ruas lotadas; à noite, as ruas são mais desertas enquanto as baladas, com suas luzes coloridas e música ensurdecedora, e bares regados a álcool são cheios, a imprudência toma conta, coisas misteriosas acontecem, crimes são cometidos. É dessa fonte que bebe o Noir. Assassinatos na calada da noite, investigações, mistério e terror se juntam nesse gênero que tem, majoritariamente, histórias escritas por homens.

Pensando nisso, a Darkside Books reuniu contos de dezesseis autoras na antologia Damas Noir onde, ao invés de serem meras coadjuvantes, vítimas ou objetos de adoração, as mulheres são as protagonistas, as assassinas, o cérebro por trás de elaborados esquemas criminosos. Os holofotes estão todos voltados exclusivamente para elas – autoras e suas protagonistas mulheres.

Com organização e introdução de Joyce Carol Oates, que também possui uma história de sua autoria na obra, o livro é dividido em três partes: Seus Corpos, Nossos Eus; Um Infortúnio Todo Seu e Homicídio. Cada parte possui uma ilustração de Laurel Hausler na primeira página, enriquecendo ainda mais o material.

Aqui, as coisas acontecem sob uma perspectiva obviamente feminina, e é muito interessante notar como cada autora percebe e descreve o masculino. Em alguns contos é possível perceber uma aura estilo Sin City, que é um belo exemplo de Noir, com intrigas e mistérios para nenhum fã do gênero botar defeito. Muitas histórias são profundas, carregadas com um clima mórbido e críticas pontuais e afiadas que nos fazem abrir os olhos e refletir. É claro que a vingança contra o sexo oposto está muito presente, em contraste com inúmeras outras obras onde a mulher é a vítima ou menosprezada. As autoras fazem questão de deixar claro que não tem nada de indefesas ou inocentes nessas damas fatais (literalmente).

Enquanto muitos contos são brilhantes, entregando o melhor que uma boa história de detetive e investigação pode proporcionar – a exemplo de Cidade em Chamas, de Aimee Bender –, outros acabam perdendo um pouco o leitor, seja por ser desnecessariamente longo, seja por ser confuso ou previsível e não entregar de forma satisfatória a trama. Felizmente, há mais contos interessantes do que maçantes.

Nem só de resolução de crimes vive Damas Noir, e não há apenas textos corridos. Um dos contos – A Fome, de Lisa Lim – é um conto gráfico que pende mais para o terror, com divertidas ilustrações que contam uma história um tanto macabra. Margaret Atwood, autora do fenômeno O Conto da Aia, marca presença com poemas brutais e incisivos.

Violentadas, ridicularizadas, oprimidas e abusadas, em Damas Noir elas se desnudam de pudores e recatos e partem para o acerto de contas sem remorso, recheando as páginas de assassinatos e sangue. São diferentes visões femininas usando a ficção para apontar, criticar e refletir – e, por que não, se vingar no processo? – sobre uma sociedade patriarcal e que, apesar de não serem acontecimentos reais, não é difícil encontrar mulheres que passaram por casos semelhantes aos das protagonistas. A única diferença é que, nas histórias, elas fizeram justiça com as próprias mãos.

É uma obra que traz histórias de um noir vingativo, cruel e eletrizante, subvertendo a ideia de submissão feminina perante os homens tão presente nesse gênero, dando a vez e a voz para elas, para variar.

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Louise Minski

Um experimento de Schrödinger entediado.

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