Zumbis do Mal
Original:Messiah of Evil
Ano:1973•País:EUA Direção:Willard Huyck, Gloria Katz Roteiro:Willard Huyck, Gloria Katz Produção:Willard Huyck, Gloria Katz Elenco:Michael Greer, Marianna Hill, Joy Bang, Anitra Ford, Royal Dano, Elisha Cook Jr., Charles Dierkop Bennie Robinson |
Messiah of Evil (e é assim que eu vou chamá-lo por ter mais impacto que o título em português, Zumbis do Mal – que também faz sentido, mas é muito genérico) é um filme que já vi tantas e tantas vezes em blogs, sites de torrents e no Youtube, que fiquei surpreso de ver que ele não consta aqui no catálogo de críticas e comentários do Boca do Inferno. Daí fui assistir meio desinteressadamente antes de dormir dia desses, mas acabei me envolvendo com todo o “appeal” da narrativa, meio creepy, meio sensual, não necessariamente nessa ordem, mas bem diferente do feijão com arroz que viria a se tornar o gênero “zumbi”.
Aqui acompanhamos a história de Arletty (Marianna Hill) em busca de seu pai, um artista solitário e que desapareceu sem dar notícias. Para isso, ela viaja até o ateliê onde ele vive, na praia de Point Dume, Califórnia, na tentativa de resolver esse mistério. Sua primeira parada nessa viagem acontece num posto de gasolina, ainda no início do filme, e já aponta para coisas estranhas acontecendo nos arredores de Point Dume. O frentista revela um medo de algo que se esconde na escuridão, mas sem nunca revelar o que é – e já aqui temos uma das melhores cenas do filme.
Mais à frente, juntam-se a Arletty um estrangeiro colecionador de obras de arte, Thom (Michael Greer), e duas “groupies” (na falta de um termo melhor) que o acompanham. Ele também está procurando pelo pai de Arletty a fim de comprar alguns de seus trabalhos, e, juntamente com ela, se perde na atmosfera indecifrável que circunda as ruas e praias de Point Dume e seus habitantes.
A narrativa talvez seja vagarosa ao nos revelar o que acontece. Os visitantes de Point Dume são constantemente repelidos pelas autoridades locais e por um ou outro habitante que parece não ter sido absorvido pela sombra que se espalha entre os moradores da cidade – que, como se revela logo mais, parecem ter sido acometidos por alguma doença. Há uma palidez cadavérica em seus semblantes, um estranho sangramento incessante de seus olhos, nariz e boca, sempre andando em bandos e com um estranho gosto por carne crua.
Diferentemente dos demais filmes de zumbis, aqui não temos aquela caracterização típica dos mortos vivos que estamos acostumados a ver, seja em filmes como A Noite dos Mortos Vivos (apesar de se aproximar mais desse) ou nas recentes séries The Walking Dead. Tanto que nem percebemos que o mal que cerca os visitantes de Point Dume são zumbis – a não ser pelos momentos finais, quando tudo vai ficando mais explícito. E o processo de contaminação também não é típico do que conhecemos, e nem a forma de agir (pelo menos se comparado ao que aprendemos em A Noite dos Mortos Vivos), o que torna tudo mais misterioso.
Outro diferencial é uma incursão sobrenatural na narrativa (spoiler), que aponta para alguém do passado de Point Dume, que vem de fora, do mar, trazer essa “novidade”, um “messias” que traz uma salvação – salvação que tende a se alastrar e desenvolver contornos apocalípticos em algum ponto do futuro. Tudo um barato. Mas há outros baratos também.
Fotografia, figurino, maquiagem, trilha sonora. Messiah of Evil grita moda anos 60 em todos os frames – o que me deixa muito feliz. Logo nos primeiros minutos, eu pensei estar assistindo um daqueles filmes daquela cena californiana de fins dos anos 60, de onde emergiu o Easy Rider (1969) como maior expoente.
Mas bastou passar mais alguns instantes e a perspectiva mudou: pensei estar diante de algum filme italiano, devido a algumas nuances de direção e cores vivas, a direção de arte. A condução da narrativa também remete muito aos filmes de zumbi do George A. Romero, ou do que eles viriam a se tornar: explora muito a paisagem, de forma a evidenciar a claustrofobia em muitos momentos. Há também colagens e outros artifícios que tornam a direção muito dinâmica, bem à moda 60s.
Uma curiosidade é que o casal de diretores, Willard Huyck e Gloria Katz, também roteiristas de Messiah of Evil, travaram parceria com George Lucas depois disso, assinando os roteiros de American Graffitti (1973) e Indiana Jones e o Templo da Perdição (1984). Outra curiosidade é que Willard Huyck dirigiu aquele Howard, o Super Herói (1986) – aquele filme daquele pato chato que reprisou bastante na Sessão da Tarde na década de 1990. Enfim.
Messiah of Evil é um filho menor do Noite dos Mortos Vivos e que honra, de certa forma, a criação máxima de George Romero. Tem estilo próprio e até certa criatividade na hora de apontar as soluções – além de um suspense caprichado. Está disponível no Youtube.
Eu curti. Esse isolamento geral, a sensação de vazio, o mistério raso e sobrenatural, essa falta de personagens e o silêncio mortal que frequentemente se faz presente. Achei um bom filme, essa câmera dos anos setenta deixa tudo muito charmoso, devo admitir. Li noutro lugar que esse é um filme gótico. Talvez devido aos elementos inverossímeis, ficcionais. Bem, é fato que, esses zumbis, embora os zumbis sejam criaturas fantásticas, parecem bastante com humanos, mas eu associo isso ao charme inerente a alguns filmes dessa época. Mas enfim, esses zumbis são bem singulares, isso é bom, mortos vivos são como roupas, cada alfaiate costura sua peça conforme bem entender. A atriz principal ficou muito bem nesse papel, na minha humilde opinião. Acho o filme subestimado, as cenas do cinema e do mercado também foram marcantes, somadas ao do posto no início, como mencionado pelo autor da matéria acima.