Meu Coração Só Irá Bater Se Você Pedir (2020)
 Meu Coração Só Irá Bater Se Você Pedir
Original:My Heart Can't Beat Unless You Tell It To
Ano:2020•País:EUA Direção:Jonathan Cuartas Roteiro:Jonathan Cuartas Produção:Jesse R. Brown, Patrick Fugit, Wojciech Janio, Anthony Pedone Elenco:Patrick Fugit, Ingrid Sophie Schram, Owen Campbell, Moises L. Tovar, Judah Bateman, Katie Preston, Anthony Pedone |
O título poético não é gratuito: o longa de estreia do cineasta americano Jonathan Cuartas é permeado por uma melancolia e por um pessimismo quase literários. Estes sentimentos, muitas vezes extremos, reverberam a solidão e a fatalidade que acometem certas criaturas que vivem na escuridão, mesmo que o filme insista em não nomeá-las de fato.
No enredo, também escrito por Cuartas, Dwight e a irmã Jessie buscam novas vítimas noite após noite. É o sangue de prostitutas, moradores de rua e imigrantes que alimentam o adoentado irmão mais novo, Thomas. A cada repetição, a caçada se torna mais penosa e amarga, ao mesmo tempo em que Dwight começa a questionar seus desejos e convicções. Em ruína, a cumplicidade que mantém os irmãos unidos se transforma em decepção e dor.
Abusando de uma estética crua e realista, por vezes propositalmente apática, Meu Coração só irá Bater se Você Pedir oscila entre um drama familiar e seus terrores mais básicos, como a fome, a doença, a sobrevivência e a procura por algum sentido para a simples existência; e o terror menos metafórico e mais explícito, em que o sangue escoa indiferente pelo pescoço de algumas vítimas invisíveis, recusadas pela sociedade, mas apanhadas em uma violenta cadeia alimentar.
É significativo, e por outro lado frustrante, que o filme não se aprofunde nos problemas que ele propõe, como se a dor e sofrimento fossem primordiais e latentes e não precisassem de explicações. Esta sensação incômoda é reforçada a todo momento pelo ritmo arrastado, pelos cenários claustrofóbicos, desordenados e sem cor, ou mesmo pela quase ausência de sorrisos em personagens pálidos e cadavéricos. Momentos felizes são raros, e quando ocorrem ressoam como presságios de uma tragédia esperada.
A escolha acertada do elenco é outro ponto forte em Meu Coração Só Irá Bater Se Você Pedir. Patrick Fugit (Quase Famosos e Amor e Morte), Ingrid Sophie Schram (de Licorice Pizza) e Owen Campbell (X – A Marca da Morte) impressionam principalmente pela harmonia com que eles constroem a relação silenciosa e tensa dos irmãos.
A produção, que deveria ter estreado em abril de 2020 na 19ª edição do Tribeca Film Festival, mas teve seu lançamento adiado por causa da COVID-19, foi bem recebida pela crítica em geral. Meu Coração Só Irá Bater Se Você Pedir exibe com orgulho a marca de quase 100% de críticas positivas no site agregador Rotten Tomatoes. Ainda assim, o longa não deve agradar a todos os públicos, principalmente pelo ritmo lento e por compartilhar dois gêneros considerados antagônicos por alguns: o drama e o terror.
Uma curiosidade, o título do filme vem da canção (pouco conhecida por aqui) I Am Controlled by Your Love, de Helene Smith, que os irmãos cantam em um karaokê doméstico em determinada cena. Existe um amor controverso que sustenta a relação dos três irmãos, é indiscutível, mas podemos entender que o coração somente irá bater com o rompimento da imobilidade que o desfecho traz.
Enfim, angustiante e desagradável, Meu Coração só irá Bater se Você Pedir é forte pela simplicidade e talvez prove que há alguma beleza no sofrimento ou que, como um plot twist, pode haver uma libertação, mas não sem um enfrentamento. Caso o leitor queira participar desta viagem indigesta, a produção está disponível no Brasil pelo canal de streaming Looke.
Gostei do filme. Drama com clima tenso do começo ao fim