O Convento (2023)

4.4
(16)

O Convento
Original:Consecration
Ano:2023•País:EUA
Direção:Christopher Smith
Roteiro:Christopher Smith, Laurie Cook
Produção:Laurie Cook, Casey Herbert, Xavier Marchand, Jason Newmark
Elenco:Jena Malone, Danny Huston, Janet Suzman, Ian Pirie, Thoren Ferguson, Angela White, Steffan Cennydd, Eilidh Fisher, Alexandra Lewis, David Boyle, Kit Rakusen, Charlotte Palmer, Victoria Donovan, Marilyn O'Brien, Jolade Obasola, Emma Hixson, John Heartstone, Michael Brophy

Foi em 2004 que Christopher Smith mostrou a que veio. Dirigiu o claustrofóbico Plataforma do Medo (The Creep), deixando Franka Potente à mercê de uma criatura cirúrgica, interpretada com eficiência por Sean Harris. Era uma promessa no gênero, conduzindo logo em seguida o divertido Mutilados (Severance, 2006), e Triângulo do Medo (Triangle, 2009), com Melissa George em um loop insano. Com filmes completamente diferentes um do outro, ele depois faria o de bruxaria Morte Negra (Black Death, 2010), com Sean Bean, e o família Que fim levou Papai Noel? (Get Santa, 2014). Ainda constam o thriller Detour (2016) e o mais recente O Ritual: Presença Maligna (The Banishing, 2020), além de episódios de séries entre as produções. Uma filmografia de enredos variados, mas que sempre volta ao gênero que o tornou bastante requisitado, ainda que sem o mesmo brilhantismo.

Seu mais recente filme, O Convento (Consecration, 2023), mais uma vez se esquiva de sua trajetória, apostando na religiosidade e teor apocalíptico. A inspiração partiu do arrepio que sente a cada vez que entra em uma igreja: “Nunca fico mais assustado do que se entrar em uma igreja ou templo. Eu queria fazer um filme sobre religião, mas fazê-lo com seriedade“. Ele havia focado levemente no tema com Morte Negra, mas desta vez abraçou o conceito ao apresentar um quase nunsploitation, com freiras estranhas, envolvidas em rituais de sangue e suicídio.

E conta com uma Jena Malone inspirada. Ela interpreta Grace, uma moça que sobreviveu a um episódio traumático envolvendo o pai, o que a fez perder a fé e trabalhar como oftalmologista com especialização em doenças degenerativas em Londres. Assim que fica sabendo que seu irmão (Steffan Cennydd), um padre no Convento Mount Saviour, no interior da Escócia, teve uma morte suspeita, ela parte para o local, sendo recebida de maneiras diferentes (frieza e atenção, respectivamente) pela Madre Superiora (Janet Suzman) e pelo Padre Romero (Danny Huston). Ela não quer acreditar nas evidências que sugerem assassinato seguido de suicídio, mesmo com a insistência do detetive Harris (Thoren Ferguson), que ainda aponta o convento, pelos seus exageros de crença e devoção, como responsável pelo momento de loucura.

Uma vez acomodada, sofrendo lentamente de episódios de desmaios diante de visões perturbadoras, Grace começa a ser envolvida em uma conspiração religiosa que irá culminar na tal consagração. O convento, por si só, com seus aspectos góticos de paredes grossas e frias e uma belíssima paisagem externa com um vale, ruínas que conduzem a um arco de granito e um penhasco íngreme, é o principal elemento do filme de Christopher Smith. Com suas próprias tradições, como a dos pecados que levam a um passo atrás (os excessos podem levá-lo a uma queda em direção às rochas, onde seu irmão fora encontrado), e uma porta de madeira bem guardada, o ambiente faz jus à intenção do cineasta de causar desconforto.

Não é uma produção de sustos fáceis, nem conta com assombrações e possessão demoníaca. O enredo, de Smith e Laurie Cook, está envolto em um clima de mistério sobrenatural, com as visões de Grace, incluindo seu passado de violência, servindo para a sua conexão com o ambiente, substituindo suas roupas comuns pelo hábito, depois embebido em sangue. Cercada de freiras estranhas – uma delas, bem jovem, aparece de vez em quando com a irritante frase “Peekaboo. Eu vejo você.” – e poucas respostas, principalmente envolvendo uma tal desejada relíquia e um caderno codificado do irmão, Grace logo irá desvendar da pior forma possível os segredos que habitam o lugar.

Com O Convento, Christopher Smith evidencia mais uma vez sua versatilidade em abrigar conceitos diversificados. Pode-se buscar um elo entre seus filmes pela força das personagens femininas, desde a tiete do George Clooney, Franka Potente, passando pela biruta Melissa George e a poderosa Carice van Houten, até alcançar a ousada Jena Malone. São mulheres curiosas que não temem adentrar ambientes escuros como o das salas escondidas em túneis desertos, enfrentar assassinos em embarcações, assombrar comunidades ou descer escadas que conduzem aos porões inquisidores de uma catedral antiga.

Um passo para trás poderia envolver a necessidade de tentar explicar todas as manifestações sobrenaturais da produção, como uma cartilha mostrando como tais coisas aconteceram. Poderia permitir interpretações, com a reflexão do espectador servindo para tornar o longa mais profundo, mas não são muitos os pecados que poderiam fazê-lo descambar no interesse dos fãs de horror atmosférico.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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