Colheita Maldita 5: Campos do Terror (1998)

4.3
(4)

Colheita Maldita 5 - Campos do Terror
Original:Children of the Corn V: Fields of Terror
Ano:1998•País:EUA
Direção:Ethan Wiley
Roteiro:Ethan Wiley
Produção:Jeff Geoffray, Walter Josten
Elenco:Stacy Galina, Alexis Arquette, Eva Mendes, Greg Vaughan, Angela Jones, Ahmet Zappa, Fred Williamson, Dave Buzzotta, Olivia Burnette, Adam Wylie, David Carradine, Kane Hodder

A parte 5 do gênero costuma ser bastante problemática. A perseguição de Michael Myers à pequena Jamie (Danielle Harris) não foi das melhores para quem esperava que a garota fosse herdar o lado maligno do assassino de babás; o “novo começo” trouxe um outro Jason Voorhees com motivação pessoal se transformando em um psicopata que elimina quem cruzar seu caminho; assim como A Hora do Pesadelo 5 não foi o “maior horror de Freddy“, com muito mais humor do que elementos assustadores. Há quem também não goste de rever um Jigsaw em flashback; não curtiu nem Ghostface dirigido por outros cineastas, mesmo com a ousadia de matar um de seus principais personagens. O que se poderia esperar de um Colheita Maldita 5?

Iniciada em 1984, com inspiração em um conto do Mestre do Terror Stephen King, publicado na antologia Sombras da Noite, o filme inicial, com o protagonismo de Linda Hamilton e Peter Horton, apresentou uma ideia apocalíptica, com crianças influenciadas por um pregador-mirim na adoração a uma entidade conhecida como “aquele que anda por detrás das fileiras“. Com direção de Fritz Kiersch, a partir de um roteiro de George Goldsmith, Colheita Maldita conseguiu espelhar a atmosfera proposta e ampliar de maneira interessante as páginas de King. A outra adaptação, com poucos recursos e independente, “Discípulos do Corvo“, lançado um ano antes como parte da antologia O Túnel do Horror, também buscou uma inspiração completa no texto original, apesar das limitações técnicas.

Colheita Maldita 2: O Sacrifício Final, de David Price, de 1992, segue as ações do primeiro quase como uma refilmagem, mostrando toda a repercussão em torno das crianças assassinas e uma nova ação contra os adultos. Funciona como uma análise do modus operandi do primeiro, como uma espécie de prelúdio. O terceiro, Colheita Maldita 3, dirigido por James D.R. Hickox, é uma sequência direta, com as crianças do milharal sendo adotadas por famílias, mostrando suas investidas na cidade grande, deixando uma ponta para um final apocalíptico. Já Colheita Maldita 4 apresentou uma história nova, sob o comando de Greg Spence. Não há menção “àquele que anda por detrás das fileiras“, nem Isaac ou a cidade maldita de Gatlin. Traz uma novinha Naomi Watts tendo que combater uma criança vingativa, oriunda de um poço, com poderes e grande capacidade de convencimento. Mesmo sem relação com o conto, o quarto se saiu até bem, mas teria um resultado melhor se tivesse um outro nome… talvez O Chamado?

Em 1998, Colheita Maldita 5: Campos do Terror foi lançado diretamente em vídeo, tentando voltar ao texto original. Ethan Wiley comanda a produção que conta com alguns nomes de peso, como David Carradine, Eva Mendes e Fred Williamson, além de uma pontinha de Kane Hodder, o eterno Jason Voorhees, mas – desculpe o trocadilho – peca de maneira absoluta, resultando em uma das piores entradas da franquia, com efeitos risíveis e um enredo bem adolescente e consequentemente chato. Começa com o garoto Ezeekial (Adam Wylie) atravessando um milharal até ser atingindo por uns raios coloridos, com indicação de possessão. Na cena seguinte, um grupo de jovens chega a Divinity Falls em dois veículos: o primeiro com o casal Lazlo (Ahmet Zappa), que possui uma coleção de bonecas infláveis e as utiliza como sinalização do caminho ao outro carro, e a namorada Charlotte (Angela Jones). Eles encontram o bando de crianças, sob o comando de Ezeekial, e são mortos, com o sangue espirrando sobre o milharal. O segundo, com Greg (Alexis Arquette), Allison (Stacy Galina), que busca um irmão desaparecido, Tyrus (Greg Vaughan) e Kir (Eva Mendes).

Logo, Allison descobre que seu irmão, Jacob (Davino Buzzotta), está entre os garotos temporariamente pois completará 18 anos e será sacrificado para “Aquele que Anda por Detrás das Fileiras“. Também fica sabendo que as crianças são cuidadas por um adulto, Luke (David Carradine), representante da entidade, e que passa o dia sentado numa cadeira como um rei, comandando os menores. Com o veículo destruído, os quatro se “hospedam” na fazenda de Enright e até solicitam a ajuda do xerife Skaggs (Fred Williamson) em vão, mas terão que encontrar outros meios para combater as crianças possuídas e a relação com um silo de milho flamejante. Assim, mortes diversas – a maior da franquia – e correria, abrigo num celeiro e um livro maldito completam o que poderia ser interessante, se tivesse um enredo um pouco mais coerente.

Como exemplo, há a personagem de Eva Mendes. Chega ao local, flerta com um jovem do milharal, folheia algumas páginas do livro e decide simplesmente se sacrificar para a entidade (!!!). Jacob desiste de seguir “seu destino” e pensa em fugir com a namorada Lily (Olivia Burnette), mesmo passando horas de seu dia lendo o mesmo livro. Já Ezeekial resolve ir contra Luke, mesmo este estando a serviço da religião, em mais um conflito entre os que seguem seus preceitos. Isso sem contar as ações heroicas improváveis, a morte rápida de um dos protagonistas apenas como contagem de cadáveres, entre outras bobeiras. Com efeitos bem ruins e boa parte dos acontecimentos à luz do dia, Colheita Maldita 5 acerta apenas na direção e algumas seleções do elenco, sem ampliar adequadamente o texto original.

Mesmo sem empolgar, motivou a realização de mais filmes. Colheita Maldita 666: Isaac Está de Volta foi lançado no ano seguinte, com direção de Kari Skogland, mostrando o quanto as crianças malditas do milharal conseguiram construir uma extensa franquia, mesmo que tenham se perdido pelo caminho.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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