Colheita Maldita 4 (1996)

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Colheita Maldita 4
Original:Children of the Corn: The Gathering
Ano:1996•País:EUA
Direção:Greg Spence
Roteiro:Stephen Berger, Stephen King
Produção:Gary DePew
Elenco:Naomi Watts, Jamie Renée Smith, Karen Black, Mark Salling, Brent Jennings, Brandon Kleyla, William Windom, Samaria Graham

Décimo sexto conto do livro Sombras da Noite, “As Crianças do Milharal” tem apenas 30 páginas, com muitos diálogos e parágrafos curtos, proporcionando uma leve imersão a um horror que seria adaptado em uma franquia que, como os vastos campos de milho, parece não ter fim. A viagem de Vicky e Burt tinha fins de fazer uma visita familiar e também salvar o próprio casamento, mas um atropelamento os conduziu à cidade-fantasma de Gatlin, onde a placa “proteja nossas crianças” ironicamente já trazia vestígios do que poderiam encontrar. Foi adaptado para o interessante Colheita Maldita, de 1984, com Linda Hamilton e Peter Horton como testemunhas de um inferno claustrofóbico.

O longa não deixava pontas para uma continuação, mas Colheita Maldita 2: O Sacrifício Final, de David Price, foi lançado em 1992, mostrando os jovens remanescentes partindo para uma nova cidade, enquanto um jornalista tenta cobrir os assassinatos, sem perceber que o horror pode se repetir em um novo local, se “Aquele que Anda por Detrás das Fileiras” conseguir influenciar novamente os menores de 18 anos. Quase uma refilmagem do original, o filme mantém a estrutura ao mostrar um garoto liderando os demais para a realização de sacrifícios. Não foi o final, realmente, porque Colheita Maldita 3 teve seu lançamento em 1994, com direção de James D.R. Hickox, para propor uma mudança para a cidade grande, com mais uma “criança de Gatlin” disposta a cultuar a entidade do milharal. Inferior ao dois primeiros, o terceiro teve a ousadia de mostrar a criatura gigante, com jovens sendo devorados, e a participação da estreante Charlize Theron em pontinha não-creditada.

No ano seguinte, Colheita Maldita 4 (Children of the Corn: The Gathering) foi lançado em vídeo. Dirigido por Greg Spence, a partir de um roteiro próprio em parceria de Stephen Berger, o filme veio com a proposta de contar uma história nova, sem referência a Gatlin ou “Aquele que Anda por Detrás das Fileiras“, tendo apenas o milharal e jovens como conexão com a franquia. Aliás, o longa parece ter servido como pontapé de outra série de filmes, Ringu, produção japonesa que posteriormente inspiraria o sucesso O Chamado (The Ring, 2002). Basta saber que o filme conta com Naomi Watts às voltas com uma criança com poderes oriunda de um poço. Não é Sadako ou Samara Morgan, mas poderia ser.

Ela é a estudante de medicina Grace Rhodes, que retorna à sua cidade-natal, em Grand Island, Nebraska, para cuidar da mãe June (Karen Black, a Mãe Firefly de A Casa dos 1000 Corpos), que sofre de agorafobia, devido a um pesadelo recorrente em que recebe a visita de uma criança enferma e possuída por um demônio. Resgatando seu antigo emprego na clínica do Dr. Larson (William Windom), tendo que cuidar das crianças locais e de seus dois irmãos, Margaret (Jamie Renée Smith) e James (Mark Salling), logo ela percebe que todos os pequenos da cidade estão apresentando a mesma enfermidade, com sintomas de febre, convulsões e perdas de dentes. O mal que aflige essa “cidade dos amaldiçoados” tem conexão com um garoto do passado, um tal Josiah (Brandon Kleyla), que parece ter despertado de seu poço para uma vingança. Depois que a esposa de Donald (Brent Jennings) é assassinada pela criança, ele tenta proteger seu filho Marcus (Lewis Flanagan III) e acaba se unindo a Grace no combate às crianças influenciadas pelo pregador-mirim. Só resta saber como enfrentar esse mal poderoso, e ainda proteger os jovens antes que sejam mortos ou possuídos pela entidade.

Primeiro longa de terror de Naomi Watts, Colheita Maldita 4 até surpreende pela sua realização. Mesmo com leve inspiração no conto original, o filme é bem feitinho, tem mortes sangrentas, como uma que envolve uma vítima partida ao meio, e sequências bem realizadas de suspense. Não supera o primeiro e nem deveria receber o título de Colheita Maldita, além de algumas ideias equivocadas, como o desenvolvimento da personagem de Karen Black, que cura sua agorafobia de maneira rápida e nem percebe quando uma situação similar ao seu pesadelo está ocorrendo. Quando se percebe que tais sonhos somente serviram para a vinda de Grace, os propósitos do prólogo acabam não tendo muita importância. Ela seria uma sensitiva ou foi alertada por alguma entidade do bem?

A boa direção de Greg Spence surpreendeu a Miramax, que acabou chamando-o para dirigir Anjos Rebeldes 2. Mas seus créditos na função acabaram aí. Depois ele passou a assumir outros cargos na Sétima Arte, incluindo produtor de séries como Game of Thrones e The Last of Us. Ele faz um bom trabalho realmente, servindo bem ao longa, principalmente nas cenas noturnas. Apesar disso, Colheita Maldita 4 é bem subestimado pelos fãs de Stephen King e do texto original. Faz sentido. Um retorno a Gatlin e às crianças seguidoras da entidade do milharal poderia resultar em algo ainda mais interessante, deixando Watts para enfrentar outra criança oriunda de um poço em 2002.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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