Coven – Witchcraft Destroys Minds & Reaps Souls (1969)

4.5
(2)
Banda:Coven
Ano:1969•País:EUA
Álbum:Witchcraft Destroys Minds & Reaps Souls
Estilo:blues-rock
Selo:Mercury

O Coven é uma banda curiosa, pra dizer o mínimo. Iniciou suas atividades em 1967 em Chicago, EUA, exatamente no ano do chamado “Verão do Amor”. A proposta do Coven, no entanto, passava longe da brisa leve regada a sal marinho e maconha que soprava da costa oeste do país. Da salada cultural que foi a segunda metade da década de 1960, o Coven despontou com uma proposta única e pouco executada até então. No meio underground, eles eram reconhecidos como estudantes de ocultismo praticantes de magia, e por apresentar um trabalho conceitual que fugia dos padrões.

Mas, diferentemente da crueza de bandas igualmente fora do padrão, como Velvet Underground, que alinhava poesia a um realismo tão sujo quanto vivo (eles, sim, um contraponto ao Verão do Amor), o Coven saiu da estrada comum para construir seu primeiro disco, misterioso e carregado de “energias” e polêmicas.

Histórias à parte, a música apresentada na estreia do grupo, o Witchcraft Destroys Minds & Reaps Souls, é única, e, apesar de baseada no blues-rock típico da época, uma outra atmosfera permeia os acordes desta coleção, tornando cada música uma pequena obra de terror. A vocalista Jinx Dawson, figura que vem crescendo desde a redescoberta do Coven a partir dos anos 2000 e com o retorno da banda em 2007, descarrega no álbum toda sua trip particular, que vai da ópera ao rock’n roll, com altas pinceladas de satanismo e bruxaria colorindo essa pintura musical.

O destaque do álbum é a faixa de abertura. A canção Black Sabbath abre com uma levada jazz soturna acompanhando uma trupe de bruxos a caminho de uma reunião numa montanha distante. Apesar do passo cadenciado, que torna o som bem palatável, os arranjos somados às vocalizações e letra aproximam muito a canção de um conto de horror (ou trilha sonora de um, já que é muito fácil visualizar os filmes de bruxaria da época ao ouvi-la).

As polêmicas (e boatos) em torno da banda também se iniciam já na primeira faixa. Muito se especulou, e se especula, sobre a relação entre o Coven e a banda Black Sabbath, pois além de uma canção chamada Black Sabbath, o Witchcraft Destroys Minds ainda conta com o baixista chamado Oz Osbourne. Mesmo com o Sabbath tendo se apresentado com o Coven em algum momento de 1970, todos parecem querer deixar isso no campo das coincidências.

O baile segue com outras danças macabras, como White Witch of Rose Hall, inspirada numa história assombrada jamaicana; Coven in Charing Cross, a descrição de um encontro de “cultistas”, talvez os que estavam prestes a se reunir na primeira faixa; For Unlawful Carnal Knowledge (título maravilhoso), que fala de uma bruxa que queima no alto de uma colina enquanto lança uma maldição nos algozes – uma das mais freak rock do disco; Pact with Lucifer é outra massa, mais próxima de algo comercial, musicalmente falando, mas com letra que remete às histórias clássicas de pacto com o capiroto – bem no molde dos filmes da Hammer – com direito à participação do próprio (na letra), cobrando, através de belos vocais femininos acompanhados por um piano muito bluesy, sua parte do pacto. É sinistro, bonito, e muito excêntrico ao mesmo tempo.

O álbum encerra com a teatral Satanic Mass, que pode ser a culminância do disco, ou seu ponto baixo, a depender do ponto de vista. Musicalmente, é um terreno meio árido de se caminhar. Quem ouve da perspectiva de uma ópera pode achar mais interessante, pois trata-se exatamente do que o título sugere – uma missa satânica musicada, ou uma tentativa disso.

O Coven alcançou um reconhecimento mediano nessa época. Nada que se compare aos grandes, como o Jefferson Airplane, a quem é constantemente comparado (especialmente por causa dos vocais de Jinx), mas a banda não só produziu vídeos de canções como Wicked Woman, como também participou da trilha sonora do filme Billy Jack (Tom Laughlin, 1971) e excursionou com grandes, como Vanilla Fudge e Yardbirds.

Seus álbuns seguintes não receberam a mesma atenção, chegando quase ao esquecimento total, mesmo hoje, com a banda em plena atividade. Bem pudera, a partir do segundo disco, se afastam bastante da sonoridade creepy que tanto marcou e identificou o álbum de estreia, perdendo algo muito marcante de sua identidade.

E as curiosidades sobre o grupo vão além das comparações com o Black Sabbath inglês. O Alice Cooper Group é outro grupo constantemente apontado como “influenciado” pelo Coven – não só pela temática, como pelo aspecto teatral que toma suas apresentações. O pioneirismo do grupo ao trazer imagens ditas “satânicas” nos encartes dos discos (chifres, caveiras, nudez, ‘Hail Satan’) também é bem ressaltado. De toda forma, fica essa dica que é preciosa pra turma que curte rock, ocultismo, e viagens insólitas.

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Pedro Emmanuel

Cearense, jornalista, quase geógrafo (ainda cursando), meio praieiro e ligeiramente antissocial. Minha viagem é aprender o máximo possível sobre a vida e sobre a morte, e assim ir assimilando alguns mistérios da existência. Vivo como se fosse um detetive, mas minha mente vagueia muito. Sou fã de Star Trek, Jefferson Airplane, e do Massacre da Serra Elétrica original.

One thought on “Coven – Witchcraft Destroys Minds & Reaps Souls (1969)

  • 20/10/2023 em 15:27
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    Que deleite ler uma crítica sobre esse disco, que é um dos meus favoritos da vida!
    E o mais fantástico é a banda estar na ativa atualmente, excursionando e tudo mais.
    Iommi vai me perdoar mas, definitivamente, Coven é o “meu” Black Sabbath.

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