4.7
(14)

Red Rooms
Original:Les Chambres Rogues
Ano:2023•País:Canadá
Direção:Pascal Plante
Roteiro:Pascal Plante
Produção:Dominique Dussault, Tim Ringuette
Elenco:Juliette Gariépy, Laurie Babin, Elisabeth Locas, Maxwell McCabe-Lokos, Natalie Tannous, Pierre Chagnon. Guy Thauvette, Charlotte Aubin, Myriam Baillargeon

É muito comum para o fã de horror buscar filmes perturbadores, e na internet não faltam listas enumerando os mais perturbadores de todos os tempos. A maioria desses filmes apresenta pessoas desmembradas, cenas escatológicas ou mergulha em tabus. Mas hoje, se me pedissem para fazer uma lista dos filmes mais perturbadores que já vi, sem dúvida incluiria um filme onde gore e desmembramentos são praticamente inexistentes. Esse filme é Red Rooms, ou, em bom francês, Les Chambres Rouges.

Nos últimos anos, testemunhamos um boom de dois gêneros no cinema: filmes de serial killers e filmes de tribunal. Não foram poucos os filmes desses gêneros que marcaram presença nas listas de mais assistidos nas principais plataformas de streaming, muitos dos quais geraram debate sobre a espetacularização desses crimes e sobre a curiosidade mórbida que parecemos ter em relação aos detalhes desses casos.

Red Rooms toca nesses dois gêneros, mas consegue fugir dos clichês e explorar áreas muitas vezes negligenciadas por eles. Somos introduzidos logo no início do filme ao julgamento de Ludovic Chevalier, conhecido como O Demônio de Rosemont. Chevalier é acusado de assassinar e torturar três jovens entre 13 a 16 anos, além de ter gravado seus assassinatos e vendido as gravações na Deep Web, por meio de chats conhecidos como “Quartos Vermelhos”.

Durante todo o julgamento, Ludovic permanece estático. Sem expressão e confinado numa redoma de vidro como uma espécie de manequim maligno, o serial killer é observado por todos presentes no julgamento: mães das vítimas, advogados, juízes e curiosos que foram acompanhar um julgamento que tem dominado os principais canais de notícias do país.

Entre essas pessoas, destacam-se duas jovens: Kelly-Anne (Juliette Gariépy), uma promissora modelo que parece ter uma carreira de sucesso e que passa seus dias ganhando dinheiro em jogos de pôquer online e indo até o tribunal para observar o julgamento de Ludovic, e Clémentine (Laurie Babin), uma garota pobre do interior que passa suas noites nas ruas defendendo Ludovic a todo custo.

Embora ambas as jovens estejam ligadas pelo serial killer, suas relações com ele são bastante distintas. Enquanto Clémentine está claramente apaixonada por Ludovic e se recusa a acreditar que ele tenha cometido tais crimes perversos, Kelly-Anne começa a nutrir uma certa admiração pelo serial killer. O que torna Red Rooms um filme perturbador é a obsessão de Kelly-Anne por Ludovic e seus crimes. Enquanto Clémentine luta para provar que o Demônio de Rosemont é inocente e vítima de uma grande conspiração, Kelly-Anne não apenas acredita que Ludovic cometeu os crimes, mas também o admira por isso, especialmente pela sua performance.

A escolha da carreira de modelo para a personagem não é aleatória, afinal, Kelly-Anne se apresenta diante de uma lente, vendendo ao observador uma ideia e um produto final. Ludovic estaria fazendo o mesmo? Ao optar por não focar nos crimes do serial killer, mas sim nas pessoas que orbitam ao redor desse tipo de criminoso, Pascal Plante propõe uma reflexão intrigante, tocando em nossa curiosidade mórbida por esse tipo de crime, tudo isso do ponto de vista de uma personagem que parece ser uma garota extremamente comum, mas que gradualmente revela uma personalidade fria e perturbadora.

O espectador frequentemente se pegará questionando por que uma jovem bonita, com uma carreira de modelo promissora, passa seus dias dormindo nas ruas para poder observar um serial killer mais de perto, ou por que ela está tão obcecada por encontrar a gravação que a polícia não conseguiu. Por que alguém desejaria tanto ver uma jovem de 13 anos sendo torturada e assassinada?

Essas questões constroem uma angústia intensa, com movimentos de planos-sequência que nos transportam para dentro do cotidiano dessas jovens, levando-nos a questionar onde se pode traçar a linha entre curiosidade e obsessão.

Ao exibir seu filme em um festival em meados de 2023, Pascal Plante disse que pretendia que esse filme “nos assombrasse mesmo após seu término” – e posso afirmar que ele cumpriu sua missão. Red Rooms é o tipo de filme que fica na sua cabeça por dias e por questões muito diferentes das quais estamos acostumados. É um prato cheio para os fãs de thrillers.

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3 Comentários

  1. Eu a vi como quase nunca retratam mulheres, frieza apatia e principalmente sadismo tudo junto num enorme espaço de luta interna sobre quem ela realmente é e o que ela é capaz.
    O filme a retrata de uma maneira tão interessante que diria que ela é uma psicopata “americana” muito mais realista.
    Homens subestimam muito a capacidade das mulheres de serem hackers e de serem sádicas, o sadismo dele no fim das contas não fere ninguém além dela mesma. Não há ninguém para ela se abrir.

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