Superman IV: Em Busca da Paz
Original:Superman IV: The Quest for Peace
Ano:1987•País:EUA, UK Direção:Sidney J. Furie Roteiro:Christopher Reeve, Lawrence Konner, Mark Rosenthal Produção:Yoram Globus, Menahem Golan Elenco:Christopher Reeve, Gene Hackman, Jackie Cooper, Marc McClure, Jon Cryer, Sam Wanamaker, Mark Pillow, Mariel Hemingway, Margot Kidder, William Hootkins, Jim Broadbent, Stanley Lebor |
“Superman IV foi uma catástrofe do início ao fim. Esse fracasso foi um grande golpe na minha carreira.“, essa fala de Christopher Reeve resume o que boa parte do crítico pensou sobre Superman IV: Em Busca da Paz (Superman IV: The Quest for Peace, 1987). E pensar que foi o primeiro filme da franquia em que ele teve envolvimento com roteiro e produção, além de contar com o afastamento dos produtores Alexander Salkind e seu filho Ilya, e o retorno oficial de Gene Hackman e Margot Kidder. Mas o que teria dado errado nesse filme, dirigido por Sidney J. Furie, sem o tom pastelão do anterior, sem o envolvimento de Richard Lester?
A resposta é The Cannon Group, Inc. A empresa adquiriu os direitos para produzir a próxima continuação e ainda conseguiu convencer Reeve a retornar ao papel de herói, com uma oferta de US$6 milhões de dólares – bem mais que os US$250 mil, que ele recebeu por Superman – O Filme e Superman II – e a chance de colaborar com o enredo. Aliás, Reeve quase dirigiu o filme, mas a falta de experiência fez o estúdio procurar Richard Donner e Wes Craven – o diretor de A Hora do Pesadelo não se entendeu com o protagonista -, até fechar com Furie. Mas, o grande problema de Superman IV foi o corte orçamentário da The Cannon, reduzindo o investimento de US$ 36 milhões para US$ 17 quando o roteiro já estava pronto.
Após umas exibições-teste, com a baixa aceitação, vários cortes foram feitos, deixando o filme sem sentido e com grave problema de ritmo. Todos os problemas influenciaram a opinião pública, mas principalmente a do próprio elenco. Jon Cryer, que interpreta o sobrinho de Lex Luthor, Lenny, chegou a dizer na época sobre as dificuldades financeiras – The Cannon estava envolvida com trinta filmes ao mesmo tempo – e o fato de Superman IV ter sido lançado “inacabado“. Algumas cenas cortadas depois apareceram no lançamento do DVD em 2006, contando aproximadamente 45 minutos do material original.
Mesmo com todos os percalços, incluindo os efeitos especiais, ainda assim gosto mais de Superman IV: Em Busca da Paz do que a comédia-pastelão longa e chata que foi Superman III. O roteiro, de Lawrence Konner e Mark Rosenthal, a partir de um argumento de Reeve, basicamente ignora os acontecimentos do anterior. Não há menção a Lana Lang (Annette O’Toole) ou aos vilões, nem nada que relembre a fase perversa de Superman.
O longa começa no espaço, ambiente que será bastante visitado no filme. Depois de ajudar uma estação espacial em perigo, Superman (Reeve) retorna à sua morada natal em Smallville, negando o interesse em adquirir as terras a um comprador, e recolhe um cristal verde de energia na estrela que usou para chegar ao planeta. Ouve um áudio de sua mãe biológica, Lara (Susannah York), alertando que os poderes ali presentes só poderão ser usados uma única vez. Ao retornar ao Planeta Diário, descobre que seu chefe, Perry White (Jackie Cooper), agora precisa responder a um novo administrador, David Warfield (Sam Wanamaker), com pretensões de transformar o jornal em publicações sensacionalistas, típicas de tabloide. Ele traz para o local sua filha Lacy (Mariel Hemingway, que quase ganhou o Framboesa de Ouro como Pior Atriz do filme), que se interessa por Clark Kent.
As notícias sobre a corrida armamentista entre EUA e União Soviética fazem o Superman discursar nas Nações Unidas sobre acabar com todas as armas nucleares do mundo. Ele é visto recolhendo mísseis diversos e levando ao espaço, enquanto Lex Luthor (Hackman) é ajudado por seu sobrinho Lenny a fugir da prisão. “A maior mente criminosa do mundo” rouba um fio de cabelo de Superman em exposição para uso genético na criação de um clone de Superman misturado com composição nuclear. Quando o herói atira os mísseis no sol, incluindo o que contém o cabelo, nasce um homem poderoso, chamado por ele de Homem Nuclear (Mark Pillow).
Perdendo a força sem o contato com o sol, ele é orientado por seu “pai” Lex Luthor a enfrentar Superman em vários confrontos que acontecerão em Metrópolis, com o arremesso da Estátua da Liberdade (um dos péssimos efeitos do filme), nas Muralhas da China e até mesmo na Lua. Além dessa preocupação, sabe-se lá a razão, Superman e Clark Kent resolvem ao mesmo tempo participarem de um jantar na casa de Lois Lane, com a presença de Lacy. Tudo para permitir momentos em que um cria uma distração para aparição do outro. São sequências divertidas até, mas que não acrescentam muita coisa ao filme.
Superman IV deixa transparecer mesmo o desgaste da franquia. Já não existiam muitas ideias a serem exploradas, caso não envolvessem outros inimigos conhecidos dos quadrinhos. A falta de verba deixou o enredo bastante acelerado – é o único filme a ter apenas 1h30, devido aos cortes – e algumas ideias são perdidas entre as cenas. Pode-se citar como exemplo o esforço inicial de Lois Lane para mostrar que está estudando francês, algo sem propósito, ou a cena em que ela é salva no metrô, sem que o Superman precisasse fazer qualquer coisa.
E há um tom melancólico por saber o que o futuro reservaria a Christopher Reeve e Margot Kidder. Temendo que seu rosto fosse apenas associado ao personagem, ele acabaria sofrendo um acidente de cavalo que o deixaria tetraplégico até sua morte em 2004. Sofrendo de outros problemas de saúde, incluindo quedas de cabelo, o que o obrigou a usar peruca nos terceiro e quarto filmes, o astro de Superman tinha muito talento como ator e teve sua carreira dificultada pelas poucas ofertas no cinema e pelo terrível acidente. Já Kidder, que teve uma paralisia momentânea devido a um acidente de carro, também seria eternamente lembrada como Lois Lane até seu suicídio em 2018.
De todo modo, ainda são a representação definitiva de Superman e Lois Lane. Haveria então um longo descanso ao personagem até o filme de 2006, Superman Returns, que descarta as continuações e tenta dar um novo fôlego ao herói. Além deste quarto filme e do retorno, a franquia original é lembrada pelo spin off Supergirl, de 1984, apresentando uma prima de Superman. Mesmo assim, dentre todos, ainda o que vale a pena ser visto e revisto, de maneira saudosa e que ainda mantém o entretenimento, é o absoluto de Richard Donner, lançado em 1978, e constantemente reprisado na TV aberta, com ótima dublagem.
Divertidamente ruim kkkkk. Prefiro esse que o terceiro filme.