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A sessão Animação Fantástica, exibida no feriado de 7 de setembro de 2016 na abertura do festival, foi a que mais trouxe brilho aos olhos dos espectadores, incluindo os jurados, do 7º CineFantasy. Não é para menos que três das seis produções exibidas foram indicadas a prêmios, seja pelos efeitos bem realizados ou por enredos envoltos em linguagem poética. Um coelho sacana que enfeitiça através de cogumelos, um peixe que se apaixona pela voz encantada de uma sereia, a paixão repentina por um cadáver, uma viagem futurista, um boneco no extermínio de sua solidão ou uma roedora que se sente atraída por uma criatura gigantesca…À exceção do nacional Mobios, todos os demais tiveram contextos românticos, mostrando a transformação dos desejos e a busca por uma correspondência de sentimentos.

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A Noiva do Coelhinho é uma adaptação lisérgica de um conto dos Irmãos Grimm feita em desenho animado por Rafael Franco, de Goiás. Nela, uma garota é importunada pela mãe para que livre a horta de um coelho. Com medo da criaturinha, a mãe a incentiva a agir pela fragilidade do animal. Eis que entra a bela ideia de Franco ao fazê-la encontrar na mata próxima um homem com uma máscara de coelho. Ele a oferece cogumelos, fazendo-a desmaiar e acordar numa realidade onde se vê como uma pretendente do coelho, agora em sua composição animal, sendo agredida por ele e por seus amigos. Essa alteração na narrativa aproxima o contexto da violência urbana tão comum na sociedade moderna, tocando temas polêmicos como pedofilia, cárcere privado e abusos contra a mulher. O final da animação também é diferente do conto, promovendo uma vingança da garota para facilitar sua fuga. Com traços belíssimos, lembrando realmente uma fábula infantil ainda que o conteúdo não seja tão inocente, A Noiva do Coelhinho é uma bela realização de Rafael Franco, criativa e com uma mensagem social, com uma moral bem oportuna.

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Da França, sob o comando de Yann Goodfaith, vem a animação estilosa de 15 minutos Sirenashow, lançada em junho de 2015. Nela, um peixe sai de seu habitat numa busca frenética por uma Sereia, cujo carro de som o atraiu pelas ruas da cidade, causando inúmeras confusões, inclusive com a polícia. Mas, diferente de desenhos como Procurando Nemo e outras animações tradicionais, o peixe viaja em alucinações que misturam a realidade com seu universo aquático, permitindo uma mudança inevitável da linguagem infantil para a adulta. O resultado é belíssimo por conta de sua dramaticidade e do pessimismo final, a partir de uma revelação que o espectador já terá imaginado a possibilidade por diversos momentos, mesmo que não acreditasse em sua concretização.

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Formol 105, produção espanhola de Martín Rodríguez Vázquez, também tem um enredo triste, incluindo sua conclusão satisfatória. Dois agentes funerários estão preparando mais um corpo para o enterro – um com mais ação do que o outro, que apenas acompanha o processo com seu vício. Mas, o rapaz acaba se apaixonando pelo cadáver, enxergando semelhanças com sua aparência física como se visse ali sua alma gêmea. Em um momento de ilusão, ele encontra o cadáver com quem se relaciona intensamente. Simples em sua narrativa silenciosa, esse curta-metragem de cinco minutos faz jus a sua seleção para o festival pela doçura de suas cores frias e pela ousadia de seu conteúdo.

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O curta de Carlos Nogueira, Mobios, foi o que eu menos gostei dentre todos os exibidos na sessão. Não que ele não seja bom, pelo contrário, é uma animação muito bem realizada, mostrando as engrenagens e os personagens que compõem a máquina em sua formação. Mas, numa seleção de produções românticas, sua narrativa mecânica é a que mais bebe da ficção científica e, por conseguinte, destoa do grupo. Visualmente, é impressionante, assim como o conceito, desde o atropelamento inicial e sua explicação no último ato. Estabelece uma belo conflito Homem X Máquina e evolução, mas faltou a poesia que sobrou nos demais curtas.

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A animação de Jonas de Faria Brandão e Camila Kamimura é maravilhosa, como um conto de fantasia daqueles que são narrados para os pequenos à beira do berço. Nele, uma ratinha meiga tem problemas culinários e sai em busca do item que necessita para sua receita, encontrando no caminho uma larva gigantesca, devoradora. A paixão de ambos é quase simultânea, mas a diferença de tamanho pode ser um problema até mesmo no primeiro encontro na casinha da Miss em formato de ovo. A solução do curta Miss & Grubs é brilhante assim como a conclusão surpreendente em um grotesco final feliz. Uma lição sobre como lidar com as diferenças, quando a coisa amada parece ter encontrado uma moradia dentro de você. Miss & Grubs ganhou os prêmios Melhor Curta Fantasia e Melhor Criatura de Curta, merecidamente.

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Fantoche é uma obra-prima. Realizado a partir de financiamento coletivo, com efeitos em stop-motion agradáveis e sinceros, o curta-metragem francês de Jonathan Rochier é pura poesia. Não só nos simbolismos da combinação de imagens – como o acessório de cordas que manipula a marionete representado como cruz – como na narração mágica, depressiva e poética. A solidão que atormenta Antoine o faz enxergar no Fantoche de madeira a solução para seu coração vazio. Enquanto produz com delicadeza seu objeto de carinho, ele tem visões assustadoras de bonecos vermelhos e disformes, e o incêndio de sua oficina diluindo sua concepção. Linda produção que mereceu sua oportunidade de ganhar a luz do dia, e também a indicação dos jurados do CineFantasy como um dos melhores curtas exibidos, ganhando o prêmio de Melhor Curta Animação.

Com esses pequenos comentários, é possível perceber o quanto cada segmento da sessão teve sua dose de empolgação e contribuíram para iniciar o festival de maneira satisfatória. Outras animações estiveram presentes no CineFantasy, mas competindo em outras categorias ou como parte de curtas, sem causar o mesmo brilho nos olhos dessas pequenas joias.

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