Prey (2017)

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Prey
Original:Prey
Ano:2017•País:França
Desenvolvedora:Arkane Studios•Distribuidora: Bethesda Softworks

Ao acordar em seu belo apartamento numa ensolarada manhã de 2035, Morgan Yu rapidamente se veste a pedido de seu irmão para chegar a tempo de fazer os testes que o capacitarão para entrar em Talos I, a maior estação espacial de pesquisa e desenvolvimento já criada pelo homem. Quando os testes estranhamente não saem como esperado, as coisas ficam ainda mais tensas no momento em que o chefe da equipe é consumido por um tipo de monstro, Morgan desmaia e… acorda no mesmo apartamento, como se nada tivesse acontecido, sem memórias de antes disso, apenas para descobrir que tudo ao seu redor era uma simulação e ele já estava em Talos I, com toda a estação dominada por uma raça alienígena mortal.

Esse é o comecinho de Prey, jogo desenvolvido pela Arkane Studios que funciona como um reboot do famoso lançamento de 2006, mas sem possuir nenhuma ligação em seu enredo.

Em primeira pessoa e na pele de Morgan Yu, que pode ser um homem ou uma mulher dependendo de sua escolha, o jogo a priori passa uma impressão de survival horror no espaço ao estilo Dead Space, para só depois entendermos que há algo muito mais grandioso e perigoso na gigantesca estação espacial tomada pelo caos e repleta de perigos.

Explorar é preciso

Toda Talos I foi construída com um único objetivo: reunir as mentes mais brilhantes da Terra e colocá-las para trabalhar no desenvolvimento dos Neuromods, implantes cerebrais que fazem com que você se torne um Einstein, avançando seu cérebro em habilidades incríveis instantaneamente. O problema é que todo o experimento eticamente duvidoso foi baseado nos estudos de uma raça alienígena chamada Typhon, mortal e sem consciência racional, cujo único objetivo instintivo é matar. Morgan é um dos principais pesquisadores, mas ao não lembrar de nada devido a retirada dos Neuromods instalados em seu cérebro, precisa reconstituir seus passos por toda estação, entender o que está acontecendo, o mal que fez e encontrar uma maneira de acabar com a ameaça.

E é daí que vem um dos maiores trunfos de Prey, a sua gigantesca capacidade de exploração. A ambientação é de longe seu ponto mais empolgante, com grandes espaços divididos por níveis, todos interligados e que te dão várias opções para avançar. Não consegue abrir uma porta? Vá pelo teto, ou pela ventilação, ou use os poderes Typhon para virar uma caneca e entrar por um vidro de janela gradeada quebrada, ou simplesmente use um lançador de setas de esponja para apertar o botão que abrirá seu caminho.

Explorar é extremamente prazeroso em Talos I. E essencial, através de um conceito de “simulação imersiva”, onde a estação é na verdade um personagem, marcante na trajetória como um todo. Vá direto para as missões principais sem encontrar todos os recursos possíveis nos ambientes ao redor antes e sua morte pelas inúmeras ameaças é certíssima junto à falta de materiais para o combate.

Aliás, o gerenciamento de recursos é algo complicado em Prey e se descuidar pode fazer com que seja impossível chegar até o fim do jogo hábil o suficiente. Encontrar munições, granadas, itens de cura ou de energia são razoavelmente raros, você terá que criá-los. A partir da reciclagem de materiais (um recurso bastante engenhoso) é que você terá mais oportunidades de que o jogo se torne equilibrado.

O que ser e como ser

Ter seis árvores de habilidades também ajuda. Três são humanas e três concedem os poderes Typhon. É necessário juntar Neuromods para ativá-las, por isso é essencial escolher com sabedoria o que ativar. Aumentar sua força física vai fazer com que os caminhos bloqueados abram mais fáceis, mas e se o inventário for ainda mais expandido? E se deixar sua explosão cinética vale mais a pena do que o poder de se transformar em objetos do ambiente para fugir? Assim como todo o jogo, as próprias habilidades tem liberdade aqui. Você pode pensar em várias soluções e elas provavelmente vão funcionar. E se uma não funcionar, é hora de usar as tantas outras. Prey é um jogo que recompensa mais se você ousar mais, ao invés de seguir os caminhos óbvios.

Mas nem tudo é perfeito dentro dessa ideia. Mesmo que tenha tamanha construção e sendo sim uma superprodução, o maior problema de Prey vem justamente de sua desajeitada (para dizer o mínimo) jogabilidade de combate. A mira no jogo é simplesmente horrível e não importa o quanto você evolua, as poucas armas disponíveis, como as clássicas pistola e a escopeta, sempre será necessária muita munição para derrubar qualquer inimigo que tenha mais que a metade do seu tamanho. Para os grandalhões Telepatas ou os irritantes e gigantes Pesadelos você irá penar com o uso de munição. E como há muitos inimigos no jogo inteiro, constantemente, morrer dezenas de vezes definitivamente fará parte do processo. O diferencial aqui vem justamente dos poderes Typhon, que melhoram muito a jogabilidade, mesmo não podendo serem usados frequentemente, e da arma Gloo, que gera um tipo de concreto capaz de paralisar inimigos e ser usado em construções para avançar no jogo.

E mesmo sendo uma superprodução, o visual de Prey não é exatamente dos mais belos nesta geração. Muito colorido, suas texturas de ambientes nem sempre são das mais admiráveis, parecendo até um jogo mobile em alguns momentos. A iluminação exagerada também tira qualquer ideia de se aproveitar melhor a boa quantidade de elementos de terror que o jogo possui, em salas que nunca remetem a uma ideia de claustrofobia. Um grande ponto positivo fica para sua trilha sonora, que passeia por batidas eletrônicas e até algum pop/rock. Os efeitos sonoros também são bem caprichados. Mas evite a dublagem brasileira que tira muito da emoção dos personagens.

Com tantos caminhos possíveis de se explorar, a campanha em Prey se torna longa, com cerca de 30 horas, mesmo sendo um jogo linear. Esse tempo ficará ainda maior se você quiser ver todos os finais e realizar todas as missões paralelas do jogo, a maioria muitíssimo bem escrita e não estando ali à toa, com boa parte sendo bem mais interessante que a própria campanha principal.

Aliás, é das interações humanas que vem um dos pontos mais marcantes de Prey. Guiado exclusivamente por uma máquina que é sua própria simulação cerebral e com a missão de destruir Talos I e toda sua pesquisa, salvar seus companheiros é completamente opcional no jogo. Ainda assim, mesmo que todos sejam NPCs, nenhuma dessas escolhas será ignorada. Cada pessoa alí tem uma história, a maioria ligada a você, fazendo inclusive com que a imagem de Morgan seja desconstruída e saibamos o pior lado de nosso protagonista.

Fôlego para o gênero

Com tudo isso, é de se imaginar que as mecânicas de Prey iriam evoluir em seus momentos finais. E este acaba sendo um outro ponto negativo. A falta dessa evolução deixa o jogo maçante naquilo que deveriam ser seus melhores momentos, faltando inclusive a ideia de chefões e grande batalhas, já que há pouca diversidade de inimigos. Ainda assim, o enredo mantém seu nível de forma crescente. A conclusão do jogo é explosiva na mente e como toda escolha tem um peso em sua jornada, várias combinações de finais são possíveis.

Com seu poderoso e complexo roteiro de ficção científica, Prey brinca com nossas perspectivas daquilo que sempre imaginamos para o futuro da humanidade acompanhado dos avanços científicos e tecnológicos, com os impactos diretos disso para determinar o desenvolvimento de nossa sociedade, mas, principalmente, o nosso individual.

Mesmo com defeitos técnicos difíceis de ignorar, a verdade é que este jogo pode se tornar viciante e muito empolgante. A liberdade de resolução de problemas compensa nossa inteligência, com nosso cérebro o tempo todo gritando diversas soluções para uma única situação e você desejando experimentar a melhor.

Prey é bastante satisfatório num tipo de jogo cujo gênero anda em um triste esquecimento. Não há mais um grande fascínio da indústria em jogos espaciais AAA, muito menos mesclando elementos de terror. Com sua instigante trama e elementos de exploração atraentes, este é um produto que dificilmente podemos ignorar.

Prey está disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC.

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Samuel Bryan

Jornalista, acreano, tão fã de filmes, games, livros e HQs de terror, que se não fosse ateu, teria sérios problemas com o ocultismo. Contato: games@bocadoinferno.com.br

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