Possessão
Original:Possession
Ano:1981•País:França, Alemanha Direção:Andrzej Zulawski Roteiro:Frederic Tuten, Andrzej Zulawski Produção:Marie-Laurie Reyre Elenco:Isabelle Adjani, Sam Neill, Margit Carstensen, Heinz Bennent, Carl Duering |
Quando se fala em “possessão” em termos de cinema de horror, é natural imaginarmos imediatamente todo esse subgênero, expandido a partir do clássico O Exorcista, de 1973, e que chega aos dias de hoje com poucos lapsos de brilhantismo ao longo dos anos. A possessão demoníaca é até hoje uma das fantasias (?) cinematográficas que mais rendem argumentos, e como temática absolutamente cristã, os vilões ou antagonistas são sempre associados a uma moral rígida que foi desvirtuada e merece ser corrigida. O cineasta polonês Andrzej Zulawski subverte essa lógica em Possessão, lançado em 1981, ao tentar racionalizar a fé, e lançar uma crítica muito contundente às grandes estruturas sociais.
Sam Neill e Isabelle Adjani dão vida a um casal em véspera de separação. O marido, Mark, deixou um emprego de alto escalão (que nunca sabemos o que é) para estar em casa com o filho e a esposa, Anna, que está, literalmente, surtando. Isso fica claro já na primeira interação do casal, ainda nos primeiros minutos de filme. A partir desse momento, seguimos a câmera de Zulawski por toda essa perturbação conjugal: Anna quer deixar Mark, mas Mark não aceita, e quer entender os porquês.
Anna, por sua vez, também na tentativa de entender os próprios porquês, embarca numa viagem pesada. O que começou como um dilema existencial/filosófico saudável a respeito do que se quer e do que se pode ter, culmina numa quase compreensão que a leva à beira do colapso psíquico. Em sua inquietude, ela racionaliza as emoções associando sua falta de felicidade à falta de fé e, consequentemente, à falta de orientação ou sentido para a vida.
No bojo dessa sinuca filosófica, toda a questão feminina se apresenta, por meio das privações impostas pelos diversos papéis que a sociedade obriga às mulheres. O argumento, que pode ser percebido de forma superficial como o clichê do “vazio existencial”, mostra ao longo do filme toda a sua força, profundidade e gravidade, ocasionando na personagem uma série de transtornos psicológicos, com seus respectivos efeitos no corpo físico.
E nessa batalha espiritual, onde dois agentes, corpo e mente, que não conseguem se unir anseiam em desespero por serem “possuídos” por um sentimento qualquer que os integre em harmonia, Isabelle Adjani entrega absolutamente tudo para o público. Baseado em outros filmes em que a vi em cena, esse é disparado seu melhor trabalho. Apesar de parecerem exagerados alguns reflexos do seu papel, é importante lembrar que estamos observando alguém que está à beira da loucura em cena.
Sam Neill também não fica atrás. Como marido abusivo, passivo-agressivo e autoritário (e com a estética ideal para isso), ele também entrega uma atuação muito boa vivendo seu inferno pessoal com o término do relacionamento e expurgo de seus próprios demônios. Seu processo de cura, por sua vez, é mais equilibrado que o de sua esposa, visto que as estruturas sociais facilitam a vida dos homens enquanto aprisionam a das mulheres (daí o dilema inicial da esposa da esposa e sua trágica consequência).
A trilha sonora cortante de Andrzej Korzynski dá o tom de ansiedade pela iminência do colapso, colapso que pode ser pressentido por todo o filme, seja nas disputas emocionais do casal, seja nas passagens pelas ruas vazias de Berlin, cidade onde se passa a trama e, àquela altura, igualmente dividida por um muro com duas correntes de pensamento distintos – tal qual a protagonista da história. Tudo em Possessão é ambíguo!
Lá pelas tantas, o filme começa a ficar meio onírico e ganhar tons de fantasia de horror e surrealismo, mas a essa altura, o recado já foi dado. Tendo a estrutura familiar como foco da experiência, ele mostra que o inferno é construído diariamente em sociedade, que alimenta os demônios do homem com ideias deturpadas e ultrapassadas sobre ordem, liberdade, o bem, o mal, poder, e tantos outros assuntos.
O roteiro, escrito em parte pelo próprio Zulawski, nos apresenta com maestria as nuances do transtorno do casal, enquanto a direção nos lança pelos fluxos de consciência dos personagens, ora lógicos, ora emocionais, sempre confusos, mas com momentos de grande clareza.
Possession é um filme pesado, mas muito “saboroso” de se assistir – se é que isso é possível. É daquelas produções completas, redondas, “de arte”, que estimulam todos os sentidos físicos com várias camadas de perspectiva que merecem ser estudadas, pois tudo se integra de forma profunda, quase sinestésica. Para além da arte e do espírito que a obra reflete, o filme é uma fotografia magistral de seu tempo, com seu enquadramento político, filosófico e comportamental que coloca de forma lógica o demônio numa posição muito paradoxal aos olhos de uma estrutura cristã e conservadora: ele surge na privação da liberdade.
Assisti recentemente e achei muito bom, mas infelizmente fiquei curioso pra saber sobre a criatura, como ela começou a agir e tomar posse da protagonista, e pelo jeito isso já acontecia antes mesmo do início do filme. Mas ficamos sem um nome, sem saber o que diabos o marido trabalhava, o que eram aqueles homens, eles tinham a ver com o regresso da criatura de alguma forma, também? É tudo tão ambíguo que estamos desacostumados nos dias de hoje com esse tipo de arte. Minha namorada por exemplo não gostou do filme, chegou a parar de prestar atenção ao enredo.
So quem ler literatura do hp lovercraft entendi a premissa, é um pouco complexo, esse filme é do genero horror cosmico, horror cosmico tem muito de terror cosmico, a mulher no caso ela fez um pacto com um deus lovercraftiano, os deuses do horror cosmico a base deles é levar as pessoas a loucura e como a mulher tava com o pacto ela tipo estava amaldiçoada como se fosse um virus que espalha a loucura. Por isso os personagens começam a pirar, e essa moça ela tava tipo sentido falta da presença do marido e fez o pacto com esse deus pra substitui-lo. O terror cósmico é um gênero que só funciona bem em livro pq nas telas tira o mistério e quando adapta para o cinema fica confuso
Esqueci de mencionar que o nome da criatura se chama Nyarlatothep
Mas e quanto a criatura que surge no filme, se, pelo roteiro e critica aqui exposta se trata de algo psiquico, o corpo assassinado do investigador bem como as partes de corpos na geladeir, há como explicar que outros a enxerguem ?
Pesquise sobre Nyarlatothep e achará a resposta. O filme n deixa claro pq o estilo do filme só funciona em livro q é o terror cósmico. Só quem leu Hp sabe o q e a criatura pq se o filme tentar explicar fica estranho. É algo q só em livro funciona kk
É um dos poucos filmes que te conquistam mais pela identificação com as sensações que ele transmite do que pela interpretação ou “entendimento” dele. Não conseguiria explicar muita coisa que vi nele, mas me identifiquei com cada sensação que ele transmitiu. A quebra de todas as “verdades” psicológicas que temos sobre sociedade, família e religião é transmitida aqui de forma brutal. E não dá pra não comentar que a interpretação de Isabelle Adjani neste filme é umas das mais espetaculares do cinema como um todo. É um clássico não só do terror psicológico, mas um clássico da sétima arte.
ótima critica um dos poucos filmes que considero 10/10
fiquei tenso por todo o filme e achei maravilhoso demais
Recomendo sempre a amigos mas raramente assistem
Eu entendi e ao mesmo tempo não entendi porra nenhuma desse filme, porém adoro hahaha
Sei que tem muitas metáforas e explicações,e cabe a cada um interpretar de um jeito.
Enfim, muito impactante e realmente, ótimas interpretações, principalmente da Isabelle,a cena dela naquele colapso é fodastica 🤣
Finalmente uma crítica no Boca do Inferno desse filme que está no meu top 5 de filmes preferidos de todos os tempos! Ótimo texto.