Incêndios (2010)

4.4
(7)

Incêndios
Original:Incendies
Ano:2010•País:Canadá, França
Direção:Denis Villeneuve
Roteiro:Denis Villeneuve, Wajdi Mouawad
Produção:Kim McCraw, Luc Déry
Elenco:Lubna Azabal, Maxim Gaudette, Mélissa Désormeaux-Poulin, Rémy Girard, Abdelghafour Elaaziz, Allen Altman, Anthony Ecclissi, Bader Alami, Baya Belal, Karim Babin, Mohamed Majd, Nabil Sawalha, Yousef Shweihat

Em Incêndios, belíssima obra indicada ao Oscar na categoria de melhor filme estrangeiro e responsável por colocar o diretor franco-canadense Denis Villeneuve no mapa, somos apresentados aos irmãos gêmeos Jeanne e Simon no dia do falecimento de sua mãe. Em seu testamento, Nawal Marwan pede que seja enterrada sem caixão, nua e de costas, sem que haja qualquer lápide em seu túmulo e, além dos bens deixados por ela, os dois jovens recebem um par de envelopes, um que deve ser entregue ao pai que acreditavam estar morto, enquanto que o outro, ao irmão cuja existência desconheciam. Somente após concluir essa tarefa os dois receberão uma carta endereçada a eles e, assim, ela poderá se considerar digna de ter um nome sob sua sepultura.

Um passaporte com caracteres árabes, uma foto dela quando jovem e um cordão com um crucifixo: estas são as únicas pistas que representam o início de uma jornada em busca do passado da mãe. Em meio a um conflito interno, os filhos tentam descobrir a intensa trajetória de uma mulher que eles conhecem tão pouco quanto quem assiste ao filme e revelar segredos sombrios a respeito de suas próprias origens. Nesta partida do Canadá ao Oriente Médio – em um severo país que nunca é mencionado, mas que representa os conflitos de vários povos e regiões – eles serão brutalmente atingidos pelos eventos que transformaram esta vida marcada pela guerra e pelo ódio.

Quando pesquisamos quanto ao gênero que este longa metragem se enquadra ficamos diante de dois resultados, drama e thriller. O termo “thriller” não consta nos dicionários de língua portuguesa, é um conceito literário ou cinematográfico que utiliza características como a tensão, horror e euforia para manter a plateia conectada com a história e comovê-la a partir de acontecimentos inesperados. Esta película em especial tem um impacto emocional devastador assombrosamente bem feito e é por isto que ela está aqui no Boca do Inferno.

Algo importante que é preciso se ter em mente ao assistir estes 130 minutos de barbárie – que irão ficar na sua cabeça durante um bom tempo – é que Incêndios vai além do título. Apesar de trazer alguns incêndios na trama, como cristãos ateando fogo em um ônibus com muçulmanos ou orfanatos incendiados, as chamas deste filme que se apresenta em capítulos estão na alma, no sofrimento, nos terrores de massacres, estupros, torturas, na intolerância religiosa, no genocídio de refugiados e no poder de destruição de uma guerra.

Os paralelos com conflitos históricos que Villeneuve trata são uma maneira de nos fazer lembrar um mal que ocorre todos os dias, mas que por estar em regiões tão longínquas não revolta como deveria e, talvez por isso, choque por toda sua brutalidade crua, não sendo recomendado para todos os tipos de audiência.  Para o espectador ocidental que possui fortes raízes cristãs, pode ser incômodo ver imagens consideradas santas pela Igreja Católica estamparem as armas de genocidas enquanto estes assassinam crianças ou ateiam fogo em pessoas inocentes, mas é uma forma muito sagaz de retratar o fanatismo sob uma ótica muitas vezes ignorada e questionar o “matar em nome de Deus”, prática que muitas vezes é apenas associada ao Islamismo.

Apesar de ter um ritmo lento, confuso, o ótimo trabalho de montagem e direção consegue fazer com que qualquer pessoa minimamente empática queira se vingar, e por isso pode ser brilhante. Indo em contramão ao que aconteceria no cinema norte-americano, por exemplo, aqui não vemos uma jornada propriamente de redenção, violência gráfica digna de grandes roteiros tarantinescos ou emoções piegas e até o final levemente inverossímil consegue ser um oásis em meio a tantos horrores.

Com um enredo muito bem estruturado e com um final intencionalmente sem esperanças, é bem provável que Incêndios seja um daqueles filmes geniais que todos devem assistir pelo menos uma vez na vida. Intenso, perturbador, emocionante. É o horror de uma vida em chamas, do sofrimento em ser mulher, das chagas de ser mãe, da luta de um povo pelo direito de existir. Uma obra grandiosa e impactante, ao qual é impossível ficar indiferente.

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Média da classificação 4.4 / 5. Número de votos: 7

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Bianca Bezerra

Fotógrafa, escritora e estudante de produção audiovisual que precisa de doses diárias de cinema e Heavy Metal para manter a sanidade. Não dispensa uma história sinistra, sobretudo se for em uma boa e velha campanha de RPG! É apenas um ser humano qualquer, feito de carne e ócio.

5 thoughts on “Incêndios (2010)

  • 03/01/2023 em 06:28
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    Por que usar o termo “franco-canadense” se ninguém usa o termo “anglo-canadense”. Parece querer dizer que os canadenses francófonos são “os outros canadenses “.

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    • 05/09/2023 em 21:20
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      É por conta do filme ser uma parceria entre produtoras francesas e canadenses, meu bbom homem

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  • 19/03/2022 em 08:32
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    Também vi uma so vez, mas até hoje lembro até hoje da sensação. Fora o final..pqp!

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  • 14/03/2022 em 09:01
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    Simplesmente uma obra prima do cinema atual.

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  • 12/03/2022 em 20:24
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    Nada que eu comente aqui ou daqui há anos vai acrescentar algo a esse filme perfeito. Se você não assistiu, pare o que você está fazendo e assista agora.

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