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Resident Evil; Village
Original:Resident Evil; Village
Ano:2021•País:Japão
Desenvolvedora:Capcom •Distribuidora: Capcom

Resident Evil é uma franquia tão importante para o mundo dos jogos de terror, que costumo dizer que “quando Resident vai mal, o gênero todo vai mal”. Depois do qualquer coisa Resident Evil 5 e do péssimo Resident Evil 6, mesmo as vendas em alta dos títulos não foram capazes de manter o nome fortalecido. Mais do que isso, a geração marcada pelo Xbox 360 e o Playstation 3 não teve jogos de terror tão marcantes e o gênero ficou anos em baixa nesse mercado. A franquia precisou fazer uma pausa, pensar em novas ideias, estratégias, mudanças e assim nasceu Resident Evil 7: Biohazard, que com um novo protagonista e uma nova proposta conquistou uma leva de fãs e foi sucesso de crítica, público e vendas. E depois de um novo boom dos jogos de terror no mesmo período, claro que RE7 ganharia uma continuação direta, agora em Resident Evil: Village, onde para não ser mais do mesmo, o jogo abraça suas origens ao mesmo tempo em que dá um salto ainda maior em um de seus elementos mais marcantes: uma boa farofada de ideias absurdas.

Assim, Resident Evil: Village começa nos colocando um pouco no futuro, onde Ethan e Mia Winters tentam levar uma vida normal após os traumatizantes eventos na Mansão Baker, agora longe dos Estados Unidos e criando sua filhinha Rose em algum lugar meio esquecido da Europa.

Após uma rápida sequência de eventos casuais com a família – ainda que o trauma esteja lá refletido inclusive no treinamento militar que Ethan recebeu – a paz do casal é violentamente massacrada por um ataque brutal coordenado por Chris Redfield, que no melhor estilo “ou você morre herói, ou vive o suficiente para ser vilão” metralha Mia até a morte, invade a casa e leva Ethan e Rose sem maiores explicações. Durante o nevado caminho, o camburão que leva Ethan misteriosamente tomba, os soldados que estavam com ele são mortos, Rose some, e para encontrá-la ele acaba esbarrando em uma vila que beira a medieval, mas que foi notavelmente arrasada por forças sobre-humanas. E é aí que Resident Evil: Village começa de verdade.

Vale ressaltar aqui que ao longo de seus praticamente 25 anos de existência, a franquia de Resident Evil foi praticamente a criadora do survival horror como subgênero dos jogos de terror, mas ela mesma fugiu disso. Foi Resident Evil 7 que marcou o retorno a essa fórmula de medo pela sobrevivência, mas é em Village que ação e terror nunca foram tão bem equilibrados em seus jogos.

Com uma vila que serve de base para as áreas do jogo que realmente precisam ser exploradas, temos aqui um game que beira o mundo semi-aberto. A vila é razoavelmente grande, cheia de surpresas, buracos para se meter, vai e volta com itens que abrem compartimentos ou áreas, sustos para levar e uma tensão frequente pelo medo do desconhecido. E a visão em primeira pessoa, ainda que tenha sido o ponto mais criticado em RE7, volta aqui, fazendo com que a ação possa ser frenética quando necessária, mas sem nunca perder a tensão em seus momentos mais intimistas.

E após uma escalada de eventos bizarros na vila ao descobrir que ela foi praticamente aniquilada e obter algumas informações junto a moradores escondidos, Ethan se vê novamente no meio de uma grande confusão, onde um bizarro culto formado pela enigmática Mãe Miranda e seus quatro Lordes – criaturas inspiradas em clássicos dos filmes de terror – possuem um interesse especial em Rose.

É aqui que vale dizer outra coisa sobre as qualidades técnicas de Village: o jogo é absurdamente lindo. Em um PC bem equipado ou os consoles de nova geração, seu visual fotorrealista em 4k é impecável, onde tudo é incrivelmente bem feito. A franquia de Resident Evil já vinha servindo essa sensação há tempos desde a implantação do RE Engine, mas aqui são entregues seus gráficos mais bem feitos, realistas e com efeitos de luz surpreendentes no HDR. Com destaque também a ser o primeiro jogo da franquia a ser dublado em português. E ficou bem decente, ainda que a versão original em inglês tenha levado até prêmios.

E tudo isso só fica mais impressionante quando chegamos a área da primeira inimiga. A vampirona Lady Dimitrescu com seus quase três metros de altura conquistou o mundo como meme e despertou até desejos ocultos em milhares de pessoas. Em seu magnífico castelo repleto de segredos e filhas vilãs, temos aqui alguns dos melhores momentos do game, inclusive cenas gritantes, como uma certa mão sendo curada colando roupa e tudo.

Aliás, é interessante como Village possui uma série de inimigos diferentes, cada um à sua maneira de serem abatidos. Munição não é exatamente escassa, mas precisa ser usada com muita sabedoria. E por causa de um carismático e duvidoso vendedor de itens, temos um incrível sistema de recursos para compra de armas, itens, upgrades e até saborosas refeições de melhorias de status. É algo muito mais amplo daquilo que apareceu pela primeira vez em Resident Evil 4, e é muito bem vindo porque é realmente divertido brincar de administrador nas pausas do game.

E embora a experiência seja bastante linear, há surpresas o tempo todo, inclusive pela forma como as áreas possuem propostas diferentes. Enquanto o castelo é uma área mais dedicada à exploração e puzzles, a casa de bonecas é um local de terror psicológico, enquanto as áreas alagadas são ambientes grotescos e a fábrica de lobisomens é um espaço de ação claustrofóbico.

Inclusive, ainda sobre o elogiado equilíbrio entre ação e tensão, talvez esse auge tenha sido encontrado na batalha contra Heisenberg que é o cúmulo da breguice e do divertimento ao mesmo tempo. Mas, infelizmente, há uma queda brusca no game depois daí.

Tanto o jogo em si como o arco narrativo tomam rumos não exatamente agradáveis. É novamente o resultado de tudo ter que ser bem explicado e amarrado pela Capcom em seus games da franquia, principalmente por não abrir mão da lore iniciada 25 anos atrás. É um exagero de explicações didáticas e revelações meia boca, com uma decisão bem questionável e até frustrante quanto ao destino dos personagens envolvidos.

Para alguns, sua duração também pode ser um problema. Menos de 10 horas completam tranquilamente a campanha pela primeira vez, ainda que revisitar o jogo para cumprir seus desafios seja bastante prazeroso. Felizmente, o modo Mercenários está presente e pode ser bem viciante, fazendo você se divertir por horas indefinidas.

E sim, Village é um jogaço. Impecável em praticamente tudo aquilo em que se propõe e tecnicamente primoroso. É sim um jogo de terror com doses cavalares de ação, mas, acima de tudo, é um Resident Evil raiz, com direito a enredo de filme B e uma farofada de elementos que fazem do brega seu maior encanto.

Resident Evil: Village está disponível para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series, Google Stadia e PC.

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