Cannibal Holocaust
Original:Cannibal Holocaust
Ano:1980•País:Itália Direção:Ruggero Deodato Roteiro:Gianfranco Clerici Produção:Franco Di Nunzio, Franco Palaggi Elenco:Robert Kerman, Francesca Ciardi, Perry Pirkanen, Luca Barbareschi, Salvatore Basile, Ricardo Fuentes, Carl Gabriel Yorke, Paolo Paoloni, Lionello Pio Di Savoia, Luigina Rocchi |
“A experiência definitiva de horror repulsivo“, slogan de divulgação do absoluto The Evil Dead, de 1982, também poderia servir para outros filmes de terror, como o clássico O Massacre da Serra Elétrica (1974), de Tobe Hooper, e, sem dúvida, para a obra máxima de Ruggero Deodato, Cannibal Holocaust. São produções construídas sobre a vestimenta de um gorefest, sem poupar o espectador de cenas grotescas de desmembramento, exposição de vísceras e uma sensação perturbadora de insegurança, sendo que Deodato foi mais além em um festival de repulsa que traz todo o cardápio de arrepios que o gênero pode proporcionar: corpos abertos, uma mulher empalada, violência sexual extrema, sangue em vermelho vivo, castração e, desnecessariamente, animais sendo mortos on screen, como o famoso episódio da tartaruga.
No documentário Jungle: The Making of Cannibal Holocaust, Ruggero Deodato falou sobre o processo de desenvolvimento do filme, iniciado em 1979, com a pretensão de fazer algo semelhante a seu filme anterior, Último Mundo Canibal, mas com um viés jornalístico, contextualizado. Ele queria algo que retratasse uma exploração selvagem ao mesmo tempo que tivesse uma caracterização documental, lembrando a cobertura jornalística das ações do grupo de guerrilheiros italianos das Brigadas Vermelhas, e das produções de Gualtiero Jacopetti. Em relação ao aspecto violento, o cineasta pretendia se inspirar nos documentários Mondo, com ênfase em Mondo Cane, de 62, e Savana Violenta (76), com tomadas cruas e câmeras desinibidas, feitos com a intenção realmente de chocar o público na apresentação de uma realidade assustadora.
O exploitation era o que ditava o cinema no período, antes da instituição da censura no início dos anos 80. Qualquer coisa que pudesse trazer o extremo da Sétima Arte, conduzir o espectador a um inferno visual, alimentou a produção cinematográfica da época, especialmente na Europa. Zumbis putrefatos, violência gráfica e canibalismo moldaram o estilo, com a apresentação de um tipo de filmagem suja, agressiva. O roteiro de Gianfranco Clerici, em pré-produção carregava o título de Green Inferno (expressão mencionada várias vezes no filme em referência à inexplorada Amazônia), desenvolveu sequências aterradoras de desespero e morte, sendo que algumas nem puderam ser gravadas pela ineficiência dos recursos – como a do ataque de piranhas (tem o registro em fotos), com a lente subaquática, e que viria a ser vista em Cannibal Ferox.
Ainda assim, Cannibal Holocaust se configurou pelos exageros, até mesmo nas cenas de um falso documentário conduzido pelo personagem Alan Yates, que trazia a exibição real de execuções políticas, aproveitando a intensidade de suas intenções ao adentrar o “inferno verde“. Como bem observou Lloyd Kaufman, da Troma, ao mesclar sequências reais de documentários e ao colocar os personagens em situações verdadeiras de mortes de animais, como a longa tomada da morte da tartaruga, Deodato condiciona o cérebro humano a acreditar que tudo o que será visto é real, seguindo a teoria de montagem de Vsevolod Pudovkin. Desse modo, tendo ainda todo o aspecto de direção em primeira pessoa, muitas vezes amadora e tremida – a gênese dos found footages -, aquele que arriscar assistir à produção terá uma sensação de uma realidade nua e crua, a mina de ouro dos exploitations.
Tanto realismo nas cenas de violência e morte levaram muitas pessoas a acreditarem que se tratava de um verdadeiro snuff movie (produções que trazem mortes reais de pessoas), tal qual Charlie Sheen em relação a Guinea Pig 2. Cannibal Holocaust passou a ser uma produção maldita, impedida de seu lançamento em diversos países e apontada como uma mostra horrenda da maldade humana. De certa forma, se pensar nas várias mortes de animais – um quati esfolado vivo, um macaco decapitado, um porco baleado por um rifle, jiboia e uma tarântula atacadas por facões -, já é passível de não indicar o filme a pessoas sensíveis. E tudo mostrado frente às câmeras, como a sequência em que uma grande tartaruga marinha é degolada, aberta, desmembrada e tem todo o seu interior mexido pelos personagens, enquanto ainda deixa evidente estar viva no processo.
À exceção desse show de horrores com animais, é preciso enaltecer a qualidade da produção. Cannibal Holocaust é, sem dúvida, um dos melhores filmes de terror de todos os tempos, ocupando facilmente uma cadeira entre as principais do gênero. Um roteiro inteligente, com uma dupla narrativa, e uma crítica que seria conduzida por outras produções do período sobre a natureza da selvageria, a partir do contraponto entre cidade e campo, sobrevivência e crueldade. Trata-se de uma produção indispensável para públicos específicos, mas que serviu para construir a história do horror cinematográfico em sua essência. E traz um enredo simples, mas muito bem desenvolvido.
Começa com uma tomada aérea do “inferno verde“, na belíssima trilha incidental de Riz Ortolani. Com a narração jornalística, o público fica sabendo que quatro pessoas desapareceram durante as filmagens de um documentário sobre tribos canibais na selva da Amazônia. São eles: o diretor Alan Yates (Carl Gabriel Yorke), a roteirista Faye Daniels (Francesca Ciardi) e os cinegrafistas Jack Anders (Perry Pirkanen) e Mark Tomaso (Luca Barbareschi). A ótima montagem de Vincenzo Tomassi sabe mesclar bem o tom jornalístico com as cenas de filmagem comum, realmente dando à produção uma caracterização documental. O antropólogo Harold Monroe (Robert Kerman), de Nova York, resolve assumir uma missão de resgate na região para descobrir o que teria acontecido com o grupo.
Ele chega ao local, onde os militares já conseguiram um refém da tribo Yacumo para servir de negociação com os nativos. Com os guias Chaco (Salvatore Basile) e Miguel, Harold atravessa a mata selvagem e encontra pelo caminho vestígios da passagem dos jovens cineastas, além do corpo de um guia que mais tarde terá seu destino mostrado nas filmagens de Alan, em mais uma interessante ideia do roteiro de Gianfranco Clerici. Durante essa expedição, que ocupa os primeiros quarenta minutos do filme, Harold encontra os Yacumo e aos poucos conquista a confiança para uma aproximação, entendendo os caminhos que conduziram o outro grupo a uma ação hostil desta e de outras tribos como as rivais Ya̧nomamö e os Shamatari.
Em um processo de escambo e combate a rivais, Harold encontra não somente os corpos dos quatro documentaristas como também os rolos de filmagem. Ao levar de volta aos Estados Unidos, ele é pressionado por executivos para que o material seja finalizado e distribuído, até resolverem assistir aos conteúdos registrados. De simpáticos e curiosos, Alan, Faye, Jack e Mark mostram a crueldade do homem dito civilizado nas relações com animais e principalmente com os nativos, estuprando uma mulher e incendiando aldeias com pessoas dentro. Eles literalmente causam o terror no local, apostando em suas armas de fogo como instrumento de inibição de um possível contragolpe.
Para dar mais realismo às gravações, em mais uma ação inteligente do roteiro, boa parte dos rolos de filmagem apresentam problemas na exibição, como falta de som e captação desordenada – detalhes que muitos realizadores de found footage esquecem de se preocupar. Tudo com o acréscimo de sequências curiosas e indigestas, como o ritual de punição a um adultério e o aborto, acompanhados pelo olhar atento de Harold e Alan. Toda a ação final, chocante pelos exageros de castração e violência sexual, são uma reação da “selvageria do homem branco” ou, como bem disse o personagem de Robert Kerman, “eles praticamente cavaram suas próprias covas“.
O Inferno Verde proposto por Ruggero Deodato é simplesmente magnífico, conduzido com azedume e repugnância. É um material que, a despeito de seus exageros, permite reflexões importantes, justificando sua importância cinematográfica ao mesmo tempo que sua repulsa. Como parte de um cenário aterrador de violência explícita, mesclando a um conteúdo de relevância reflexiva, é um trabalho que traz impacto pela trajetória histórica ao mesmo tempo que transborda significância. E, com certeza, poderia figurar facilmente na lista de experimentos definitivos de terror repulsivo.
Após o Holocausto Canibal
Lançado em DVD no Brasil pela Platina Filmes, Cannibal Holocaust trouxe mudanças significativas no gênero após sua descoberta. Com o aperto da censura e o esfriamento do ciclo italiano, o horror oitentista passou a se caracterizar pelo “terrir“, com filmes não tão agressivos em seus exageros, salvo algumas exceções. A influência do filme para gerações futuras, ainda mais depois dos anos 2000, com o crescimento do “torture porn“, foi bastante significativa, embora jamais equiparado. Não seria possível algo similar – nem Cannibal Ferox realizado no ano seguinte foi capaz – até por toda a ética que agora envolve a construção do gênero, com a formação de grupos de proteção animal e a intensidade dos Direitos Humanos.
Todavia, o que aconteceu com seus realizadores após a construção de um filme tão controverso? Conseguiram espaço nas mídias, continuaram participando de filmes do gênero? Ainda estão vivos ou foram canibalizados pela reação contrária ao trabalho feito?
O diretor Ruggero Deodato ainda continua na ativa, mas com realizações discretas. Com uma carreira com pouco mais de trinta créditos, por incluir episódios de séries, o cineasta italiano nascido em Potenza, em 7 de maio de 1939, faria no mesmo ano de Cannibal Holocaust o violento The House at the Edge of the Park, e depois Os Caçadores de Atlântida (1983), Inferno ao Vivo (1984), Contagem de Cadáveres (1986), A Face (1987), Grite por Socorro (1988), As Três Faces do Mal (1993), entre outras produções menos expressivas, enquanto respondia perguntas em fóruns sobre uma continuação de sua obra mais importante. Foi-se muito falado, ficando a cargo de Eli Roth a direção de Canibais (The Green Inferno, 2013), que não chegou nem perto de sua inspiração.
Falecido em 2018, Robert Kerman, que fez o professor Harold, já tinha uma carreira consolidada antes de conhecer as tribos canibais. Com 190 créditos, esteve em Os Vivos Serão Devorados (1980) e Cannibal Ferox (1981), além de muitas outras produções como Noite dos Arrepios (1986) e até Homem-Aranha, de Sam Raimi. Já o americano Carl Gabriel Yorke (Alan Yates), que estreou nos cinemas com Cannibal Holocaust, fez mais outros 12 créditos, com destaque apenas para O Fantasma da Máquina (1993), Apollo 13: Do Desastre ao Triunfo (1995) e A Mão Assassina (1999). Assim como também não teve uma carreira muito sólida a mulher que parecia incomodada com as ações dos demais cinegrafistas, Faye, interpretada por Francesca Ciardi, tendo feito apenas mais 10 produções sem destaque.
Outro que brilhou pouco foi Perry Pirkanen, o fanfarrão Jack. Atuou em apenas três produções depois de Cannibal Holocaust, embora obras conhecidas: pontas não creditadas em Pavor na Cidade dos Zumbis (1980), Cannibal Ferox e Tubarão Cruel (1995). Por fim, Luca Barbareschi, que atuou como o cinegrafista Mark Tomaso, conseguiu mais créditos do que seus companheiros, com mais de 60 em sua filmografia. Nada muito conhecido por aqui, além de Trama Internacional (2009), de Tom Tykwer; diferente de Salvatore Basile, que fez o guia Chaco, e participou de 45 produções (Cobra Verde é seu trabalho mais bem conceituado) e foi diretor de segunda unidade de outras 11, trabalhando também na trilha sonora de Efeito Colateral (2002).
Como se percebe, a importância de Cannibal Holocaust não refletiu na carreira dos envolvidos. Talvez não como uma maldição nativa, mas pelo mal que acomete boa parte dos atores envolvidos em produções clássicas. Culpa de agentes, escolhas ruins, má sorte ou má fama por ter visitado o Inferno Verde? Pode ter sido uma simples coincidência.
Acabei de assistir e a cena do macaquinho decapitado é a única que já me deixou tão mal em um filme. O filme é muito bom de verdade, mas pela crueldade animal, não posso dar uma nota maior do que 7 em uma escala de 0 a 10.
o filme prende a atenção do inicio ao fim, mas a crueldade com os animais é desnecessaria.
O Luca Barbareschi tem carreira política na Itália, foi eleito deputado.
O filme é bem bom mas realmente, as mortes dos animais foram desnecessárias
Essa porcaria (não o chamarei nunca de filme) é ultrajante.
Gosto muito desse filme. Pra mim ele está no panteão dos grandes clássicos do terror, junto com filmes como O Exorcista, O Iluminado, O Bebê de Rosemary, Psicose, Alien o Oitavo Passageiro, entre outros.
Continuem esse ótimo trabalho!
Eu fecho os zoio na hora dos bichos porque é muito f.. Já em relação as pessoas, sem problema algum … kkkkk ! Mas o filme é bom pra c….
Eu tbm brother hahahahah
Só lamento pelos animais 😁
Assisti no YouTube depois de sempre ouvir falar desse filme quando era criança via a capa desse filme na locadora ficava curioso com a imagem da índia empalada graças a Deus não vi quando criança só agora com 44 anos não e um filme pra criança e nem pra pessoas sensíveis fiquei com pena da tartaruga mas dos documentaristas não os filmes italianos sempre tem picaretagem esse estrapola da pra ver que as atuações são forçada e os estão sendo manipulados pra atuar nada nesse filme soa natural e tudo forcado