Hotel Transilvânia 4: Transformonstrão (2022)

4.2
(5)

Hotel Transilvânia 4: Transformonstrão
Original:Hotel Transylvania: Transformania
Ano:2022•País:EUA
Direção:Derek Drymon, Jennifer Kluska
Roteiro:Andy Samberg, Selena Gomez, Kathryn Hahn, Jim Gaffigan, Steve Buscemi, Molly Shannon, David Spade, Keegan-Michael Key, Brian Hull, Fran Drescher, Brad Abrell, Tyler Blevins, Genndy Tartakovsky
Produção:
Elenco:Alice Dewey Goldstone

De volta à casa….ao hotel mais divertido da Transilvânia. Os monstros estão de volta para confusões e momentos divertidos, desta vez na Amazon Prime. Desta vez sem Adam Sandler e Kevin James. Desta vez com a direção de Derek Drymon e Jennifer Kluska. Pelo visto, a proposta de uma nova animação da franquia não animou a todos os envolvidos, o que já faz soar um sinal de alerta. Depois de três filmes criativos, repletos de surpresas e situações cômicas, Hotel Transilvânia apresenta a continuação menos empolgante e divertida, ainda que reserve algumas cenas engraçadas e muita ação. Seria um desgaste da série, com personagens que já foram altamente explorados ou o roteiro de Amos Vernon, Nunzio Randazzo e Genndy Tartakovsky (que dirigiu os outros três filmes) não é tão bom?

A Sony Pictures Animation começou a desenvolver o filme em 2019. Pouco tempo após o anúncio, Tartakovsky já havia sido descartado como diretor, ficando apena como roteirista e produtor executivo. Boa parte da animação foi realizada remotamente, durante a pandemia do covid-19, tendo mais notícias sobre a produção em 2021, com o informe sobre o título e a saída de Adam Sandler, que atuou como Drácula, além de sua filha Sadie, que interpretava a lobisgirl Winnie – ambos foram substituídos por Brian Hull e Zoe Berri. Kevin James, que fez a voz do Monstro de Frankenstein, também saiu do projeto, dando lugar a Brad Abrell. E o principal sinal de que as coisas pareciam realmente não empolgar veio da própria Sony Pictures, que desistiu de lançar o filme nos cinemas e o vendeu a Amazon Prime.

Se isso já seria capaz de deixar os espectador como o lobisomem Wayne (Steve Buscemi), com um pulga atrás da orelha, o prego do caixão veio com o adiamento da estreia. Hotel Transilvânia 4: Transformonstrão estava previsto para estrear dia 22 de dezembro de 2021; depois passou para 6 de agosto, 23 de julho e até 1 de outubro desse mesmo ano. Por fim, escolheram como data final 14 de janeiro de 2022, um mês completamente atípico para a franquia. Todas essas mudanças geralmente acontecem quando executivos ficam buscando datas que não serão prejudicadas pelo lançamento de outros filmes ou quando perdem a fé em suas produções. Será que Hotel Transilvânia 4 é tão ruim assim, insisto em perguntar? Não chega a ser ruim, mas traz poucas risadas do público e poucas surpresas.

Na trama, o Hotel Transilvânia está comemorando 125 anos de existência. Drácula (Hull) não está muito à vontade pelo comando de Johnny (Andy Samberg), que promove inúmeras atrapalhadas durante as apresentações musicais e danças. Depois que conserta o espetáculo, o vampiro confessa a Ericka (Kathryn Hahn) que está com planos de se aposentar e entregar o hotel para o comando de sua filha Mavis (Selena Gomez), lamentando que o humano também tenha domínio sobre eventuais mudanças na estrutura local. Em seu devaneio e nas falas do próprio rapaz, Drácula imagina um ambiente colorido, alegre, com escadas rolantes, em uma atmosfera bem distante da aterrorizante atual. Ele então inventa uma tal “lei imobiliária monstruosa“, que diz que o hotel só pode ser comandado por monstros.

Chateado por não ser um, Johnny pede ajuda ao cientista Van Helsing (Jim Gaffigan), que possui um artefato que permite transformar humanos em monstros e vice-versa. Ao disparar o raio no rapaz, ele se transforma em um dragão, mantendo suas características loucas, para desespero de Drácula. Ele o persegue pelo hotel para fazê-lo voltar ao normal, mas na corrida, acerta uma estátua de gelo do vampiro e afeta a bebida, sendo ingerida pela Múmia Murray (Keegan-Michael Key); o lobisomem Wayne, Frankenstein (Abrell), o Homem Invisível Griffin (David Spade) e até o monstro geleia, fazendo-os se transformar em humanos, assim como o próprio Drácula, desenvolvendo as melhores piadas do longa.

Como a pedra preciosa que mantém a arma ativa perdeu seu poder, Van Helsing informa que a encontrou na América do Sul, obrigando Drácula e Johnny a partirem numa missão para encontrar uma nova. Pouco depois Mavis e as esposas dos monstros irão descobrir o que aconteceu e partirão para ajudar a dupla, principalmente depois que percebem que a cobaia usada pelo caçador de vampiros ainda está em transformação. Boa parte do humor se desenvolve na viagem de Drácula, sofrendo as consequências da humanidade, como mordidas de inseto, suor, barriga, calvície e cansaço; ao passo que Johnny, como Dragão, diverte-se pelas novas habilidades como a de soltar fogo e voar. Os demais monstros que se transformaram em humanos também trazem bons momentos como a nudez do Homem Invisível, a falta de pelo de Wayne e a aparência caquética da Mùmia. O melhor fica para Frankenstein que, além de perder suas cicatrizes, ganha cabelo e fica o tempo todo admirando sua própria beleza, fazendo bicos e tirando fotos com o celular. Na perseguição a Johnny e Drácula, Ericka também se destaca com seus veículos próprios para caçar monstros, enquanto Wanda (Molly Shannon) precisa lidar mais uma vez com sua prole, sempre trazendo momentos divertidos.

Apesar dessas sequências hilárias, o espectador fica mais tempo admirando a produção do que rindo, como fazia nos filmes anteriores. O subplot que envolve a não aceitação de Johnny na família já fora explorado antes, principalmente no primeiro filme, e Drácula havia entendido, tanto que as aventuras seguintes mostraram o vampiro vivendo situações parecidas ao se encantar com uma humana. Também incomoda a falta de um vilão, como fora explorado em Hotel Transilvânia 1, 2 e 3; tendo apenas na transformação de Johnny e a ameaça dele perder a razão como os principais elementos antagonistas. Assim, sem uma grande ameaça, somente com as brincadeiras envolvendo a versão humana de Drácula, o longa perde a força narrativa e deixa apenas o público curtir os efeitos de animação, já antecipando a falta de novas surpresas.

E realmente os efeitos digitais continuam muito bons. A mudança de direção não atrapalhou a nova aventura, nem mesmo as trocas de vozes. Brian Hull faz um belíssimo trabalho de dublagem, com intensidade nos acentos de Drácula, fazendo o público quase nem se lembrar da voz de Adam Sandler. E o personagem continua divertido, sendo o principal destaque da série, assim como o próprio hotel. Sem referências ao universo fantástico, como era comum nos filmes anteriores, Hotel Transilvânia 4 deixa uma leve sensação de decepção, embora ainda proporcione momentos divertidos. São grandes as chances de que este seja o último filme envolvendo Drácula e os monstros que habitam o hotel, o que é uma pena. Mesmo que boa parte das piadas já não funcionem, é sempre bom fazer uma visita as instalações em busca de um quarto.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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