Toc Toc Toc: Ecos do Além (2023)

4.1
(17)

Toc Toc Toc: Ecos do Além
Original:Cobweb
Ano:2023•País:EUA
Direção:Samuel Bodin
Roteiro:Chris Thomas Devlin
Produção:Seth Rogen, Roy Lee, Evan Goldberg, Jon Berg, James Weaver, Christopher Woodrow, Andrew Childs, Josh Fagen, Connor DiGregorio
Elenco:Antony Starr, Lizzy Caplan, Woody Norman, Cleopatra Coleman, Aleksandra Dragova

… Repararam bem em tudo o que lhes disse? Então devem lembrar-se que lhes declarei ser excessivamente nervoso, e, com efeito, eu o sou. Portanto, em plena noite, no meio do silêncio terrível daquela casa, um tão estranho ruído fez com que se apossasse de mim um irremissível terror. Durante alguns minutos ainda, contive-me e continuei calmo. Mas o ruído era cada vez mais forte, sempre mais forte!…

O trecho acima foi retirado do conto O Coração Delator (The Tell Tale Heart) de Edgar Allan Poe, originalmente publicado em 1843, e conta a história de um homem atormentado por ruídos, após assassinar seu patrão idoso e esconder o corpo embaixo do piso. Levemente inspirado nessa obra, tivemos recentemente nos cinemas brasileiros o lançamento de Cobweb, produção dirigida pelo estreante Samuel Bodin e estrelada por dois protagonistas de peso: Lizzy Caplan (Masters of Sex) e Antony “Homelander” Starr (The Boys).

O filme começa com o jovem Peter (Woody Norman, Sempre em Frente) sendo acordado à noite por batidas na parede de seu quarto. Obviamente, os pais não acreditam no garoto, que ainda precisa lidar com outros problemas, como o constante bullying na escola e um peculiar medo de aranhas. Porém, com os barulhos se tornando cada vez mais frequentes e a reação de seus pais ficando cada vez mais agressiva, Peter começa a suspeitar que eles estejam escondendo alguma coisa.

Cobweb (me recuso a utilizar o título em português, que alcança níveis cômicos de bizarrice) me agradou bastante, pelo menos em sua maior parte. A trama é bastante ágil e envolvente, e o diretor Samuel Bodin consegue criar uma atmosfera de tensão de forma muito competente. De onde vêm esses ruídos? O que escondem os pais de Peter? Qual a relação da família de Peter com a garota que desapareceu no Halloween? Essas perguntas vão lentamente construindo o ritmo, ao mesmo tempo em que o filme constantemente conjectura sobre quem seria o verdadeiro vilão da história, e se este é sobrenatural ou real.

Mas, sem sombra de dúvidas, o maior destaque de Cobweb vai para suas atuações. Eu sou um produto dos anos 90, então sempre enxergarei a Lizzy Caplan como a Janis Ian, de Meninas Malvadas. Então quando testemunho uma atuação sensacional como a que ela entrega aqui, não tem como não ficar de queixo caído. Alternando medo, paranoia e desespero, sua Carol só não é a melhor personagem do filme por um só motivo: Antony Starr. Não é nenhuma novidade para quem acompanha The Boys, mas a capacidade que nosso eterno Homelander tem de dominar a tela toda vez que aparece é algo absurdo. Em uma das melhores cenas, a professora de Peter (Cleopatra Coleman, em uma atuação bem meia-boca) vai até a casa do garoto checar como ele está. Toda a sequência faz o espectador prender a respiração, e muito disso vem da sensação incômoda de nunca saber o que Starr fará no instante seguinte.

ATENÇÃO: SPOILERS LEVES A SEGUIR, PROSSIGA POR SUA CONTA E RISCO

Justamente pelas atuações tão certeiras de Caplan e Starr, o terceiro ato acaba sendo um dos pontos negativos do filme. Após uma cena muito bem construída envolvendo veneno para ratos, o foco é desviado da dupla para um determinado personagem. Por mais que a sequência de home invasion (que é bem absurda, diga-se de passagem) seja bem construída, com uma direção muito certeira em não mostrar completamente o vilão, os últimos minutos acabam sendo explícitos demais, e o ritmo acaba ficando até arrastado, em um grande overexplaining. Acredito que se fossem retirados os últimos 10 minutos, mostrando e explicando menos, o resultado ficaria bem mais interessante.

Apesar desse revés que acaba comprometendo o desfecho como um todo, Cobweb é uma produção que me surpreendeu bastante, principalmente quando dá espaço para seus protagonistas (?) brilharem. Inicialmente travestido como mais uma produção boba de espíritos e ecos do além, é uma bela adição ao ano de 2023 e vale a pena a conferida.

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Ciro Oliveira

Médico por opção, palmeirense por emoção e amante de slashers por vocação. Foi introduzido ao cinema de horror sendo assombrado pelo boneco Chucky na infância, e se apaixonou pelo gênero após descobrir todas as identidades de Ghostface. Acredita que não há nada melhor para relaxar do que assistir universitários sendo eviscerados por um mascarado velocista.

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