4.1
(18)

Jogos Mortais X
Original:Saw X
Ano:2023•País:EUA, México, Canadá
Direção:Kevin Greutert
Roteiro:Pete Goldfinger, Josh Stolberg
Produção:Mark Burg, Oren Koules, Ulrich Maier
Elenco:Tobin Bell, Shawnee Smith, Synnøve Macody Lund, Steven Brand, Renata Vaca, Joshua Okamoto, Octavio Hinojosa, Paulette Hernandez, Jorge Briseño, Costas Mandylor, Michael Beach, David Alfano, Katie Barberi, Lucía Gómez-Robledo

É preciso entender a armadilha preparada pela distribuidora antes de ver nos cinemas Jogos Mortais X (Saw X, 2023). Quem acompanha as redes sociais está vendo uma série de comentários positivos sobre o décimo filme da franquia, apontando coisas como “o melhor desde o primeiro“, “retorno às origens” e a mais chulé: “um filme de gore com coração” (é sério!). Depois de assistir a este mais recente capítulo – não vamos dizer último até porque Tobin Bell, com evidentes 81 anos, pode topar fazer mais algum -, percebe-se que se trata de mais um apêndice na franquia, uma produção que não acrescenta absolutamente nada à mitologia, não tapa buracos, não relaciona pontas soltas. apenas traz um retorno ao cinema-sado-fetiche de duas décadas atrás, servindo como um reencontro com personagens e tortura. Mas, então quer dizer que é ruim? Não exatamente.

Se fizer um apanhado de todos os filmes, incluindo o terrível reboot, é possível que você até se divirta. Toda a saga, ainda que mentirosa, apresenta bons momentos dispersos em roteiros de vingança. Sejam as armadilhas exageradamente engenhosas ou as tentativas de apresentar finais surpreendentes, você se envolve com as propostas mesmo não tendo algo novo. É como um fast food, um lanche que você consome na praça de alimentação do shopping, já “antesentindo” o gosto e tendo noção que aquilo trará nada mais que uma satisfação momentânea, muitas vezes acompanhada de uma sensação de culpa de que poderia ter optado por algo melhor. Jogos Mortais X é realmente melhor que muitas das continuações da franquia, mas também não seria difícil.

Se você não souber que o longa é ambientado após os eventos do filme original, de 2004, os primeiros trinta minutos vão te levar a questionamentos dos mais doidos: será que JigSaw sobreviveu ao terceiro filme? Fez um robozinho com a aparência dele e nos enganou, estando por trás das continuações? Ou até: será que toda a história do câncer terminal, na verdade, disfarçava um ato suicida como ensinamento de valorização da vida? Diferente dos demais – por isso não entendo por que apontam como retorno às origens -, esse filme é ironicamente linear, sem idas e vindas da narrativa, sem flashbacks. Ora, lembre-se da fórmula Jogos Mortais: começava com pessoas presas à armadilhas, depois eram vistas mais vítimas também presas e cenas em flashbacks explicavam porque elas estão lá. Aqui não.

Sabendo de seu estado terminal e curto período de vida, John Kramer (Bell) entra em um grupo de apoio a pessoas com câncer. Lá, entre os relatos, conhece Henry Kessler (Michael Beach, de Sobrenatural – Capítulo 2, 2013), que está com câncer no pâncreas em estágio 4. Esse mesmo colega será visto tempos depois com aparência saudável, dizendo que participou de um procedimento experimental norueguês que envolveu cirurgia e coquetel, e agora tem toda a vida pela frente. Kramer pede o contato, e conversa com a filha do renomado Dr. Finn Pederson (Donagh Gordon), Cecilia (Synnøve Macody Lund), que o encaminha a sua clínica na Cidade do México.

Antes da viagem, enquanto esteve em um hospital, Kramer pode ver um faxineiro roubando um paciente. E sua mente fetichista já o coloca numa armadilha – a da capa do filme – para que o enredo não fique muito tempo com aspectos de um drama de redenção, com uma mensagem positiva sobre a luta pela vida. Assim que chega ao México, ele é recebido pelo taxista Diego (Joshua Okamoto), passa por um susto com o veículo sendo interceptado por uma milícia local, e parte para uma casa rural, onde vive a jovem Gabriela (Renata Vaca) e a equipe médica, composta por Mateo (Octavio Hinojosa), Valentina (Paulette Hernandez) e Dr. Cortez (David Alfano). Kramer ainda fica sabendo que Gabriela e um tal Parker Sears (Steven Brand) também foram “curados” pelo procedimento.

Não é spoiler dizer que se trata de um golpe – você deve ter visto o trailer – e que o roteiro de Pete Goldfinger e Josh Stolberg trará basicamente a vingança de JigSaw contra aqueles que tentaram enganá-lo – lembra-se da tagline de Machete? “Eles mexeram com o mexicano errado.” No caso, prepararam uma armadilha para com quem não deveriam. A prévia também antecipa a participação de Amanda (Shawnee Smith) e realmente não poderia ser diferente, uma vez que, a partir do segundo filme, ficamos sabendo que ela foi uma ajudante fiel de John Kramer até para as armadilhas do banheiro. Assim, ao espectador, fica apenas a satisfação pela engenhosidade de construção tão rápida de armadilhas eficientes e como elas irão funcionar, além de aguardar alguma surpresa no ato final, o tal plot twist.

Sem a direção videoclipe dos primeiros filmes – retorno às origens? -, Kevin Greutert (de Jogos Mortais 6 e Jessabelle: O Passado Nunca Morre) presta um serviço adequado à franquia ao não se sentir acanhado diante de cenas violentas. E elas estão ali aos montes: mutilação de mãos, braços e pernas, afogamento, sufocamento, queimadura, autoflagelo cerebral, corpos serrados, decapitação e – a mais terrível – extração de olhos. Há sequências até mais lentas de dor e tortura, com o tempo de três minutos sendo acompanhado inteiramente enquanto a vítima se mutila – com o exagero que sempre esteve presente em todos os filmes da série.

Por mais que se esforcem com maquiagem e filtros, Amanda Young ironicamente não aparenta ser a jovem de outrora, assim como Tobin Bell, sem a mesma energia de sua imposição cênica. Contudo, atuam bem e mantêm a mesma química das partes 2 e 3. Não há menção à ex-esposa de John Kramer, e, principalmente, não há quase envolvimento policial algum. Toda a franquia sempre teve investigação da polícia e ações que colocavam detetives um contra o outro e ameaçados pelas engenhosidades de JigSaw – retorno às origens? -, e também difere por ser o primeiro filme que coloca uma criança em uma armadilha. E mudar para a Cidade do México não serviu para absolutamente nada que não seja questionar como ele conseguiu construir tudo aquilo, distante de seu estúdio-gepeto.

Imaginava também que o enredo fosse relacionar o “X” de décimo filme com o que marcava o espelho do banheiro em Jogos Mortais (2004). Não tem nada a ver. Mas também podia ser pior, se a trama partisse para um Jason X, com um Jigsaw em upgrade ou até mesmo no espaço. Ao final, o longa deve divertir quem curtiu toda a saga do vilão e estava com saudades de vê-lo bastante em cena, tendo mais importância que suas vítimas. Nada mais que isso. Não traz retorno às origens, nem muito menos emoção associado a gore. É mais um torture porn, bem realizado e curioso, mas que podíamos viver uma vida plena e feliz sem nunca tê-lo visto.

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Média da classificação 4.1 / 5. Número de votos: 18

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9 Comentários

  1. Eu assisti sem ter visto o trailer eu desconfiei que era uma pegadinha mesmo depois deles terem interceptado o carro.
    Aquilo pareceu mtu anti ético pra um médico mesmo se escondendo. Não fez sentido.
    Tb ela estava disponível mtu rápido ligou rápido demais foi mtu confiante e desconfiei mas achei que era só um roteiro ruim e forçado pro filme acontecer… aí quando vi que era golpe por causa da do carro abatido ali ficou mais interessante o filme.
    Não gostei da Dra ter sobrevivido no final. Não foi justo ela não merecia uma chance.

  2. Por isso que é bom ver filme no escuro, sem trailer, o golpe lá da Doutora tava tão na cara que eu realmente pensava enquanto assistia: “será que é golpe mesmo? ” 🤣

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      Fiquei até com um pingo de esperança de que ele fosse ser realmente curado, mesmo tendo visto o trailer.

      :-/

    2. A melhor sequência da franquia desde o terceiro filme, espero que o já anunciado 11 continue a história desse último pois o foco dado ao Jigsaw veio à calhar muito bem ao filme. Que a sequência tenha (SPOILER) os retornos de Amanda e Hoffman também, quem sabe até do Dr Gordon já que o seu retorno no sétimo filme foi uma grande decepção (como o filme em si).

  3. Marcelo já tá saturado de jogods mortais 😂
    Enfim, doida pra ver apesar de toda a mesmice,esse é um pouco diferente.

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      Até que não…rs

      Gosto da franquia. Só estou achando exagerado todo esse marketing que o está colocando como “melhor terror do ano”, “surpreendente”, “tão bom quanto o primeiro”. Tanto que nem vejo ele superior aos quatro primeiros filmes, mas apenas mais um.

      Assista e dê a sua opinião.

      Abs

  4. Na verdade a primeira criança em uma armadilha foi a Diana Gordon que é a filha do Gordon

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      Não foi exatamente uma armadilha, né? Ela ficou sob a ameaça de uma arma, aguardando o desenrolar de uma situação.

      Mas tudo bem. Vale pela lembrança.

      Abs

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