Nefarious (2023)

4.1
(13)

Nefarious
Original:Nefarious
Ano:2023•País:EUA
Direção:Chuck Konzelman, Cary Solomon
Roteiro:Cary Solomon, Chuck Konzelman, Steve Deace
Produção:Sheila Hart, Chris Jones
Elenco:Sean Patrick Flanery, Jordan Belfi, Tom Ohmer, Glenn Beck, Daniel Martin Berkey, Mark De Alessandro, Cameron Arnett, James Healy Jr., Sarah Hernandez

Na noite em que sua pena de morte seria aplicada, o homicida em série Edward Wayne Brady revela ao seu psicólogo que ele está possuído por um demônio e faz ainda uma previsão impensável: o médico irá cometer três assassinatos nas próximas horas. Resta ao cético psicólogo provar que o assassino está fingindo e então autorizar a sua execução. Porém, uma série de revelações assustadoras coloca em dúvida as regras que regem tudo em que o médico sempre acreditou.

Escrito e dirigido por Chuck Konzelman (Deus Não Está Morto, 2014) e Cary Solomon (40 Dias: O Milagre da Vida, 2019), baseado no romance escrito por Steve Deace (A Nefarious Plot, 2016), Nefarious é uma produção independente que estreou nos cinemas americanos em abril de 2023, chegando às salas brasileiras 6 meses depois. O longa fez razoável sucesso nos EUA, principalmente entre o público declarado católico e conservador. Não há nesta afirmação nenhum juízo de valor, visto que o próprio marketing do filme alega que a produção é considerada por padres como a melhor já produzida sobre possessão diabólica e a que mais se aproxima de como seria uma possessão verdadeira; além do próprio currículo dos realizadores, que coleciona uma série de produções cuja temática é religiosa.

No elenco, Sean Patrick Flanery (de Energia Pura, 1995) interpreta o serial killer supostamente tomado pelo demônio Nefarious, enquanto Jordan Belfi (de V/H/S 85, 2023) vive o psicólogo Dr. James Martin. Uma boa sintonia entre os atores é construída em diálogos ágeis e bem escritos, com destaque para a atuação de Flanery, que, mesmo sem maquiagem ou efeitos especiais, consegue trazer credibilidade ao personagem possuído. O longa também traz a participação do polêmico Glenn Beck, escritor e apresentador de televisão, famoso por seus ideais de extrema-direita e teorias da conspiração não comprovadas.

Uma rápida reflexão: não é difícil concluir que filmes sobre possessão e demônios (mesmo os que não são assumidamente um filme de terror cristão, como faz Nefarious), ainda que pareçam os mais transgressores dentro do gênero, são de fato os que em mais intensamente divulgam a doutrina religiosa, já que os roteiros se baseiam em regras e princípios também religiosos (na maioria das vezes, católicos).

Contudo, Nefarious procura ocupar um lugar diferenciado neste panorama, apostando em um realismo muito convincente (não há violência gráfica ou gore), porém também assumindo um discurso ideológico latente e conservador ao abordar diretamente temas caros aos grupos progressistas como, por exemplo, o aborto. O filme deixa claro: o diabo fica bastante feliz quando ocorre um aborto, já Deus, nem um pouco. Em outro momento, o diálogo insinua que “hoje em dia” o que é errado perante Deus é entendido como o politicamente correto, permitindo uma interpretação que pode fazer referência aos avanços recentes em relação aos direitos para as minorias e para as comunidades LGBTQIAPN+.

Spoilers no parágrafo a seguir

Infelizmente, ao ultrapassar a linha ficcional e evidenciar esta camada ideológica conservadora, a premissa interessante e a execução competente são ofuscadas por um tom piegas e panfletário. É evidente que toda obra artística, seja um texto ou um filme, é sempre relativamente ideológica. A controvérsia é quando o discurso ideológico se descola da ficção. Por exemplo, o ato conclusivo de Nefarious mostra uma entrevista do então psicólogo ex-ateu e convertido Dr. James Martin (o protagonista) divulgando seu livro sobre os acontecimentos envolvendo a possessão do assassino Edward Wayne Brady. A entrevista reforça sem sutilezas todo o discurso conservador implícito nos diálogos dos personagens.

Fim dos spoilers

Só pra relembrar, nestes tempos de polarização política, de Republicanos contra Democratas, Conservadores contra Progressistas, Direita contra Esquerda, alguns filmes são impulsionados por supostamente “escolher” um lado, como nos casos recentes de Barbie (2023) e O Som da Liberdade (2023). A polêmica costuma funcionar, e o hype ocorre, para cada pedido de boicote, alguém resolve conhecer o “assunto” do momento. Ou seja, o capitalismo continua funcionando, quer a gente queira ou não.

Enfim, Nefarious é um bom filme? Talvez a pergunta correta seja, é um filme pra quem? O plot inicial é extremamente instigante e o conceito minimalista, com poucos atores em praticamente um único cenário, em uma trama que se desenvolve somente com diálogos, resulta em uma produção que merecia, no mínimo, ser conferida. Mas para que ele possa funcionar e ser apreciado (em partes) é necessário que você ignore toda a mensagem cristã-republicana-conservadora-de-direita (o que é impossível para alguns, como este que vos escreve). Ou fazer parte de algum grupo que se identifica com esta ideologia política, aí este filme seria para você.

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Média da classificação 4.1 / 5. Número de votos: 13

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João Pires Neto

João Pires Neto é apaixonado por livros, filmes e música, formado em Letras, especialista em Literatura pela PUC-SP, colaborador do site Boca do Inferno desde 2005, possui diversos contos e artigos publicados em livros e revistas especializadas no gênero fantástico. Dedica seu pouco tempo livre para continuar os estudos na área de literatura, artes e filosofia

6 thoughts on “Nefarious (2023)

  • 12/01/2024 em 11:44
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    Ninguém quer saber sua ideologia. Quer militar, pede pra fazer estágio na Folha, Uol… “ainnn, o filme é contra minha ideologia, entao vou falar que é ruim…”
    Como crítico, sua nota é Dó.

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  • 10/01/2024 em 23:27
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    Militante não consegue segurar a periquita e sempre enfia o seu lado doentio e fanático em tudo né.

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  • 09/01/2024 em 03:13
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    KKKKKKKKKKK mas gente, que diabo de critica é essa? Parece que foi escrita por um militante de 15 anos que acabou de descobrir o twitter.

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    • 09/01/2024 em 11:45
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      Compare essa crítica com qualquer outra feita por canais de direita sobre filmes progressistas e vc verá ó quanto a análise do João Pires Neto foi madura e direta ao ponto.

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      • 09/01/2024 em 17:59
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        Se o filme fosse com mensagens com cunho progressista você ia adorar né amigão? Só acho desonestidade você comparar Barbie e Som da Liberdade.

        Um claramente mostra uma mensagem ideológica o outro denuncia o tráfico infantil e muito menos tem as tais “teorias de conspiração”, mas como você claramente já tem um lado (como já está descrito na sua bio) fica difícil pagar de isento.

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        • 11/01/2024 em 21:48
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          Desonesto é você acusar o outro exatamente do que você faz. É problema o filme ter cunho ideológico progressista mas não é de cunho extremista? Coerência, rapaz. E só pelos realizadores dessa bomba já dava pra saber o que esperar, até hoje quero esganar um crente por um ter me feito perder tempo com aquela porcaria de deus não está morto.

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