A Teia (2024)

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A Teia
Original:Sleeping Dogs
Ano:2024•País:EUA, Austrália
Direção:Adam Cooper
Roteiro:Adam Cooper, Bill Collage, E.O. Chirovici
Produção:Bill Collage, Adam Cooper, Mark Fasano, Deborah Glover, Arun Kumar, Pouya Shahbazian, Henry Winterstern
Elenco:Russell Crowe, Karen Gillan, Marton Csokas, Tommy Flanagan, Thomas M. Wright, Harry Greenwood, Pacharo Mzembe, Lynn Gilmartin, Elizabeth Blackmore

O destaque de A Teia (Sleeping Dogs, 2024), debut de Adam Cooper na função de diretor, é, sem dúvida, o astro Russell Crowe. Com mais de 70 produções no cinema, com papéis grandiosos em produções conhecidas como Gladiador (Gladiator, 2000), Los Angeles: Cidade Proibida (L.A. Confidential, 1997), Uma Mente Brilhante (A Beautiful Mind, 2001) e Os Miseráveis (Les Misérables, 2012), o ator neozelandês continua atuando em alto nível, com performances sempre marcantes e que elevam o status de qualquer produção. Neste novo filme, estreando hoje nas telas grandes, ele faz a diferença em uma trama que tenta surpreender o espectador desatento, embora tenha deixado algumas pistas significativas pelo caminho.

Adaptação do romance “The Book of Mirrors“, de E.O. Chirovici, por Bill Collage e pelo próprio diretor, o enredo apresenta o ex-detetive Roy Freeman (Russell Crowe), aposentado das funções devido a um acidente envolvendo bebida e direção e por estar sofrendo de Alzheimer. Ele mora sozinho, o que poderia ser um risco para alguém nessa condição, e enche a casa de bilhetes sobre sua própria identidade, profissão, número do seguro social e até dos sapatos, nomes de conhecidos e instruções sobre alimentação, medicação, sua doença e o contato de sua médica, a Dra. Mehta. Transmite uma angústia no espectador observar seu drama de viver numa absoluta escuridão, tendo que diariamente reaprender os passos mais simples para evitar incidentes como o de esquentar o controle remoto no micro-ondas e deixar envelopes na geladeira.

Parte de um tratamento experimental, com ondas de choque no cérebro para desenvolver novas vias neurais, deixando-o com duas cicatrizes na cabeça, Roy recebe um telefonema de Emily Dietz (Kelly Greyson), que atua no projeto Mãos Limpas, uma empresa sem fins lucrativos que advoga para presos condenados injustamente. Ela está atuando no caso de Isaac Samuel (Pacharo Mzembe), condenado à morte pelo assassinato do Dr. Joseph Wieder (Marton Csokas), dez anos antes. Com a sentença agendada para o fim do mês e sem possibilidade de anulação pelo governador, o prisioneiro, que assinou uma confissão quando fora interrogado na época, pede para conversar com os detetives que atuaram no caso, Roy e seu antigo parceiro , Jimmy Remis (Tommy Flanagan, que atuou ao lado de Crowe em Gladiador).

Enquanto Jimmy se nega a dar ouvidos ao rapaz, Roy estuda novamente o caso e vai à prisão para conversar com Isaac, que jura inocência e diz ter sido coagido, além de estar fora de suas condições normais, a assinar a confissão. O detetive percebe que pouco foi investigado na época, e sua doença, com pequenos flashes sobre seu passado, faz com que ele queira reabrir o caso, procurando provas e conversando com pessoas que se envolveram com Wieder, como a astuta Laura Baines (Karen Gillan, na pior atuação de sua carreira) e Richard Finn (Harry Greenwood). É claro que desenterrar o passado pode ser perigoso, e Roy é conduzido a uma “teia” de eventos e reencontros até que a verdade finalmente chegue à tona.

A Teia tenta confundir o espectador com personagens de caráter duvidoso e situações mal explicadas. A confusão mental de Roy dialoga com a do público, entendendo as relações e complicações à medida em que as informações são apresentadas. Se por um lado o mistério pode nos envolver na trama, por outro depende de algumas facilitações para que tudo aconteça da forma como se espera: a casa de Wieder ter sido mantida intocável durante dez anos, por exemplo; ou dado objeto ter sido escondido em tal lugar por aqueles que saberiam o quanto ali seria bastante óbvio; e até a sequência final, quando três personagens se encontram em um mesmo local para um último confronto. E estranho pensar na razão que as investigações de Roy preocupam algumas pessoas, sendo que ele sofre de uma doença de degeneração cognitiva, dificultando conexões.

Pode-se elogiar a condução simples, mas acertada de Adam Cooper. Mas nada justifica a performance horrenda de Karen Gillan, forçando um sotaque e não sabendo nem se colocar em cena. O excesso de diálogos e o ritmo lento, somado ao drama do protagonista, também podem atrapalhar quem espera mais dinamismo da produção. Esperava até que a doença dele fosse colocá-lo em outros conflitos, mas se perde pela proposta investigativa sendo deixada de lado muitas vezes.

É um bom filme, mas boa parte de seus méritos se deve à presença de Russell Crowe. É provável que qualquer outro ator ali faria A Teia se perder em outros thrillers parecidos e ser facilmente esquecido.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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