4.2
(5)

Ripley
Original:Ripley
Ano:2024•País:EUA
Direção:Steven Zaillian
Roteiro:Steven Zaillian, Patricia Highsmith
Produção:Andrew Scott, Enzo Sisti
Elenco:Andrew Scott, Dakota Fanning, Johnny Flynn, Margherita Buy, Vittorio Viviani, Eliot Sumner, Maurizio Lombardi, Kenneth Lonergan, Bokeem Woodbine

Tem alguns críticos idolatrando e outros (poucos) detestando… acho que muito do leitor gostar dessa série que estrou na Netflix tem a ver com, primeiro, se envolver na trama, na forma um tanto quanto contida em que é contada a história de um anti-herói emoldurada por uma fotografia magistral em preto e branco; segundo, estar familiarizado com a obra da escritora Patrícia Highsmith (1921-1995) e o seu mais famoso personagem, o amoral Tom Ripley; e terceiro, ser admirador de suspenses psicológicos, já que o grande mote do protagonista é não ser/existir plenamente, para se adaptar a cada situação que se apresenta.

Para quem não conhece a história, o enredo é baseado na figura de Tom Ripley, falsificador, manipulador, estelionatário e bandido pé de chinelo que vive de aplicar pequenos golpes numa Nova York da década de 60. Procurado pela polícia e acertando cada vez menos nos golpes, ele recebe a proposta de um milionário para ir à Itália procurar seu filho, que se apaixonou pela “dolce vita” italiana. O objeto proposto a Tom é convencer Richard Greenleaf a voltar aos EUA para assumir os negócios da família. Contudo, as intenções de Ripley são diferentes e ele vai enredando os personagens e se enredando em suas maquinações.

O livro O Talentoso Ripley, primeiro do personagem e que se baseia a série, já foi adaptado ao cinema com sucesso em duas ocasiões, em O Sol por Testemunha (1960) e O Talentoso Ripley (1999), este último com Matt Damon, Jude Law e Gwyneth Paltrow como o trio central de protagonistas. Contudo, outros livros com esse personagem (são cinco) já foram adaptados também, como o pouco visto mas eficiente O Retorno do Talentoso Ripley (2002) e o excelente O Amigo Americano (1977) dirigido por Wim Wenders.

O protagonista já foi vivido anteriormente por atores do cacife de Alain Delon, Dennis Hopper, Matt Damon e John Malkovich, mas agora ele é interpretado pelo excelente Andrew Scott, que dá uma nova nuance ao personagem, mais frio, distanciado de tudo e todos, encarando os desafios de forma burocrática, mesmo crimes hediondos, agindo para garantir seu proveito.

Além das atuações (todo o elenco está ótimo, com destaque para o ator italiano Maurizio Lombardi, que faz o inspetor de polícia que entra na história em determinado momento), outro ponto alto é a fotografia em preto e branco de Robert Elswit, ganhador do Oscar por Sangue Negro (2007). O contraste entre claro/escuro profundos, os enquadramentos e a forma como a câmera mira nos detalhes, seja um cinzeiro, uma vitrola ou uma escada, é fundamental para o clima opressivo noir, apesar do enredo se passar em locais paradisíacos e ensolarados.

A realização é mérito do diretor e roteirista Steven Zaillian, que foi responsável pelo script de A Lista de Schindler (1993), Missão Impossível (1996) e da excelente série The Night Of (2016), que deveria ser mais reconhecida pelos fãs de um bom suspense dramático.

Considero essa uma grande e diferente série da Netflix, que costuma pasteurizar em excesso seus produtos, mas o refinamento e o ritmo lento podem afastar os espectadores que buscam uma diversão passageira. Não há aqui o frenesi e o excesso de ganchos ou reviravoltas que algumas séries atuais abusam para agarrar a atenção do espectador.

Em Ripley, a proposta é construção de atmosfera conjugada à arte de contar uma boa história, mas é bom avisar, será necessário concentração e uma pequena dose de paciência para acompanhar a trajetória dos personagens… mas quem se permitir acompanhar, será plenamente recompensado.

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