Amityville 8: A Casa Maldita
Original:Amityville: Dollhouse
Ano:1996•País:EUA Direção:Steve White Roteiro:Joshua Michael Stern Produção:Zane W. Levitt, Steve White, Mark Yellen Elenco:Robin Thomas, Starr Andreeff, Allen Cutler, Rachel Duncan, Jarrett Lennon, Clayton Murray, Franc Ross, Lenore KasdorfLisa Robin Kelly |
O oitavo filme da franquia original Amityville é o que mais se aproxima da tendência atual de se fazer “qualquer coisa Amityville“. A bem da verdade, isso já acontecia desde o quarto filme, quando os assassinatos cometidos por Ronald DeFeo Jr. em novembro de 1974 passaram a não ter mais importância, assim como a moradia maldita. Para justificar o uso da marca, móveis do “ambiente original“, mesmo não mostrados em Terror em Amityville, Amityville 2 e Amityville 3D, passaram a influenciar novas casas, inspirados em antologias como Vozes do Além (1974) e na série Sexta-Feira 13: O Legado (Friday the 13th: The Series, 1987–1990). Assim, Amityville 4: A Fuga do Mal (1989) mostrou um abajur possuído, Amityville 6: Uma Questão de Hora (1996) usou o tempo como ameaça a partir de um velho relógio; e Amityville 7: A Nova Geração (1993) trouxe a face do demônio em um espelho amaldiçoado. À exceção se deve ao Halloween III da série, Amityville 5: A Maldição de Amityville (1990), que mudou até o endereço e os crimes, algo que o sétimo também – sem trocadilhos – se espelhou.
Quando já não havia ideias para objetos malditos, Amityville 8: A Casa Maldita partiu para uma miniatura da casa original como portal para o Inferno – sim, literalmente. Nem o diretor de única viagem, Steve White, e o roteirista Joshua Michael Stern se preocuparam em estabelecer qualquer conexão tanto com os crimes quanto com a casa propriamente (mal)dita; também optaram por não explicar o que a miniatura de uma casa assombrada está fazendo num barraco de ferramentas de uma moradia isolada, bem distante de Long Island. Na verdade, nem mesmo o termo “Amityville” é sequer pronunciado. Por isso, a sensação “qualquer coisa Amityville“, presente no título, é gritante por aqui.
Bill (Robin Thomas) e Claire Martin (Starr Andreeff) resolveram unir escovas de dente e suas famílias. Divorciado, com a ex querendo manter distância principalmente do filho mais velho Todd (Allen Cutler), ele trouxe também a pequena Jessica (Rachel Duncan). Já Claire contribuiu para a nova união com o filho Jimmy (Jarrett Lennon), que sente falta do pai, um soldado falecido, e gosta de camundongos, experiências e de reclamar de tudo. Estão residindo numa casa construída por Bill, embora ele nunca tenha se interessado em abrir um barracão de ferramentas adjascente à moradia, algo que, quando faz, descobre ali a miniatura da casa de número 112 da Ocean Avenue, e ignora um jornal velho afixado sobre a morte de uma família no local.
Ele traz para a garagem de casa e a deixa ali, sem saber o que fazer com ela, até que assim que acende suas janelas, influencia o veículo da família a passar por cima da bicicleta que Jessica iria ganhar de aniversário – no quarto filme, um carro já havia sido levemente possuído por influência do abajur demoníaco. A casa de bonecas de Amityville também usa seu poder para acender a lareira elétrica e deixar a todos com os corpos suados pela alta temperatura. Durante a festa de Jessica, o objeto transforma uma aranha de plástico em uma de verdade, e faz a aniversariante tossir com uma poeira sobrenatural, além de incomodar os tios sensitivos Marla (Lenore Kasdorf) e Tobias (Franc Ross).
Depois de ficar um pouco doente – sem acrescentar nada ao enredo -, Jessica parece “conversar” com a casinha, enquanto esta promove outros fenômenos estranhos. O camundongo de Jimmy, ao adentrar o objeto, é “visto” numa versão imensa embaixo da cama da garotinha: o orçamento de apenas US$1 milhão de dólares impediu algo parecido com o rato de Pesadelos Diabólicos (1983) e da antologia V/H/S/94 – fique com sua imaginação diante de um rabo aparecendo por baixo do móvel; Claire passa a se sentir atraída sexualmente por Todd; Jimmy recebe a visita do pai morto (Clayton Murray); e uma mosca gigante ataca Todd e a namorada Dana (Lisa Robin Kelly). E Bill passa a ser atormentado por visões de incêndio com a filha, e revela uma premonição do passado, quando percebeu que seus pais morreriam um dia antes.
Marla e Tobias acreditam nas influências negativas, principalmente depois que roubam um boneco de vodu de um baú da casa de bonecas. Experimentos indicam que algo sinistro envolve o objeto, com indicação de uma entrada para o Inferno através de uma pequena porta no sótão – nos dois primeiros filmes, o problema vinha do porão! Com coisas estranhas acontecendo, e a família seguindo seu rumo normalmente, logo a garotinha irá sumir numa passagem pela lareira (só trocaram a televisão de Poltergeist) e aparecerão três demônios quase imóveis em efeitos bem ruins para lembrar o infernauta do orçamento pífio.
Os bons momentos de Amityville 8: A Casa Maldita se concentram no pai zumbi de Jimmy, inspirado em A Casa do Espanto. Com aspecto cada vez mais decrépito, ele tenta convencer o menino a matar o pai adotivo até que resolve agir por conta. Já as bobagens são empilhadas no argumento pouco inspirado: Marla pede que Jessica faça uma lista de “coisas estranhas” relacionadas à casa de bonecas, e a menina o faz naturalmente, sem nunca contar ao pai ou expressar sua angústia: “Regra Nº 3: A casa ouve.” Mesmo sem experiência e continuidade, Steve White faz um trabalho “ok” de condução e posiciona a câmera em lugares interessantes, como a da cena do jantar com a visão giratória.
Quando os créditos surgem, Amityville 8 finalmente encerra a fase século XX da franquia, mesmo que de maneira medíocre. Após este filme, o seguinte foi a refilmagem, Horror em Amityville (2005) e depois foram feitos vários spinoffs e longas ruins independentes com a marca até o menos trágico Amityville: O Despertar (2017). Amityville se estabeleceu como algo além de um endereço maldito, mas a inspiração oportunista para uma série que parece não ter fim. Maldito Ronald DeFeo Jr.!