![]() O Filho das Trevas
Original:The Resurrected
Ano:1991•País:Canadá Direção:Dan O'Bannon Roteiro:Brent Friedman, H.P.Lovecraft Produção:Mark Borde, Kenneth Raich Elenco:John Terry, Jane Sibbett, Chris Sarandon, Robert Romanus, Ken Camroux-Taylor, Patrick P. Pon, Bernard Cuffling, J.B. Bivens, Robert Sidley, Elizabeth Barclay, Charles K. Pitts, Megan Leitch, Serge Houde, Paul Jarrett |
Ainda que Lovecraft não seja fã de sua própria escrita, “O Caso de Charles Dexter Ward“, publicado postumamente em 1941, está entre seus melhores trabalhos, numa autoanálise. Traz uma mistura interessante de arqueologia, bruxaria, obsessão e mortos-vivos a partir do protagonista, que tenta se aproximar das realizações de seu ancestral Joseph Curwen. A descoberta de seus experimentos, através de estudos de necromancia e alquimia, o conduz à insanidade dos cientistas loucos até a perda absoluta de sua identidade. O texto teve uma boa adaptação em 1963 com Castelo Assombrado (The Haunted Palace), de Roger Corman, que ainda o referenciou a Edgar Allan Poe, e o fantástico O Filho das Trevas (The Resurrected, 1991), de Dan O’Bannon (A Volta dos Mortos-Vivos, 1985), com o excelente protagonismo de Chris Sarandon.
No prólogo, é mostrado que Charles Dexter Ward (Sarandon) fugiu de um hospício inexplicavelmente, deixando para traz o cadáver decapitado um enfermeiro. A narrativa volta ao tempo, quando a esposa dele, Claire Ward (Jane Sibbett), pediu ajuda ao detetive John March (John Terry) para tentar entender as ações escusas de seu marido, um renomado engenheiro químico de Rhode Island. Ela conta que vivia um casamento comum até seu marido passar a ficar obcecado por seu ascentral Joseph Curwen, que possuia muitas semelhanças físicas com ele. Ele adquire sua antiga moradia em Pawtuxet e começa a desenvolver experimentos estranhos, emitindo um cheiro desagradável de sangue e morte, que chama a atenção de seu vizinho, posteriormente encontrado morto, aparentemente devorado por um animal.
Ao se aproximar da moradia rural, John e Claire encontram um Charles pálido, falando palavras de pouco uso, com aspecto de um cadáver humano. A investigação leva a um diário, datado de 1771, escrito por Ezra Ward (Charles K. Pitts), tataravô de Charles, que teve um caso com Eliza (Megan Leitch), esposa de Joseph, relatando experiências com necromancia, catacumbas na propriedade e uma criatura grotesca, encontrada no rio. Como se imagina, Joseph está de volta à ativa, realizando testes, e a busca por suas realizações levará Claire e John a descobrir um ambiente de criação de vida, monstros e feitiços.
Nota-se em O Filhos das Trevas algumas semelhanças com Reanimator e À Beira da Loucura não apenas pelas ideias, mas a forma como o longa, a partir de um roteiro de Brent Friedman, desenvolve também sua narrativa de investigação de um ambiente antigo, com toques de mistério e um tom sobrenatural. Através de flashbacks bem constituídos, O’Bannon explora uma atmosfera mística e aterrorizante, principalmente nas cenas escuras e frias das catacumbas. O infernauta é envolto por uma fotografia sinistra, em paletas que acentuam o tom sombrio e pessimista, e se vê intrigado pela experiência de ressurreição de Joseph Curwen, assumindo o corpo de Charles Dexter.
A degradação física e psicológica de Charles Dexter é beneficiada pela atuação de Chris Sarandon, passando de um marido amoroso e com sorriso fácil para um cadáver ambulante, com intenções macabras. É amparado pela boa presença de John Terry, cujo personagem é seduzido pela beleza de sua cliente e ao mesmo tempo demonstra interesse pela conclusão do mistério ao qual se envolve. Os méritos também devem ser distribuídos aos efeitos práticos na concepção das aberrações vistas, assim como a maquiagem, na deterioração do cientista.
Obscurecido por adaptações consideradas mais importantes, O Filho das Trevas também faz jus à produção escrita de Lovecraft, numa imersão a um pesadelo científico assustador.

























