Trailer Review #3: Metendo o nariz onde não é Chamado

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Chamados (2016)

2002 foi definitivamente o ano em que o horror de olhos puxados foi abraçado pela América. Aquela perturbadora garota que havia sido deixada para morrer em um poço em 1998, no sucesso japonês Ring: O Chamado, de Hideo Nakata, migrou para os Estados Unidos para educar Hollywood sobre a maneira correta de se produzir medo, sem repetir fórmulas desgastadas. O Chamado, de Gore Verbinski, foi uma convocação eficiente para que o cinema oriental atravessasse o oceano mais vezes, em enredos ainda mais ousados e incômodos. Fez bonito por onde passou, muito também pela simpatia de Naomi Watts e na caracterização ingênua e assustadora de Daveigh Chase, ambos não atrapalhados pelos olhos esbugalhados de David Dorfman em sua atuação caricatural.

Três anos depois, contudo, a tentativa de apresentar uma continuação original, ainda que tivesse a participação oficial de Hideo Nakata como diretor, foi completamente falha. Não foi bem um remake nem uma repetição da fórmula, mas um produto artificial e insalubre que deveria ter ficado no poço das ideias mal desenvolvidas. A partir daí, Samara Morgan parecia ter encontrado seu descanso oficial, e sua busca por uma mãe se cessou de vez, sem trazer os arrepios que o público almejava. Não havia mais motivo para continuar, até mesmo porque a menina da era do VHS teria que se adaptar à chegada definitiva dos DVDs – e posteriormente blu-rays. Enquanto isso, na terra do sol nascente Sadako continuaria assombrando curiosos, também em continuações ruins, até o embate oficial com Toshio no crossover recém-lançado por lá.

O Chamado sempre foi referência para um bom terror. Qualquer pesquisa realizada nos anos seguintes apontava o remake como um exemplar de boa produção do novo milênio, colocando Samara como um vilã querida e temporariamente adormecida. Mas, ela está de volta! Aquele anúncio do início do ano se confirmou, com a divulgação da data de estreia – no Brasil, chega aos cinemas no dia 10 de novembro -, e os surgimentos repentinos do pôster e do trailer oficial da Paramount. Será um reboot? Um prelúdio? Continuação? Acertou quem apostou na terceira questão.

Com direção de F. Javier Gutiérrez (de A Casa dos Mortos), a partir de um roteiro escrito a seis mãos – Jacob Aaron Estes, Akiva Goldsman (Eu Sou a Lenda) e David Loucka (A Última Casa da Rua) -, Chamados aparentemente desponta como um horror convencional, um resgate de um franquia que deveria ter ficado apenas no primeiro filme! Na sinopse nacional, Julia (Matilda Lutz) é a protagonista do novo pesadelo. Assim como o namorado Holt (Alex Roe, de A 5º Onda), ela recebe uma ligação sinistra, avisando que só lhe restam sete dias de vida. Até lá, ela precisa descobrir um meio de se libertar da maldição de Samara e de sobreviver às aparições malignas da menina.

Rings 2016 (2)Não diz nada além do que foi visto em 2002. O cartaz nacional remete ao Último Exorcismo ao mostrar a assombração como uma possuída contorcionista do gênero. Talvez o trailer possa empolgar o suficiente para abafar a falta de originalidade expressa na sinopse e cartaz! “Você não é real!“, grita uma jovem que tenta desligar o televisor LCD (não tem mais TV tubão para empurrar Rachel para o fundo do poço), antes que a vilã azulada erga o aparelho em busca de uma saída. Conhecemos a tal Julia, cujo namorado diz saber da lenda da menina que matava há 13 anos com sua fita amaldiçoada. Desta vez, ao invés de um tijolo, a protagonista recebe um e-mail desconhecido com o vídeo anexo e resolve assisti-lo, sem se preocupar com os cavalos de troia e outros vírus destrutivos que poderão aterrorizar seu notebook em menos de sete dias!

Na pequena cena do vídeo, percebe-se que Samara atualizou o conteúdo, com algumas cenas diferentes (provavelmente usou um programa mais avançado de edição), ainda que o suicídio da mãe e a porta esteja ainda em evidência. Um toque no telefone – aparelho de museu ou ela está num hotel antigo – e a velha frase que antecipa a semana infernal que terá pela frente. O telefone pesado queimou sua mão e deixou uma marca, simbolizando o “renascimento“, de acordo com um homem cego que parece conhecer a menina.

Separado em dias, o trailer mostra Julia regurgitando cabelo (clichê que até Atividade Paranormal já fez uso), sangrando do nariz (clichê 2, usado até pela Eleven, de Stranger Things), sendo chamada por Samara, escapando da queda de um poste… A mão conectada a da Samara parece dizer que a fantasminha quer voltar a viver, provavelmente com o corpo de Julia, que aparenta ter poderes. Moscas! Muitas moscas! E a cena mais interessante do trailer, quando o cego anuncia que a Julia “abriu uma porta e ninguém está seguro“: vemos uma viagem de avião, com o vídeo sendo exibido nas mini-televisões para todos os passageiros. Pânico no ar, e mais moscas!

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É cedo para dizer se o filme valerá ou não a pena, mas já transparece algumas ideias curiosas: parece que o longa irá explorar a viralização do vídeo pela internet. Diferente de O Chamado, o longa não se concentrará apenas nos sete dias que a personagem precisará agir para se livrar da maldição, mas no posterior a isso. Somente a compreensão dos intentos da garota-fantasma poderá solucionar a nova maldição. E eu ainda aposto num renascimento físico, como um objetivo a ser conquistado, o que necessitará de um sacrifício de Julia pelo bem da humanidade! Se vai valer a pena revê-la, só iremos saber em novembro mesmo!

Curiosamente, a atriz que interpretará Samara Morgan se chama Bonnie Morgan (!!!), que tem em seu currículo filmes como Escavadores e Filha do Mal. Gostaria de ver Daveigh Chase novamente, na melhor saída do poço que a franquia proporcionou!

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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