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Casas assombradas e hospitais psiquiátricos são ambientes já construídos em conceitos aterrorizantes. Da mesma forma, os hotéis também podem abrigar pesadelos, conforme o cinema de horror já nos mostrou. O Overlook, por exemplo, está entre os espaços mais assustadores da Sétima Arte, espalhando assombrações e um passado de assassinato e vingança. Mas há outros igualmente incômodos, como o Ravens Inn, de Horror Hotel (1960), com Christopher Lee; ou o Yankee Pedlar Inn, em seu último fim de semana de atividade em Hotel da Morte (2011); o The Abbadon Hotel, da franquia Hell House LCC; o Starlight de Devorado Vivo (1976), de Tobe Hooper; e tantos outros: Terror nas Trevas (1981), Identidade (2003), The Speak (2011), A Estranha Hospedaria dos Prazeres (1976), de José Mojica Marins, e até Pânico na Floresta 6 (2014). E, claro, o mais conhecido de todos e a principal referência à ambientação só poderia ser o Bates Motel, do clássico Psicose (1960). Mas você também pode se hospedar no Hotel Transilvânia se quiser um quarto com mais opções de monstros!

Para um dos criadores da série American Horror Story, Ryan Murphy, os hotéis transmitem uma sensação constante de insegurança: “Quando você faz check-in em um hotel, há certas coisas além do seu controle… Outras pessoas têm as chaves do seu quarto; eles podem entrar lá. Você não está exatamente seguro, é uma ideia muito perturbadora.” Ele e o co-criador Brad Falchuk pensaram em resgatar o terror da primeira temporada, quando propuseram o fio narrativo, imaginando personagens cruéis e fantasmas errantes dividindo quarto com clientes comuns, que planejam visitar casas famosas e pontos turísticos de Los Angeles. O Hotel Cortez teve inspiração em lugares reais, palcos de assassinatos e coisas estranhas, como o Hotel Cecil, que, em 2013, ficou conhecido pela estranha morte de Elisa Lam, vista pelas câmeras de segurança do elevador em gestos não naturais.

Tendo o cenário perfeito, construído pelo insano James Patrick March (Evan Peters), com corredores que não levam a lugar algum, passagens secretas, um duto de descarte de corpos e compartimentos escondidos nos quartos para facilitar o acesso às vítimas, a quinta temporada ganhou destaque pelo envolvimento da cantora pop Lady Gaga como personagem efetivo, basicamente substituindo Jessica Lange. Ela interpreta Condessa, uma vampira que circula com seus amantes e pretendentes, rasgando a jugular dos incautos com sua luva de unhas pontudas. Já surge no episódio inicial, “Checking In“, dirigido por Murphy, e que teve sua exibição no dia 7 de outubro de 2015, após semanas de divulgação de cartazes conceituais, fotos interessantes e trailers. Nele, duas turistas suecas são aterrorizadas por uma criatura escondida em seu colchão, enquanto o detetive John Lowe (Wes Bentley) está em busca do Assassino dos Dez Mandamentos, que costuma deixar corpos expostos, com órgãos ausentes, seguindo os mandamentos bíblicos.

Lowe é obcecado pelo Hotel Cortez e o utiliza como escape de seu casamento conturbado com a Dra. Alex (Chloë Sevigny), depois que o filho do casal, Holden (Lennon Henry), desapareceu em um parque. O sumiço afetou também a relação de Alex com a filha Scarlett (Shree Crooks), habitualmente deixada de lado. Lowe tem visões de seu filho zanzando pelo hotel, algo que se configura como ponto pacífico ao mostrá-lo em uma sala de jogos e extração de sangue com outros pequenos, servindo como bebida para as criaturas vampirescas. A Condessa perde o interesse pelo amante Donovan (Matt Bomer), depois que um desfile promovido pelo novo dono do hotel, Will Drake (Cheyenne Jackson), apresenta o modelo viciado Tristan Duffy (Finn Wittrock), e ela se interessa pelo rapaz, assim como a barwoman Liz Taylor (Denis O’Hare), um dos poucos humanos do hotel ao lado da atendente Iris (Kathy Bates), mãe de Donovan.

Além dos vampiros e humanos, há também fantasmas presos no hotel. Sally McKenna (Sarah Paulson) é uma viciada em drogas, que foi empurrada pela janela por Iris e agora passeia pelos quartos, tendo um interesse obsessivo por John Lowe; Hazel Evers (Mare Winningham) é a camareira braço direito de March, outra assombração local. Assassinato seguido de suicídio os condenou a ficar no hotel em sua rotina de limpeza de sangue dos lençóis e tentativas de desenvolvimento de novos assassinos em série. “A Noite do Diabo“, quarto episódio da temporada, traz uma reunião fantasmagórica anual, conduzida por March, e com a presença de assassinos famosos, como John Wayne Gacy (John Carroll Lynch), Jeffrey Dahmer (Seth Gabel), Richard Ramirez (Anthony Ruivivar), Aileen Wuornos (Lily Rabe, em excelente caracterização) e até o Zodíaco. Momento cômico da temporada, March dá indícios que ajudou na construção de todos eles, incluindo Dahmer, que curiosamente Evan Peters interpretaria mais tarde em uma minissérie.

Fora do hotel, também vale menção à vingativa Ramona Royale (Angela Bassett), que aguarda o momento de exterminar com os domínios da Condessa. Há o interesse de vingança do casal vampirizado Rudolph Valentino (Finn Wittrock em outro papel) e Natacha Rambova (Alexandra Daddario), oriundos do passado da Condessa e que foram enganados e mantidos aprisionados em um espaço do hotel. Em aparência animalesca, logo a dupla, que poderia render momentos sangrentos como vampiros “não domesticados“, perde suas características para se aproximar da vilã, sem a mesma intenção – mas não é o único percalço da temporada. A Condessa, que demonstrava uma imponência nos episódios iniciais, como a vampira Regine Dandridge, de A Hora do Espanto 2 (1988), logo passa a ser mais “humanizada” pelos relacionamentos, ainda que regados a sangue e pescoços rasgados.

Aliás, relacionamentos não faltam nessa temporada, que optou por cenas de cunho sexual e momentos eróticos. Há muitos e constantes, alguns até irritantes e graficamente incômodos, como o que envolve o “Demônio do Vício“. O lado vampiresco é deixado de lado por situações dramáticas de aceitação da família (Iris x Donovan; John Lowe x Alex x Scarlett; Tristan x Liz x Condessa; Liz x o filho…) e intenção de suicídio. Como nas temporadas anteriores, todos os personagens praticamente fumam e usam drogas, fazendo um contraponto entre o glamour e o noir – este principalmente pela investigação do serial killer, em clara referência a Coração Satânico (1987) e Seven – Os Sete Crimes Capitais (1995)

Sem os caninos longos, sem medo de crucifixos, sem o incômodo do sol, os vampiros de American Horror Story Hotel só são pessoas imortais e que precisam se alimentar de sangue. Os fantasmas mantêm a aparência de quando vivos… É uma pena que os desenvolvedores da série esqueceram esses aspectos repugnantes que foram explorados em temporadas anteriores. Se era para ter uma relação mais próxima com o terror, ficou apenas na promessa e nos corpos expostos em assassinatos violentos ou na assombração disforme que vez ou outra dá as caras.

Quanto ao elenco, é de se estranhar que Lady Gaga tenha ganhado o Globo de Ouro como Melhor Atriz. Poderia ter uma indicação como revelação, pois Kathy Bates está muito melhor, com um impacto de atuação com mais dramaticidade e esforço cênico. Gaga está estereotipada, com pouca sensibilidade e comoção – é compreensível que a escolha seja como incentivo ou apelo popular, mas é exagerado. Também não gostei nesta temporada de Sarah Paulson, mesmo em papel duplo aparecendo novamente no final, repetindo sua personagem de Murder House. Com exageros expressivos, a atriz não ficou muito à vontade como a depressiva Sally, com um papel sem muita importância. Contudo, a parte ofensiva da temporada está no irritante sotaque de Evan Peters, em atuação que tentou remeter a um estilo meio Ed Wood, mas ficou apenas incômodo.

American Horror Story Hotel novamente dialoga com outras temporadas, como o papel final de Paulson. Há o bebê demônio da Condessa, visto também na Murder House, e também a participação rápida e forçada da bruxa Queenie (Gabourey Sidibe) de Coven. Apesar dos intentos, esta foi a pior temporada até o momento, conseguindo ser inferior até a Freak Show, considerada por muitos como bastante fraca. Parece que a intenção foi aproveitar a presença de Gaga e ambientação, sem muita preocupação com o enredo. Há bons momentos, como as crianças vampiras e o episódio do massacre na escola e que poderia render um filme à parte, mas nada que torne a experiência tão próxima do horror como prometera Murphy.

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