Dois rótulos de horror ganharam notoriedade com a virada do milênio: os torture porn e o horror elevado (apelidado pelo The Guardian como pós-horror). São quase opostos porque o primeiro parte para o gore e a violência gráfica como um exploitation moderno; o segundo é mais cadenciado, com um horror incômodo, que salta das fronteiras do jumpscare para algo mais perturbador. Não quer dizer que o primeiro não possa ter um enredo dramático, assim como o segundo não tenha cenas repugnantes. Mas são estilos que praticamente caminham para lados opostos, com cruzamentos esporádicos no percurso.
Assim, é estranho pensar a respeito do anúncio que foi feito essa semana sobre o acordo para a realização de um novo O Albergue, em um produto em forma de série, estrelado por Paul Giamatti. Os dois primeiros filmes foram comandados por Eli Roth, uma parceria com Quentin Tarantino, que via nele o futuro do horror, depois de ter visto Cabana do Inferno. Roth teve um começo intenso realmente, marcado por cenas de tortura e sangue em profusão, ousadia e desmembramentos. Uma moça depilando as pernas com evidentes feridas pútridas ou um rapaz tendo que cortar a órbita do olho de uma garota que saltou durante um processo de prazer a partir da dor são dois dos exemplos que justificam a previsão do diretor de Cães de Aluguel.
Após O Albergue e O Albergue 2, Roth fez Canibais, nas veias de Cannibal Holocaust, mas não acertou a mão. Voltou aos holofotes ano passado com o divertido Feriado Sangrento e este ano deve apresentar a aventura bizarra Borderlands: O Destino do Universo Está em Jogo, baseado no famoso game, para depois trabalhar numa continuação desse novo slasher. Não se sabe ainda se ele irá dirigir algum episódio da série sobre O Albergue ou se estará envolvido na produção. No caso de O Albergue 3, ele nem passou em frente ao estúdio.
Mas, o que será dessa série sob um olhar de thriller elevado? Teríamos uma tortura sugerida, ela se apoiaria no trato do viés psicológico dos personagens envolvidos? Seria uma produção PG-13, divulgada na Disney+? Além do nome de Giamatti, só se sabe, de acordo com o The Hollywood Reporter, que a série será uma “reinvenção“, “uma adaptação moderna” e que não terá vínculos com personagens ou acontecimentos vistos nos filmes.
A dúvida principal é saber se estamos diante de uma futura tortura aos olhos!
