Gato Negro, O (1981)

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Gato Negro (1981)

O Gato Negro
Original:Gatto nero
Ano:1981•País:Itália
Direção:Lucio Fulci
Roteiro:Lucio Fulci, Edgar Allan Poe, Biagio Proietti
Produção:Giulio Sbarigia
Elenco:Patrick Magee, Mimsy Farmer, David Warbeck, Al Cliver, Dagmar Lassander, Bruno Corazzari, Geoffrey Copleston, Daniela Doria, Lucio Fulci

Um homem caminha tranquilamente pelas ruas de um vilarejo, seguido por uma pequena criatura de quatro patas – que o infernauta já saberá sua identidade antes dos créditos surgirem na tela. Ao entrar em seu carro, ele esquece a porta de trás aberta e permite a entrada de seu algoz felino. Alguns metros a diante, seus olhos irão se encontrar com os do demônio negro, fazendo-o ficar hipnotizado até largar a direção do veículo. Chocando-se com um carro estacionado, seu corpo é atirado pelo vidro evidenciando o sangue que escorre por sua cabeça esmagada. Em apenas, dois minutos de projeção, você já terá evidências suficientes para acusar o diretor como sendo Lucio Fulci, seja nos closes nos olhos ou na morte sangrenta em plena luz do dia.

Assim começa O Gato Negro, filme que o diretor italiano concebeu em 1981, na mesma época em que lançava ao mercado obras como Terror nas Trevas e A Casa do Cemitério, com seu nome já estabelecido dentre os mestres do gênero. A produção não faz parte dos destaques da filmografia do cineasta, mesmo que sua marca registrada esteja presente durante os 92 minutos e possa ser considerada interessante, principalmente com as referências ao escritor Edgar Allan Poe. Segundo consta nos bastidores, Fulci teria dirigido o longa de modo automático, prestando um favor ao produtor Giulio Sbarigia, mas manteve seu estilo peculiar graças à parceria com Sergio Salvati, desde o western Os Quatro do Apocalipse.

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O roteiro de O Gato Negro tem a participação de Fulci, mas também leva o nome de Biagio Proietti. Não é preciso muito esforço para notar que as referências a Poe vieram do diretor italiano. Publicado em 1843 no Saturday Evening Post, o texto original trazia um homem que teve seu comportamento alterado devido às influências negativas de seu animal de estimação, levando-o a cometer atrocidades, sem conseguir se livrar do animal. A primeira adaptação cinematográfica foi feita em 1934 com Boris Karloff e Bela Lugosi. Este último voltaria a encarar o felino com Basil Rathbone em 1941 sob a direção de Albert S. Rogell. Depois seria a vez dos astros Vincent Price e Peter Lorre, em 1962, na antologia Muralhas do Pavor, de Roger Corman, enfrentarem o bichano demoníaco. No entanto, o conto só teria uma versão italiana em 1972 quando Sergio Martino comandaria o gato Satã – sim, esse era o nome da criatura – em Il tuo vizio è una stanza chiusa e solo io ne ho la chiave, lançado por aqui como No Quarto Escuro de Satã, numa pincelada à obra original. Dario Argento também deu a sua contribuição à obra com o curta que pertenceu a produção Dois Olhos Satânicos, de 1990, ao lado de George A.Romero, com Harvey Keitel no papel principal.

Após a morte inicial, mais duas vítimas sofrem nas patas do gato: dois jovens resolvem namorar numa pequena instalação num porto e ficam presos no local, morrendo sufocados. Longe dali, ao investigar uma tumba, a fotógrafa Jill Trevers (Mimsy Farmer) encontra parte de um microfone usado pelo médium Robert Miles (Patrick Magee) para registrar suas conversas com os mortos. Ele é o dono do gato serial killer, que demonstra pouco afeto arranhando-o nas mãos. Investigando os assassinatos o Inspetor da Scotland Yard Gorley (David Warbeck) pede ajuda a Jill, que começa a acreditar num envolvimento de Miles com os crimes.

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Lucio Fulci foge dos exageros de seus trabalhos anteriores ao fazer de O Gato Negro um filme mais atmosférico do que sangrento, o que é de estranhar vindo de alguém conhecido como Maestro do Gore. Uma mulher em chamas, um homem pregado ao solo (comum nos filmes de Fulci, basta ver Manhattan Baby e Demonia para ver cenas parecidas) e arranhões no rosto completam o cardápio macabro do diretor, sem apelos para feridas nojentas e olhos arrancados (em Demonia, o diretor trouxe gatos mais assustadores do que este, num filme bem inferior). Os efeitos especiais são simples, mas eficientes dentro da proposta de apresentar um animal assassino. A criatura incomoda cada vez que aparece em cena, com a sonoplastia ampliando seus miados e sons cavernosos para dar uma sensação de repulsa.

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A obra de Edgar Allan Poe é lembrada quando Miles enforca o animal, ficando gravada a cena sobre a madeira. O médium passa a ser atormentado pela morte do animal com a corda aparecendo em alguns momentos. Também é possível ver o texto original na sequência final, desde o emparedamento até a conclusão idêntica à obra do autor.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

2 thoughts on “Gato Negro, O (1981)

  • 17/10/2016 em 14:51
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    É um filme muito bom; um dos últimos da fase boa do Fulci.
    O Gato Negro é um dos melhores vilões-animais do cinema, um verdadeiro serial killer!
    Filme Ótimo!

    Resposta
  • 18/07/2014 em 23:45
    Permalink

    Apesar de não ter o gore em excesso como de costume , Fulci vem com uma proposta diferente que o acaba tornando interessante .
    ” O Gato Negro ” não é um filme ruim eu até gosto , mais vale lembrar que é bem abaixo de seus famosos filmes anteriores , mais por se tratar do Mestre Lucio Fulci vale a pena conferir e se for um colecionador que nem eu , tem que ter também na coleção !

    Resposta

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