Amaldiçoado
Original:Horns
Ano:2014•País:EUA, Canadá Direção:Alexandre Aja Roteiro:Keith Bunin, Joe Hill Produção:Alexandre Aja, Riza Aziz, Joe Hill Elenco:Daniel Radcliffe, Juno Templo, Kelli Garner, Max Minghella, Joe Anderson, David Morse, Heather Graham |
Em dado momento de Amaldiçoado, o protagonista Ignatius (Ig) Perrish, interpretado por Daniel Radcliffe – o único suspeito do brutal assassinato de sua namorada – ganha os chifres do título original, e passa então a descobrir de maneira espontânea os segredos de todos com quem conversa, desde uma desconhecida criança birrenta que confessa ao rapaz que desejaria colocar fogo na cama da mãe, até sua própria progenitora (Kathleen Quinlan), que desabafa com o filho que não aguenta mais sua presença. Tais instantes de inspirado humor negro representam a melhor parte do roteiro, que subitamente muda seu tom para um patético suspense que busca desvendar o assassino através do novo dom de Perrish, tudo isso embalado por algum gore e símbolos religiosos martelados sem a menor sutileza. Ainda há espaço para conotações nunca bem desenvolvidas sobre amadurecimento, e uma revelação piegas no terceiro ato, que é capaz de fazer até mesmo os preguiçosos roteiros de telefilmes vespertinos ficarem com inveja.
Baseado em obra de Joe Hill (o filho do meio de Stephen King), a trama segue, como exposto acima, a saga do homem inocente tentando provar sua inocência. A diferença aqui é que, além da previsibilidade e do final anticlimático, o protagonista acaba ganhando adereços inusitados, porém bastante úteis em sua busca por achar o verdadeiro culpado pelo estupro e assassinato de sua namorada.
Sem seguir uma estrutura linear, o roteiro de Keith Bunin parece mudar de direção a cada vinte minutos, criando assim a sensação de nunca chegar lá, seja lá onde quisesse, ainda tendo a inclusão de vários flashbacks. Prejudicado ainda por um elenco no mínimo sem inspiração, já que frequentemente Radcliffe parece aborrecido e declamando suas falas, Amaldiçoado ainda entrega alguns dos piores diálogos já vistos no cinema, que vão do expositivo ao simplesmente constrangedor (I fucked her tight little pussy…). A mão pesadíssima de Aja na direção não ajuda em nada, já que mesmo os instantes de potencial construção de alegorias são esfregadas em tom literal na cara do espectador.
Entretanto, no final das contas Amaldiçoado não chega a ser uma total perda de tempo, já que o longa até consegue divertir e intrigar com suas boas ideias, pena que a maioria delas se perde na verdadeira salada construída por Aja e Bunin.
O livro, como os demais de Joe Hill, é excelente. Ele possui a mesma habilidade do pai de criar um enredo assustador e cheio de reviravoltas que prendem o leitor do início ao fim. Mas, assim como muitas obras de Stephen King, a história não funciona fora do papel. Acaba se tornando bizarro demais, perdendo o impacto e a genialidade.
Não vi o filme, mas gosto do livro é bastante ácido e crítico.