Verão Letal – 1ª Temporada (2016)

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Verão Letal - 1ª Temporada
Original:Dead of Summer
Ano:2016•País:EUA
Direção:Mick Garris, Mairzee Almas, Norman Buckley, Adam Horowitz, Steve Miner, Alrick Riley, Michael Schultz, Ron Underwood, Tara Nicole Weyr
Roteiro:Ian B. Goldberg, Adam Horowitz, Edward Kitsis, Deirdre De Butler, Richard Hatem, Steven Canals, Erin Maher, Richard Naing, Kay Reindl
Produção:Kathy Gilroy, Felix Hernandez, Brian Wankum
Elenco:Elizabeth Mitchell, Elizabeth Lail, Alberto Frezza, Mark Indelicato, Ronen Rubinstein, Paulina Singer, Zelda Williams, Eli Goree, Amber Coney, Andrew J. West, Donnie Cochrane, Charles Mesure, Tony Todd, Zachary Gordon

Pode até ser que eu esteja sendo um pouco repetitivo, mas não é segredo para ninguém que talvez com o saco cheio do que os tempos contemporâneos tem a oferecer, estamos vivendo uma explosão de nostalgia em todas as mídias, desde a volta do chocolate Surpresa até remakes e reboots de clássicos do passado no cinema, porém não é à toa que os anos 80 tenham sido privilegiados neste constante flashback… Além de possuir uma estética que não pode ser encontrada em outras épocas, está fresco o bastante para o público de seus 30 e tantos anos ainda se lembrem com carinho (mesmo que sejam objetivamente umas grandes porcarias) e é fácil de emular e capitalizar.

Quando esta vontade de personificar o espírito dos anos 80 é feita com cuidado e carinho às suas fontes temos Stranger Things. Do outro lado, quando você é um Millenial e quer ganhar um troco rápido pegando qualquer elemento que já foi sucesso e resolve fazer um mexidão fedorento, você tem Verão Letal (2016)…

A presepada começa no final do século 19 onde um misterioso pastor, chamado Holyoke (Tony Todd) é acusado e linchado pelos locais por afogar dezenas de seguidores de seu culto localizado às margens do lago Stillwater. A cena dos corpos boiando fica gravada no imaginário popular por décadas, porém hoje o acontecimento já não passa de uma lenda. Avançamos para 1989 e o lago agora abriga um acampamento que ficou fechado por anos, até ser comprado por Deb Carpenter (Elizabeth Mitchell) e prestes a ser reaberto mais uma vez.

Para ajudar nesta empreita, ela conta com um grupo de jovens monitores que acabaram de se formar no ensino médio e estão prestes a seguir com seus planos separados na vida adulta, mas não sem antes passar um último verão de romance, diversão e aventuras. Eles seguem a perfeita cartilha de personagens de estoque de filmes de terror: Carolina “Cricket” Diaz (Amber Coney), a latina que era zoada por ser gordinha e agora é gostosa; Blotter (Zachary Gordon), o cara que adora umas drogas recreativas; Drew (Zelda Williams), o grunge caladão que esconde que é transsexual; Alex (Ronen Rubinstein), o pegador gostosão ambicioso que tem um segredo; Blair (Mark Indelicato), o gay; Joel (Eli Goree), o que não descola da câmera de vídeo; Jessie (Paulina Singer), a ‘bitch‘ do grupo e, finalmente, Amy (Elizabeth Lail, Once Upon a Time), a novata com cara de anjo e potencial final girl.

Neste cenário, eventos sinistros e visões constantes envolvendo Holyoke e o lago começarão a perturbar os monitores, situações que podem estar relacionadas com o passado da região e misteriosas figuras usando máscaras de palha com forma de animal. Quando um cervo tem seu coração arrancado e, em seguida, pessoas começam a desaparecer, o grupo tenta desvendar o que está acontecendo antes que as consequências se tornem mortais.

Verão Letal é uma realização dos mesmos criadores da série Once Upon a Time, Adam Horowitz e Edward Kitsis, que juntos com seu colega Ian Goldberg desenvolveram a série em 10 episódios para o canal Freeform, um braço do canal americano ABC, o mesmo que passou Lost (2004-2010). E Lost é uma referência constante para este trabalho de Horowitz e Kitsis, pois eles também foram roteiristas desta série e, para quem assistiu a meia dúzia de episódios, não há como ignorar o quanto Verão Letal usa elementos da sua irmã mais famosa, até na escolha de Elizabeth Mitchell, que ainda é mais conhecida por ter interpretado a Dra. Juliet em Lost.

A começar a própria estrutura dos episódios, cada um deles conta com vários flashbacks de um dos protagonistas que estão no acampamento Stillwater enquanto a trama de mistério ganha contornos e reviravoltas. Apesar de alguns terem seu background interessante e digno para desenvolvimento dos personagens, na maior parte das vezes estas “revelações” pouco tem a acrescentar na continuidade ou no esclarecimento do que acontece no acampamento, apenas gerando algumas alucinações relacionadas com o passado que tem poucas (ou nenhuma) consequência prática para fazer a história avançar.

Entrecortar a história com flashbacks também traz outro efeito colateral, que funcionava em Lost, mas aqui tem o efeito reverso. Em Lost o mistério da ilha estava intrinsecamente relacionado com o passado dos personagens e cada elemento pessoal acrescentava um tom mais intrigante para o todo. Numa trama típica de sobrenatural como em Verão Letal, cortar frequentemente as cenas de medo para mostrar cenas desnecessárias, só fazem o suspense desaparecer e a tensão se aliviar a níveis de absoluto tédio.

Não ajuda quando a própria série não sabe qual vertente cobrir e ao tentar juntar tudo, acaba ficando ainda mais confusa para o espectador… Pois vejam, a impressão que dá é que os produtores pegaram uma dúzia de elementos de filmes de terror dos anos 80 e tentaram costurar tudo numa colcha de retalhos de personagens estereotipados, situações simplistas e mudanças de regras conforme a conveniência do roteiro. Ou como classificar uma série que vende um terror de acampamento com evidências de um culto satânico, fantasmas, visões, demônios, um slasher, a cidade que esconde um segredo, entre outros? Uma bagunça!

Verão Letal também falha ao se situar na época em que se passa. Colocar um monte de carros e roupas dos anos 80 não faz parecer que a série se passa nos anos 80! A falha em imprimir a aura de obras imortais dos filmes de acampamento, como Sleepaway Camp e Sexta-feira 13, mesmo com ícones como Tony Todd (Candyman) no elenco e a vasta experiência de Mick Garris (Montado na Bala) dirigindo dois episódios e Steve Miner (Sexta-feira 13 partes II e III) no episódio final, faze perder a fantasia do que seria um de seus principais atrativos. Vou evocar novamente o nome de Stranger Things, que, para efeitos comparativos, foi também um primor de ambientação.

Todas estas situações podem fazer parecer que Verão Letal é ruim, mas não é exatamente o caso. O grande problema, ao meu ver, é que o conjunto de elenco, roteiro e atmosfera são tão cheio de elementos jogados, desinteressantes e sem personalidade que causam sonolência. Toda reviravolta é um clichê e todos os personagens são caricaturas. Com uma destacada exceção: o episódio 5, “How to Stay Alive in the Woods“, que tem Cricket como personagem foco. Este episódio em particular possui um excelente ritmo, boas consequências e um final impactante. Uma pena que o restante da série, especialmente os forçadíssimos dois últimos episódios, coloque quase tudo a perder. A série foi cancelada após sua primeira temporada e, francamente, não vai deixar saudades.

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Gabriel Paixão

Colaborador e fã de bagaceiras de gosto duvidoso. Um Floydiano de carteirinha que tem em casa estantes repletas de vinis riscados e VHS's embolorados. Co-autor do livro Medo de Palhaço, produz as Horreviews e Fevericídios no Canal do Inferno!

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