Annabelle 3: De Volta Para Casa (2019)

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Annabelle 3: De volta para Casa
Original:Annabelle Comes Home
Ano:2019•País:EUA
Direção:Gary Dauberman
Roteiro:Gary Dauberman, James Wan
Produção:Peter Safran, James Wan
Elenco:Vera Farmiga, Patrick Wilson, Mckenna Grace, Madison Iseman, Katie Sarife, Michael Cimino, Samara Lee, Sade Katarina, Michael Patrick McGill, Brittany Hoza

Um dos lugares considerados mais assustadores do planeta é o Museu dos Warrens, ambiente reservado para o armazenamento de itens que fizeram parte da rica trajetória de investigações sobrenaturais de Ed e Lorraine Warren. Dentre os objetos amaldiçoados e malditos, o que mais chamava a atenção dos visitantes era sempre uma boneca de pano, protegida em um móvel que trazia os dizeres sobre nunca tentar libertá-la de sua prisão de vidro. Atraiu a atenção também dos realizadores de Invocação do Mal (2013), que, para ilustrar a ação dos personagens de Vera Farmiga e Patrick Wilson, utilizaram-na no prólogo e na sequência final, conquistando os fãs de horror, até então acostumados a relacionar bonecos maléficos apenas a Chucky. Annabelle voltaria em um filme solo para comprovar tardiamente o óbvio: a construção de um bom filme do gênero se deve a pequenos elementos que contribuem para a sua atmosfera macabra, como fantasmas coadjuvantes e até vilões de ocasião.

Essa mesma boneca, que tinha apenas a importância de um breve elemento que compõe o medo, seria a antagonista do fraco longa de 2014, de John R. Leonetti, depois retornaria com mais precisão narrativa em Annabelle 2: A Criação do Mal, dirigido por David F. Sandberg, e completaria a trinca com o lançamento de Annabelle 3: De Volta Para Casa, o debut do roteirista Gary Dauberman. O novo filme vinha com a expectativa de servir de camuflagem para um disfarçado Invocação do Mal 3: ora, ele já trazia nos trailers e imagens promocionais o casal Warren, sua residência e o famigerado museu, além de outras assombrações (lê-se “elementos de horror“) para uma arrepiante noite de terror, possessão demoníaca e sustos.

Em mais uma excelente pré-estreia promovida pela Warner Bros., o Boca do Inferno e demais parceiros da distribuidora puderam testemunhar a nova empreitada do brinquedo, com aquele capricho técnico habitual na construção de cenários que proporcionam uma imersão absoluta no lançamento. Pipoca e refrigerantes acompanharam um público que interagia de maneira ritmada entre saltos no assento e roer de unhas. Ao término da experiência, com os créditos em exibição, os comentários dos espectadores, portando máscaras da boneca, eram todos favoráveis ao sétimo longa da franquia Invocação do Mal. E realmente é como Annabelle 3 pode ser brevemente resumido: claustrofóbico e intenso, não é apenas o brinquedo que encontrou seu habitat como informa o subtítulo, mas também o gênero horror, que descobriu onde se estabelecer.

Logo após o relato das companheiras de apartamento que foram aterrorizados pela boneca que deixava bilhetes pelo local, visto em Invocação do Mal, Ed (Wilson) e Lorraine (Farmiga) decidem ficar com Annabelle para mantê-la sob vigilância em seu depósito de itens demoníacos. No entanto, uma informação “nova” contraria o que se pensava sobre a boneca até então: ela não é possuída, e, sim, um canal de mau agouro, um imã de entidades e assombrações. O casal confirma essa teoria quando, ao ser avisado por um guarda sobre um acidente de carro à frente, o veículo da dupla sofre uma pane, numa estrada escura, nebulosa e repleta de fantasmas, incluindo da pessoa acidentada.

Quando Annabelle finalmente encontra seu lar, passa-se um ano na moradia dos Warrens, com a proximidade do aniversário da pequena Judy (a minha atriz-mirim favorita, Mckenna Grace, de A Maldição da Residência Hill e Bad Seed). Mesmo com o costumeiro olhar tristonho, ela sabe esconder de seus pais sua capacidade de enxergar fantasmas, trazendo uma quase-referência aO Sexto Sentido em um momento de revelação. Após a divulgação de uma nota no jornal que acusa os parapsicólogos de charlatanismo, a garota, além da visão aterrorizante de um padre morto em sua rotina escolar, sofre com gozações por morar em um local considerado maldito, somente sendo ajudada pela babá Mary Ellen (Madison Iseman, de Goosebumps 2: Halloween Assombrado, 2018). Quando os Warren saem de casa, Judy fica sozinha com Mary, e recebem a intrometida Daniela Rios (Katie Sarife, de Zombies and Cheerleaders, 2012), que tem um interesse particular pela morada.

É ela que invadirá o porão das bugigangas tétricas e ousará abrir a porta para que Annabelle possa convocar tudo o que há de ruim na casa para atormentar as três garotas e o simpático Bob “das bolas” (Michael Cimino). O “tudo” pode parecer um exagero, mas não está tão distante do que acontece no roteiro de Dauberman, a partir de um argumento de James Wan. Com um dinâmica constante em causar arrepios, no melhor exemplo de terror-pipoca, cada sequência traz entidades como a do vestido de uma violenta noiva, o barqueiro das almas, a lenda urbana do cão negro, uma TV com transmissões negativas, a máscara de um demônio, entre outras, não permitindo que o infernauta consiga intercalá-las com alívios cômicos.

Entre tantos elementos novos de horror – que podem incitar spinoffs diversos -, a própria boneca passa a se tornar apenas a anfitriã das manifestações. Não que isso seja um problema, mas, de certa forma, descaracteriza a personagem e se afasta de sua essência, no envolvimento com o suicídio da garota que seguia um culto (e que, por sua vez, era fruto de um demônio evocado pelos pais da menina atropelada). E se todos esses monstros permitem calafrios em sua construção curiosa, com destaque para o macaquinho sanfoneiro e para o jogo de adivinhação de objetos, por outro lado jamais são suficientemente ameaçadores, como se o interesse deles fosse simplesmente assustar e incomodar, como espíritos zombeteiros.

Movido pelo clássico “Day after Day“, de Badfinger, Annabelle 3 está realmente disposta a um confronto com o popular Chucky pela supremacia dos brinquedos malditos. Já mostrou que tem potencial e charme no gênero, rendendo uma bem contextualizada trilogia e a expectativa de um constante retorno, mesmo que seja como um elemento discreto no próximo filme de uma assombração que despontou neste grandioso universo do medo, desenvolvido pela visão esperta de James Wan.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

5 thoughts on “Annabelle 3: De Volta Para Casa (2019)

  • 08/10/2019 em 20:31
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    Surpreendente por ser o terceiro filme sobre a boneca, especialmente depois do superfraco “Annabelle”. Não esperava nada, mas gostei.

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  • 08/07/2019 em 22:59
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    Continuo achando o primeiro o melhor da trilogia. Achei o início do terceiro bem perturbador, porém foi perdendo o clima de terror e final feliz demais bem diferente dos finais dos anteriores.

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  • 06/07/2019 em 09:31
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    Nitidamente o filme foi realizado as pressas, para arrecadar bilheteria, a única parte interessante é o início, após a introdução começam os clichês, repetindo todos aspectos dos filmes anteriores e queimando totalmente a franquia. Roteiro raso, vale alguns sustos na sala de cinema, mas será mais um filme que ficará esquecido na história.

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  • 29/06/2019 em 10:30
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    Morro de amores pelo 1º filme e adoro o 2º, tô muito feliz e satisfeita com o 3º, que trilogia incrível =)

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  • 27/06/2019 em 15:16
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    Eu acho o primeiro filme bem bacana, aquela sequência da lavanderia e o elevador é sensacional. É um filme eficiente.

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