Tentáculos (1998)

3.9
(8)

Tentáculos
Original:Deep Rising
Ano:1998•País:EUA, Canadá
Direção:Stephen Sommers
Roteiro:Stephen Sommers
Produção:John Baldecchi, Laurence Mark
Elenco:Treat Williams, Famke Janssen, Anthony Heald, Kevin J. O'Connor, Wes Studi, Derrick O'Connor, Jason Flemyng, Cliff Curtis, Clifton Powell, Trevor Goddard, Djimon Hounsou, Una Damon, Clint Curtis, Linden Banks, Warren Takeuchi

Um ano após o titânico sucesso de James Cameron, uma nova embarcação teria sérios problemas em alto mar. Com um orçamento estimado em U$ 45 milhões de dólares – o que representa um quarto do valor investido no blockbuster -, Tentáculos surgiu com a proposta de uma diversão descompromissada, um filme B de ação e horror para acompanhar nos cinemas com os amigos, na companhia de um balde de pipoca. Quase não se pagou na bilheteria, principalmente pelas comparações inevitáveis com o naufrágio de Leonardo DiCaprio e Kate Winslet, evidenciando um oportunismo daquele diretor que depois passaria a provocar os monstros da Universal, com a franquia A Múmia e depois com o péssimo Van Helsing. Stephen Sommers havia conseguido notoriedade com O Livro da Selva (The Jungle Book, 1994) e, aproveitou um contato direto com a Hollywood Pictures para desenvolver sua primeira produção autoral.

Na verdade, Tentáculos foi filmado em 1996, acompanhando nos bastidores as notícias sobre o promissor Titanic. Houve até uma possibilidade de lançamento em 1997, com uma diferença de poucos meses do filme de Cameron, o que provocaria ainda mais comparações. Com medo de que seu trabalho naufragasse nas bilheterias, algo que infelizmente aconteceu, o longa só chegou aos cinemas no início de 1998 (nos EUA) e por aqui em julho do mesmo ano. Conquistou inúmeras críticas negativas e evitou uma provável continuação, o que pode ser considerado uma pena, uma vez que se trata de um dos melhores trabalhos de Sommers – uma opinião que mantenho desde sua estreia nos cinemas, quando assisti ao filme nos cinemas na época em que fazia faculdade.

Após um letreiro que indica que navios desapareceram no mar do Sul da China, sem explicações, o longa começa com um pequeno barco lutando contra uma forte tempestade. No interior, o Capitão John Finnegan (Treat Williams) e sua equipe, o mecânico Joey Pantucci (Kevin J. O’Connor) e a auxiliar Leila (Una Damon), estão conduzindo um grupo de mercenários, liderados por Hanover (Wes Studi) e seus comandados Mulligan (Jason Flemyng), Mason (Clifton Powell), Billy (Clint Curtis), T-Ray (Trevor Goddard), Mamooli (Cliff Curtis) e Vivo (Djimon Hounsou). O objetivo da viagem é alcançar o luxuoso navio Argonáutica, pertencente a Simon Canton (Anthony Heald), para um grandioso assalto, sob a ameaça de torpedos.

Enquanto os ricos se divertem em festas e música ao vivo, a infiltrada Trillian St. James (Famke Janssen) realiza pequenos roubos até ser descoberta e mantida presa em um depósito. Os invasores chegam ao navio pouco depois, apenas para encontrá-lo praticamente deserto. Ao vasculhar os ambientes, com pistas que mostram que alguma coisa terrível aconteceu, encontram apenas Simon e uns poucos sobreviventes como Trillian, e as perspectiva de que “eles estariam por todos os lugares” e foram responsáveis pelos desaparecimentos. Esqueletos e muito sangue em profusão serão posteriormente descobertos, assim como uma criatura gigantesca, uma evolução de Ottoia (espécie de verme), na opinião de Simon, que possui centenas de tentáculos com “vida própria“, que sugam as vítimas e depois cospem o que sobra.

Assim, quando percebem a natureza do verdadeiro inimigo e conseguem deixar de lado as diferenças e intenções, eles terão que usar as armas que possuem para vencer o monstro e buscar um meio de sair dali. O problema não é apenas a criatura, que caça pelo som, mas também o fato do barco estar aos poucos afundando, com muitos compartimentos submersos. Não vão faltar cenas de heroísmo exacerbado, perseguições, tiros e explosões, além de corpos decompostos e algumas doses de humor negro,num pacote completo para os fãs de horror B, que não precisam de explicações lógicas para todos os acontecimentos.

Se avaliar como Cinema de primeira linha, é claro que Tentáculos irá evidenciar falhas grotescas, seja de continuidade ou dentro do próprio roteiro. Com clichês por todos os lados, nota-se que o monstro só ataca quando há importância no enredo, ignorando outros momentos barulhentos e cenas em que os personagens principais estão à mercê. Não se justifica a condição flutuante da embarcação, mesmo depois de tanta destruição, nem como a criatura consegue se espalhar por diversos cômodos com seus tentáculos que muitas vezes agem de maneira independente, lembrando um dos vilões do game Resident Evil 5.

Com ótimos efeitos especiais da Industrial Light and Magic – embora numa revisão deixe evidente alguns movimentos não naturais do monstro -, o filme também adquire méritos pela presença de um elenco de rostos que se tornariam (ou se tornaram) bastante conhecidos no cinema e na TV. Vale a pena destacar uma breve cinebiografia dos principais envolvidos, e o que aconteceu com eles depois da participação em Tentáculos:

Treat Williams – Já havia feito muitos filmes bons antes do longa de Sommers, como Maratona da Morte (1979), Hair (1979), O Império Contra-Ataca (1980), Coisas para se Fazer em Denver Quando Você Está Morto (1995) e O Fantasma (1996). Ainda na ativa, depois faria: Nas Profundezas do Mar sem Fim (1999), Miss Simpatia 2: Armada e Poderosa (2005), 127 Horas (2010), A Era dos Dinossauros (2013), além da série Chicago Fire: Heróis Contra o Fogo (2013-2018), entre muitos outros.

Famke Janssen – no auge da beleza com Tentáculos, a atriz tinha feito antes alguns trabalhos, destacando-se por O Mestre das Ilusões (1995), 007 Contra GoldenEye (1995) e Até que a Morte nos Separe (1998). Pós monstro marítimo, viriam: A Casa da Colina (1999), X-Men: O Filme (2000), Refém do Silêncio (2001), X-Men 2 (2003), O Amigo Oculto (2005), X-Men: O Confronto Final (2006), Refém do Espírito (2008), João e Maria: Caçadores de Bruxas (2013), Wolverine: Imortal (2013), X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (2014), entre séries e a franquia Busca Implacável.

Anthony Heald – Com o absoluto O Silêncio dos Inocentes (1991), Heald conseguiria popularidade e outros trabalhos grandiosos como O Dossiê Pelicano (1993), O Cliente (1994), Tempo de Matar (1996). Após Tentáculos, viriam 8mm: Oito Milímetros (1999), Dragão Vermelho (2002), X-Men: O Confronto Final (2006), além de séries como Boston Public (2000-2004) e Justiça Sem Limites (2005-2008).

Kevin J. O’Connor – Visto em Peggy Sue, seu Passado a Espera (1986), apareceria F/X2: Ilusão Fatal (1991), A Cor da Noite (1994), O Mestre das Ilusões (1995) e Deuses e Monstros (1998). Depois de enfrentar o monstro e reconhecer a música Garota de Ipanema no elevador na cena que se tornaria clássica em Tentáculos, ele atuaria em A Múmia (1999), Van Helsing, o Caçador de Monstros (2004), O Voo da Morte (2007), G.I. Joe: A Origem de Cobra (2009), 11.22.63 (2016) e As Viúvas (2018), além de séries de TV.

Wes Studi – Tornou-se um rosto conhecido depois do clássico Dança com Lobos (1990). Depois faria O Último dos Moicanos (1992), o terrível Street Fighter: A Última Batalha (1994) e Fogo Contra Fogo (1995). Após encarnar o vilão de Tentáculos, apareceria em diversas produções incluindo Avatar (2009) e o recente A Caminho de Casa (2019).

Jason Flemyng – Com uma carreira iniciada na década de 90, esteve com Sommers em O Livro da Selva (1994), mas também faria Beleza Roubada (1996) antes de Tentáculos. Posterior ao filme B, estaria em Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes (1998), A Máscara do Terror (2000), Do Inferno (2001), A Liga Extraordinária (2003), O Filho de Chucky (2004), A Vida e a Morte de Bobby Z (2007), Espelhos do Medo (2008), O Curioso Caso de Benjamin Button (2008),  Solomon Kane (2009), Kick-Ass: Quebrando Tudo (2010), Fúria de Titãs (2010), A Rede Social (2010), X-Men: Primeira Classe (2011) etc.

Cliff Curtis – Recentemente visto na série Fear the Walking Dead, Curtis saiu do elenco para assumir as continuações de Avatar. Mas o ator já fez muita coisa para o cinema e TV como Vírus (1999), Vivendo no Limite (1999), Dia de Treinamento (2001), Efeito Colateral (2002), O Júri (2003), Sunshine – Alerta Solar (2007), Duro de Matar 4.0 (2007), O Último Mestre do Ar (2010), Megatubarão (2018) e será visto ainda este ano em Doutor Sono (2019).

Deixando uma cena final que poderia trazer uma curiosa continuação, Tentáculos não fez sucesso o suficiente para lhe trazer mais importância. Ainda assim, é um filme que diverte em cenas claustrofóbicas e tensas, com bons efeitos de maquiagem e uma bem escolhida trilha sonora. Envelheceu bem e serviu de inspiração para produções similares.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

4 thoughts on “Tentáculos (1998)

  • 28/02/2023 em 03:26
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    Adoro o filme, já vi muitas vezes. Só faltou a melhor curiosidade, aparentemente o diretor tinha plano de este filme ser um spin off para convencer o estúdio a fazer um remake. A ilha em que eles chegam no final do filme é a Skull Island e aquele rugido no final não é de outro polvo e sim o King Kong.

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  • 04/12/2022 em 12:07
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    A primeira vez que vi esse filme foi no intercine. Pena que não teve tanto destaque, eu gostei desse filme.

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  • 08/08/2019 em 09:25
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    O Treat Williams participou de O Império Contra-ataca como um figurante do grupo dos rebeldes, porém na edição final não é reconhecível em nenhuma das cenas. A única coisa que prova isso são fotos dele com a Carrie Fisher.

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