Caixa de Pássaros
Original:Bird Box Ano:2014•País:EUA Autor:Josh Malerman•Editora: Intrínseca |
A temática pós apocalíptica virou febre de uns anos pra cá, sempre mostrando um futuro onde alguma coisa deu terrivelmente errada. Máquinas dominando o mundo, surto de zumbis ou vírus mortais, falta de água etc. Diferentes motivos, mas algo em comum: todos conhecem a ameaça com a qual estão lidando. E é aí que Caixa de Pássaros difere dos outros.
Começamos com Malorie dentro de uma casa, lutando para tomar uma decisão. As janelas estão protegidas, não há luz elétrica, existe um sistema de alarme que amplifica os sons. E Malorie tem a intenção de abandonar a segurança da casa em busca de um lugar melhor. Sua maior dúvida é: essa realmente é a decisão correta?
O motivo de sua hesitação é bem simples: seus filhos de quatro anos, chamados simplesmente de Garoto e Menina. Não fazia sentido dar nomes em um mundo já acabado.
Quatro anos. Faz quatro anos que Malorie hesita em deixar a casa, mas decide que finalmente chegou a hora. Os filhos têm os ouvidos bem treinados, estão acostumados com as vendas, serão de grande ajuda lá fora. Enfim, a família vai pegar o caminho do rio em busca de um local mais seguro.
Paralelamente a essa jornada, conhecemos, gradualmente, o que aconteceu anos atrás para tantas medidas de segurança serem tomadas. Malorie e sua irmã, Shannon, vivem uma vida normal, até que estranhos fenômenos começam a acontecer na Rússia. Pessoas começam a se suicidar ou a matar uns aos outros, aparentemente sem motivo. Conforme os casos avançam, descobre-se que todas essas pessoas viram algo antes de enlouquecerem. O quê? Ninguém sabe.
Não esperavam que essa loucura chegasse até os Estados Unidos, mas chegou. E só foi levado a sério quando a própria Shannon, ao olhar pela janela, se suicida, deixando uma Malorie recém grávida em desespero e, finalmente, acreditando na ameaça. O único jeito de escapar dessa ameaça é não olhar para fora. Manter os olhos fechados, usar uma venda, tampar as janelas.
Ao ler o jornal, descobre que tem uma pessoa sugerindo abrigo para quem não sabe o que fazer ou para onde ir, a poucos quilômetros dali. Imediatamente ela parte para o local, onde conhece outras pessoas ali abrigadas, que seguem rígidas regras para a segurança de todos na casa. Vendas toda vez que for buscar água, todas as janelas tampadas e, mais adiante, uma caixa de pássaros do lado de fora da casa, servindo como alarme.
O livro intercala os acontecimentos do passado e do presente. Enquanto acompanhamos Malorie e seus filhos em uma cega jornada pelo rio, também acompanhamos a evolução de sua gravidez em uma casa cheia de desconhecidos e como ela lidou com isso no meio de um estranho fenômeno onde criaturas não vistas enlouquecem os humanos até a morte.
A tensão é constante, o suspense está sempre presente, não há um momento de tédio sequer. A ideia de que existe uma ameaça, mas ninguém sabe dizer o que é ou como se parece, é aterradora. E esse é o diferencial de Caixa de Pássaros.
Algo está exterminando a raça humana, não há mais ninguém nas ruas, a desconfiança é constante. Como abrir a porta para alguém sem saber se tem uma criatura junto? E se a pessoa estiver enlouquecida? E se tiver aberto os olhos apenas por um momento, com uma criatura por perto?
Pode-se pensar que é apenas um delírio coletivo. O medo de algo desconhecido foi tão bem enraizado que, ao abrir os olhos no mundo externo, o terror é tanto que acaba enlouquecendo.
Mas não. Em certo momento, essas criaturas são ouvidas pela primeira vez, bem próximas. A ameaça é real, apesar de “invisível”.
As pessoas se sentem tão presas, vivendo no escuro e em constante estado de alerta, que parece que estão numa caixa de pássaros.
A escrita de Josh Malerman faz o leitor sentir toda a tensão, desespero e terror de se viver num mundo onde abrir os olhos pode ser mortal.
Apesar do final parecer definitivo, teremos uma continuação.
Malorie, a sequência de Caixa de Pássaros, será lançada em 21 de julho pela editora Intrínseca.
O livro ganhou uma adaptação pela Netflix em 2018, estrelando Sandra Bullock, Trevante Rhodes e Sarah Paulson.
Gustavo, o livro é um dos mais aterrorizantes que li. Ele tem o nível do conto Os Salgueiros (outro texto aterrorizante).
Tenho dúvidas se você sentirá tal impacto, já que viu o filme – uma adaptação ruim – estraga algumas surpresa do livro.
Gostei tanto que tenho duas edições do livro. A primeira, a convencional. A segunda, em capa dura, é exclusiva da Amazon.
É clichê dizer isso, mas o livro é muito mais legal que o filme, as vezes imaginar algo é mais real e aterrorizante que ver.
Achei o filme fraco, cômico até, mas essa resenha fez eu me interessar pelo livro, que parece ser melhor. Parabéns pelo texto.