3.5
(2)

Vigiados
Original:The Rental
Ano:2020•País:EUA
Direção:Dave Franco
Roteiro:Dave Franco, Joe Swanberg, Mike Demski
Produção:Dave Franco, Elizabeth Haggard, Teddy Schwarzman, Ben Stillman, Christopher Storer, Joe Swanberg
Elenco:Dan Stevens, Alison Brie, Sheila Vand, Jeremy Allen White, Toby Huss, Anthony Molinari, Chase Barker

Não há nada mais incômodo do que a sensação de invasão, de estar sendo observado, perseguido. É um terror urbano e bem próximo da realidade, e distante das narrativas que envolvem monstros lendários, assombrações e assassinos imortais. Um enredo simples, como o do francês Eles (Ils, 2006), de David Moreau e Xavier Palud, e do americano Os Estranhos (The Strangers, 2008), de Bryan Bertino, pode evidenciar uma carga claustrofóbica intensa ao mergulhar o espectador numa tina de desespero e angústia. Ainda que não tenha a mesma força narrativa dos mencionados, Vigiados (The Rental, 2020) já assume seu lugar entre as produções indesejáveis para os que temem o gênero em sua essência crua.

É a estreia na direção de Dave Franco, irmão mais novo de James Franco, e que é mais conhecido como ator em produções como O Atalho (2009), A Hora do Espanto (2011) e Meu Namorado é um Zumbi (2013). Pela experiência na dramaturgia, alguns diálogos construídos em seu roteiro, ao lado de Joe Swanberg e Mike Demski, permitem que ações futuras sejam compreendidas na sutileza de algumas exposições – para quem conhece jargões de roteiristas seria algo como “uma planta“, ou seja, algo que é antecipado para que adquira importância em alguma sequência posterior. Logo no primeiro ato, Charlie (Dan Stevens, de O Chamado da Floresta, 2020) pontua o irmão, Josh (Jeremy Allen White), da seguinte maneira: “Meu irmão é um motorista da Lyft que mal trabalhava e foi expulso da faculdade, cumprindo pena de prisão por quase bater em um cara até a morte do lado de fora de uma fraternidade.

Esses dois irmãos e suas respectivas namoradas, Michelle (Alison Brie, de Pânico 4, 2011) e a descendente de árabe Mina (Sheila Vand, de Feriados, 2016), resolvem alugar um casarão no litoral para curtir um fim de semana. Logo na primeira cena, quando Charlie e Mina estão grudados observando o anúncio, com uma certa intimidade, você já prevê também que os sócios podem ter algum interesse um pelo outro. Mas, Mina namora Josh, que é um rapaz simples e que se autoquestiona sobre as razões para uma garota inteligente como ela gostar dele, ao passo que Michelle nem apresenta desconfiança nas intenções de Charlie. Com esse pequeno núcleo de personagens, já é possível imaginar algumas situações, sem que entenda qual é a verdadeira ameaça.

Ao chegar à casa, levando um cãozinho penetra, conhecem o caseiro Taylor (Toby Huss, de Halloween, 2018), que já deixa claro seu preconceito, até mesmo na tentativa de Mina alugar a morada. “Como você conseguiu entrar nessa família?“, ele pergunta à garota, para incômodo de todos. Mesmo com essa evidente agressão, o grupo resolve curtir o local, observar as estrelas, passear na praia e usar drogas. Nessa primeira noite, com o cochilo de Michelle e Josh, acontece a aproximação de Charlie e Mina. No dia seguinte, arrasados pelo cometido, com insinuações de que fora um erro e não acontecerá novamente, eles começam a perceber algo sinistro na casa.

O suspense que se estabelece, a partir de então, traz algumas possibilidades entre intrigas, medo de descoberta e ameaças. O quarteto cria seus próprios problemas, distante de identificar a natureza do verdadeiro inimigo – e é esse o principal ponto positivo de Vigiados. Até perceberem qual a real ameaça. ela já está mais próxima, eliminando os jovens com determinação e violência.

É comum em produções desse tipo a necessidade de desenvolver o passado dos vilões, justificando seus atos como vingança e traumas de uma infância de abusos, sendo que o Mal pode muito bem se fortalecer em situações cotidianas, tendo inteligência e frieza na construção de um cenário de terror. Vigiados se beneficia dessa camuflagem, que ainda perturba por ela fazer parte do dia a dia, e ainda convidar o espectador a um olhar mais atento no chuveiro de sua própria morada. E eu duvido que você não fará isso, após os créditos surgirem na tela.

Bem feito, o trabalho de Dave Franco apresenta a face de um jovem diretor bastante promissor, com um olhar atento ao núcleo de personagens. Se não permitir uma continuação, como aconteceu desnecessariamente com Temos Vagas, é um nome que merece um voto de confiança.

 

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Média da classificação 3.5 / 5. Número de votos: 2

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1 comentário

  1. Ótimo filme, gostei da maneira que se desenrolou o final, sem muito drama, diálogo e cenas desnecessárias.

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