Os Monstros (2022)

3.3
(7)

Os Monstros
Original:The Munsters
Ano:2022•País:EUA, Hungria
Direção:Rob Zombie
Roteiro:Rob Zombie
Produção:Mike Elliott, Rob Zombie
Elenco:Sheri Moon Zombie, Jeff Daniel Phillips, Daniel Roebuck, Richard Brake, Jorge Garcia, Sylvester McCoy, Catherine Schell, Cassandra Peterson, Tomas Boykin, Jeremy Wheeler, Roderick Hill, Butch Patrick

O sucesso da criação de Charles Addams foi o incentivo para o desenvolvimento da família Munster. Ou, se você preferir algo mais sincero, o escritor Allan Burns confessou nos anos 60 que o conceito de uma família macabra foi simplesmente “roubado“, possibilitando que você encontre similaridades entre personagens como Mortícia e Lily, Gomez e o Conde, e até Tropeço e Herman. O projeto foi inicialmente sugerido à Universal Pictures por Bob Clampet em meados dos anos 40, quando a Família Addams já fazia sucesso no New Yorker, mas demorou mais de vinte anos para o seu desenvolvimento, enquanto decidiam se seria feita uma versão em desenho animado ou um live action. Como o estúdio possuía os direitos sobre o Monstro de Frankenstein e Drácula, optaram por desenvolver personagens visualmente próximos, diferente dos criados originalmente, e, depois de todo um processo de escalação de elenco, a série foi finalmente ao ar em cores a partir de 1964.

Durou quase dois anos, conquistando uma indicação ao Globo de Ouro e popularidade suficiente para a produção de cinco filmes e reboots para a TV. Constantemente exibido na televisão, em uma disputa saudável com a Família Addams, The Munsters fazia parte das lembranças saudosas do cineasta Rob Zombie. Desde a realização de A Casa dos 1000 Corpos, o músico e diretor expressava seu interesse em produzir sua própria versão da série. Seu sonho de realização era sempre interrompido pelos informes da Universal sobre outros filmes e reboots até 2016, quando ele se ofereceu para comandar uma versão de The Munsters com sua visão particular saudosista. Embora tenha feito filmes violentos de terror, incluindo Halloween e a franquia da Casa dos 1000 Corpos, Zombie pretendia explorar seu elenco próprio em uma produção com teor infantil, para a família.

Ainda que fosse sua intenção levar aos cinemas, The Munsters foi adquirido pela plataforma Netflix, com exibição a partir de 22 de setembro. Foi lançado também em mídias digitais como Blu-ray, com material extra, incluindo comentários da equipe e do diretor. As primeiras impressões foram mistas, com elogios ao esforço do cineasta na mesma proporção que o humor raso e interpretações caricaturais também incomodaram. É provável que os fãs do produto original tenham visto boas homenagens à série e a episódios clássicos, e até possam comparar maquiagens e atuações. Como eu nunca tive intimidade com os personagens e com a série, minha opinião é formada pelas impressões que tive com a produção de Rob Zombie. Assim, posso dizer que achei bem fraco, com poucos momentos divertidos em um enredo que não empolga. Personagens sem carisma em um episódio alongado sem graça e até irritante, com elogios reservados à fotografia e efeitos especiais.

Dois ladrões de túmulo, o cientista louco Dr. Henry Augustus Wolfgang (Richard Brake) e seu assistente Floop (Jorge Garcia), invadem uma tumba para levar partes de cadáveres para uma criação frankensteriana. Mais tarde, ao buscar o cérebro do gênio Shelly (Laurent Winkler), erroneamente Floop leva o do comediante de stand up Shecky Von Rathbone. O monstro renascido, com o nome Herman Munster (Jeff Daniel Phillips), passa a fazer inúmeras piadas e trocadilhos, atraindo a atenção de Lily (Sheri Moon Zombie), que se apaixona e promove encontros entre os dois, contrariando seu pai, o Conde (Daniel Roebuck). Enquanto isso, o irmão de Lily, o lobisomem Lester (Tomas Boykin), é provocado pela cigana Zoya (Catherine Schell) a convencer o monstro, após entrar para a família, a assinar um documento que lhe dá o direito da mansão onde vivem na Transilvânia.

Quem conhece a série original sabe que eles moram na Califórnia. Assim, pouco importa essa ameaça de perda da casa, pois independente do que for acontecer, eles não ficarão muito tempo na Romênia. Contudo, os melhores momentos do longa acontecem exatamente nessa primeira metade, quando, por exemplo, Lily usa o Tinder para se encontrar com o Conde Orlock (também interpretado por Brake), o Nosferatu dos clássicos do cinema. Como é exemplo de encontros frustrados, Orlock opta por mostrar seus bichinhos de estimação, no caso, ratos – animais que sempre acompanharam o vampiro. Depois, parte para uma apresentação de dança para finalmente desanimá-la por completo.

Também são sequências criativas no roteiro de Zombie as gags que mostram a voz rouca da criatura de Frankenstein ou o movimento lento do lobisomem na floresta em sua primeira aparição, brincando com as características tradicionais dos monstros lendários. Os programas de TV da Transilvânia, referências a filmes clássicos e até o Pica-Pau também divertem dentro da proposta. O restante – os estranhamentos diante da família de monstros, o Halloween, a viagem a Paris… – é composto de momentos clichês de obras similares. E o exagero das piadas de Herman também incomoda, mas deve ser parte da tradição do personagem, com o cérebro de um comediante.

Também causa estranhamento o Conde odiar Herman o tempo todo, fazer magias para afastar sua filha do genro, para no final aceitar numa boa a presença do rapaz, o mesmo que fez com que o mal humorado personagem passasse a ser um avô simpático. Se esse tipo de absurdo era comum nas histórias originais, não dá para entender seu sucesso. Daniel Roebuck está bastante caricato, assim como Jeff Daniel Phillips e Sheri Moon Zombie, com as mãos em riste, embora a personagem dela não permita algo além do que ela fez. Há algumas participações especiais como a de Cassandra Peterson, mais conhecida como Elvira, mas que não são suficientes para aumentar o interesse pela produção.

Com bons efeitos especiais, voos de morcegos e algumas aparições monstruosas, The Munsters talvez divirta os saudosos fãs dos personagens da família macabra. Pode ser que as crianças também gostem dos excessos de cores, as piadas infantis e a expressividade dos monstros em cena. Para quem como eu, que nunca acompanhou muito bem esse universo co-irmão da Família Addams, é apenas uma bobagem desnecessária como outros trabalhos de Rob Zombie.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

2 thoughts on “Os Monstros (2022)

  • 28/02/2024 em 15:31
    Permalink

    “Direção: Rob Zombie; Roteiro: Rob Zombie……fui.”
    Eu quando descobri a participação ativa do pseudo cineasta nesta produção e desligando a TV imediatamente (o Rob deve ter sido parceiro de quarto acolchoado do Michael Myers)

    “MORRAAAAA!!!”
    Michael Myers falando pela primeira e última vez enquanto esfaqueava Rob Zombie pela 98798746546541521654651321321524654651321312315646469465465421321321 vez depois de assistir a merda que o Rob fez nos dois filmes de Halloween

    Resposta
  • 15/10/2022 em 16:10
    Permalink

    Uma observação, a série de 64 era preta e branca, eu via muito no SBT, o filme lançado em 1966 que foi em cores.

    Resposta

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