A Sombra da Múmia (1944)

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A Sombra da Múmia
Original:The Mummy's Ghost
Ano:1944•País:EUA
Direção:Reginald Le Borg
Roteiro:Griffin Jay, Henry Sucher, Brenda Weisberg
Produção:
Elenco:Lon Chaney Jr., John Carradine, Robert Lowery, Ramsay Ames, Barton MacLane, George Zucco, Frank Reicher, Harry Shannon, Emmett Vogan, Lester Sharpe, Claire Whitney, Oscar O'Shea

Agora jure pelos antigos deuses egípcios que você nunca descansará até que a princesa Ananka e Kharis tenham retornado ao seu lugar de descanso legítimo, nestas tumbas… (Andoheb)

Quando a temível Múmia Kharis (Lon Chaney Jr.) foi perpetuar sua vingança contra os Bannings e todos os que profanaram o sarcófago de Ananka, em A Tumba da Múmia (The Mummy’s Tomb, 1942), continuação de A Mão da Múmia (The Mummy’s Hand, 1940), ela deixou um rastro acinzentado de mofo, além de olhares curiosos que dizem ter visto apenas “uma sombra“. A criatura, arrastando seus pés a partir do cemitério de Mapleton, conseguiu estrangular suas vítimas, uma a uma, a pedido de seu mestre Mehemet Bey (Turhan Bey), até encontrar seu destino em um incêndio. Mas ainda não estava disposta a retornar para seu descanso eterno, pelo menos não para a Universal Pictures, quando, dois anos depois, lançou a melhor das continuações, A Sombra da Múmia (The Mummy’s Ghost, 1944).

O estúdio já não estava mais com seu poderio criativo, pendendo para continuações e crossovers. O primeiro filme, A Múmia (The Mummy, 1932), com Boris Karloff, estimulou o reboot, lançado em 1940, e já apostou em sequências, sendo que muitas delas feitas com a reciclagem de cenas dos filmes anteriores. A Mão da Múmia já trazia cenas do clássico, enquanto A Tumba da Múmia contou a história inteira do anterior em flashback, além de utilizar cenários já explorados. Com o interesse pela temática refletido nas bilheterias, finalmente a Universal fez um filme “realmente novo“, com 60 minutos não desperdiçados em recordações. Mas havia como continuar, uma vez que já não havia mais mestres e nem múmias?

Para a indústria cinematográfica, sim, fato que irá acompanhar todo o cinema de gênero nas décadas seguintes. As filmagens aconteceram entre 23 de agosto e 1º de setembro de 1943, tendo o comando de Reginald Le Borg, especializado em musicais e trabalhos como diretor de segunda unidade. Embora imaginasse que iria comandar uma comédia, foi surpreendido pelo roteiro de Griffin Jay, Henry Sucher e Brenda Weisberg, além da substituição da protagonista, Acquanetta, por Ramsay Ames, após um acidente nos sets, mas não foi o único: Lon Chaney Jr. também se feriu durante a cena de destruição do museu, com o sangue de seu queixo podendo ser visto no corte final.

Apesar dos percalços, o longa finalmente teve sua estreia nos cinemas de Nova York em 30 de junho de 1944, não sendo uma unanimidade entre os críticos. Houve quem o considerasse uma continuação digna da franquia com a Múmia Kharis, como os que não viram nada de mais, como Hans J. Wollstein, do All Movie, que o figurou entre os piores filmes dentre os quatro lançados envolvendo a mesma série – e isso inclui o último, A Praga da Múmia (The Mummy’s Curse, 1944). Levando em consideração suas falhas e o cinema com os Monstros da Universal, trata-se de um ótimo filme, com um dos melhores finais do período.

Algum homem já ofereceu à sua noiva o dom da vida eterna? (Yousef Bey)

Pouco tempo depois dos acontecimentos do anterior – isto é, ainda nos anos 70 -, o longa começa como A Tumba da Múmia, com o Sumo Sacerdote de Arkam (George Zucco) convocando um novo Mestre no Templo para lhe passar instruções sobre Kharis. Ou seja, ele não morreu como se imaginava, mesmo depois de dar um último suspiro, e nem a Múmia, aparentemente escondida em algum pântano. O filho de Mehemet Bey, Yousef Bey (o lendário John Carradine, dando mais valor à produção), é encarregado de uma missão menos vingativa: resgatar Kharis e Ananka, trazendo-os de volta ao Egito. Só para constar, no anterior não há informação sobre Ananka ter ido também aos EUA para exposição no Museu, o que já é um dos primeiros equívocos do enredo.

Em Mapleton, Massachusetts, o professor Matthew Norman (Frank Reicher), que esteve no anterior examinando os rastros da múmia, encerra uma aula sobre os crimes cometidos pelo morto-vivo, mesmo com a nítida discordância dos alunos. Um destes é Tom Hervey (Robert Lowery), que conta para a namorada com descendência egípcia, Amina (Ames), o que a leva a aparentar uma conexão com o passado. Isso se intensifica quando Yousef usa as folhas de Tana para atrair a Múmia, assim como o professor Norman, enquanto desvenda hieróglifos, e acaba influenciando a garota, que chega em transe ao local e desmaia. O professor é assassinado por Kharis nessa mesma noite.

Yousef também usará a Múmia para invadir o Museu Scripps, onde está o sarcófago de Ananka. Kharis destrói o local e mata o segurança. Quando toca em sua amada, ela se desfaz, mostrando a Yousef que existe uma descendente, cujo corpo habita a alma de Ananka. Logo a Múmia irá atrás de Amina, com a tradicional cena do monstro carregando a donzela, e a polícia, com o apoio dos cidadãos, de Tom e do cãozinho inteligente Peanuts, também um atrativo da produção, tentará salvar Amina e destruir de uma vez por todas a criatura, encerrando sua maldição.

Felizmente, as coisas não acontecem como se imagina e A Sombra da Múmia apresenta uma excelente cena final, um momento raramente visto nas produções da Universal. Geralmente, o monstro encontra seu destino e todos são salvos, deixando um sinal de esperança, algo que não é visto aqui. Ainda assim, o filme possui suas falhas técnicas, até mesmo no visual da criatura, com mais expressividade e destacando o nariz, mesmo com a maquiagem a cargo do especialista Jack P. Pierce. E ela, mostrada como uma criatura assassina no anterior, agora chega até a fechar a porta atrás de si, assim que entra no museu, e lamenta suas perdas. Possui ainda uma força descomunal e o andar lento, com o braço direito retraído.

Há outras bobagens no roteiro também notadas, como a ideia da polícia de construir um buraco para aprisionar a Múmia, mas ele nem sequer é utilizado. E o monstro conseguir se esquivar da população lentamente, enquanto desce por uma escada lateral da moradia onde está sendo mantida, sem que seja notada, é algo que poderia envolver Abbott e Costello. Mais uma vez um Bey comete uma falha que culmina em sua própria destruição, sendo que, pelo menos desta vez, há a atuação imponente de John Carradine, tornando o resultado ainda mais adequado.

A Sombra da Múmia (também conhecido por O Fantasma da Múmia) é mais dinâmico e envolvente que o filme anterior, mas se iguala ao primeiro, A Mão da Múmia. Porém, seu final atípico faz toda a diferença, fazendo valer a pena acompanhar mais uma ação de Kharis, seja como monstro vingativo, ou como criatura apaixonada. Seria um final adequado à série, se a Universal não tivesse resolvido fazer mais um, A Praga da Múmia, que chegou aos cinemas no mesmo ano para sepultar a série sobrenatural.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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