O Universo de Sandman: John Constantine, Hellblazer – Vol. 1 e 2 (2020/2021)

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O Universo de Sandman: John Constantine, Hellblazer – vol. 1 e 2
Original:The Sandman Universe Presents: Hellblazer
Ano:2020/2021•País:EUA
Páginas:384• Autor:Simon Spurrier, Aaron Campbell, Matias Bergara•Editora: Panini

Um dos personagens mais icônicos do selo Vertigo da DC – com publicações voltadas mais para histórias com temas adultos –, John Constantine sofreu uma repaginada no reboot da editora nos Novos 52 em 2011. Tentando agradar e atrair novos leitores, as temáticas de suas histórias passaram a ser mais leves, com Constantine interagindo mais com o universo heroico da editora, agindo mais como um super-herói com poderes mágicos do que como um detetive oculto em si. As mudanças desagradaram os fãs de longa data, que ansiavam por um retorno às raízes. Ouvindo o público, a editora prometeu exatamente o que queriam, lançando em 2020 uma nova série de Hellblazer em 12 edições roteirizada por Simon Spurrier, que foi dividia em dois volumes.

No primeiro volume, nomeado “Marcas da Desgraça”, a aventura se inicia com Constantine indo parar em um futuro apocalíptico em que Tim Hunter, um poderoso usuário de magia, usou seus imensos dons para se tornar um tirano e controlar o mundo. Lá, além de ver toda a desgraça que aconteceu, Constantine ainda irá encontrar uma versão mais velha de si mesmo. Para quem leu a série original Os Livros da Magia, escrita por Neil Gaiman em 1990, vai compreender melhor a relação entre os personagens, porém o roteiro aqui é bem fechado e facilita o entendimento para novos leitores.

Após escapar desse futuro miserável, John retorna ao presente, em 2019, onde o roteiro irá se desenvolver em um cenário de fantasia e horror urbanos em Londres. Nosso relutante protagonista é recrutado pelo líder de uma gangue cujos membros têm sido mortos de forma brutal pelo que parecem ser criaturas sobrenaturais. Spurrier consegue colocar uma atmosfera que lembra a série clássica, assumindo um tom bem sombrio conforme a história se desenrola.

Em seguida, temos dois arcos mais curtos: no primeiro, Constantine irá se unir a um mago chamado Tommy Willowtree, que tem a personalidade completamente oposta à de John. O contraste entre os personagens acaba fazendo com que haja algumas situações de humor, mas sem muitos exageros. Encerrando esse tomo, voltamos aos temas mais macabros, em que Constantine investiga sobre uma entidade que tem assassinado os pacientes de um hospital onde a mãe de um de seus poucos amigos está internada.

Partindo para o segundo volume, “Você Mesmo, Mas Melhor”, inicialmente Constantine irá lidar em sequência com algumas lendas conhecidas em histórias mais curtas e fechadas: primeiro investigando um estranho romance entre um pescador e uma sereia; logo depois, temos histórias envolvendo gigantes amorfos e unicórnios onde se pode esperar toda estranheza e esquisitices possíveis (incluindo entranhas explodindo e revelando outro ser ali). Para encerrar, o último arco mostra o motivo de Constantine do futuro apocalíptico querer encontrar sua versão mais nova e qual era seu objetivo ao fazer isso. Esse volume, porém, acaba tendo uma narrativa um pouco corrida, pois a revista inicialmente tinha a previsão de durar mais do que 12 edições, e percebe-se a existência de elementos que poderiam ser mais explorados.

A tentativa de ser uma volta às raízes acaba sendo bem sucedida, pois Spurrier consegue ir na essência do personagem (trazendo seu lado canastrão, egoísta, pessimista de volta) e também nos temas abordados. Muitas vezes as resoluções não são no estilo que dão certo para os envolvidos, pelo contrário. Além disso, as histórias de Hellblazer desde seu início sempre tiveram alegorias sociais, e também estão presentes aqui – como por exemplo a sereia sendo usada num contexto do excesso de pesca ou um demônio que é a personificação do extremismo se aventurando na política.

Inúmeros artistas trabalharam ao longo da obra, sendo Aaron Campbell (Lúcifer, Harley Quinn) e Matías Bergara (Imortal Hulk, Supergirl) os dois mais frequentes. Campbell trabalha muito o contexto de sujeira urbana, enquanto que Bergara, apesar de ter um estilo mais cartunesco, é inserido em arcos em que sua competente arte se encaixa bem.

Em suma, John Constantine, Hellblazer é um retorno de Constantine à sua velha forma, numa pegada muito parecida com a fase clássica roteirizada por nomes como Jaime Delano, Garth Ennis entre outros autores que moldaram a personalidade conhecida desse adorado e sarcástico personagem. Os fãs antigos com certeza vão gostar do trabalho, enquanto aqueles acostumados a verem Constantine em séries ou animações devem se preparar para vê-lo em situações bem mais adultas e sombrias do que aquelas mostradas nas mídias de massa.

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Louise Minski

Um experimento de Schrödinger entediado.

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