Strange Darling
Original:Strange Darling
Ano:2023•País:EUA Direção:JT Mollner Roteiro:JT Mollner Produção:Roy Lee, Steven Schneider, Bill Block, Giovanni Ribisi Elenco:Willa Fitzgerald, Kyle Gallner, Madisen Beaty, Bianca A. Santos, Steven Michael Quezada, Ed Begley Jr., Barbara Hershey, Denise Grayson, Eugenia Kuzmina |
Já avisado desde o começo, Strange Darling (2023) é um thriller dividido em seis capítulos e filmado em 35MM. O longa dirigido por JT Mullner, acompanha uma perseguição entre um casal onde nada é realmente o que parece. Vendido como uma dramatização baseada em eventos reais (o que não é verdade).
Cada capítulo é mostrado fora de ordem, mexendo com a perspectiva do espectador sobre em quem acreditar e juntar as peças para formar uma opinião sobre o quadro geral. Com Love Hurts sobressaindo na trilha sonora, vemos um homem (Kyle Gallner) conhecendo pela primeira vez uma mulher (Willa Fitzgerald) e as consequências desse encontro cheio de reviravoltas.
As cores vibrantes realçadas por uma trilha sonora cheia de barulhos intensos ajudam a manter um clima de ação e perseguição dando a sensação de que não é possível parar para respirar. São técnicas que realçam a urgência por uma conclusão, não porque a história é ruim, mas porque clama por uma solução a um grande problema que apenas cresce e parece não ter fim. Em cenas específicas também traz uma dualidade com sentimento de claustrofobia, já que mescla perseguições ao ar livre com espaços fechados.
A narrativa aqui é direta ao ponto. Somos jogados diretamente no caos e nele permanecemos, sem nos aprofundarmos no desenvolvimento de cada personagem. O próprio contexto é o protagonista, sem necessidade de se alongar ou ir por vertentes cheias de detalhes para enriquecer a trama. Então se você busca um filme cheio de explicações e motivações claras, explicadas, cheias de flashbacks e bagagem… pode acabar se decepcionando.
O próprio diretor diz que seu intuito é mostrar o quanto vivemos de julgamentos baseados em estereótipos, onde esperamos certas ações e comportamentos das pessoas, mas o quanto a realidade nos surpreende e subverte nossas expectativas. O que vem gerando muito debate se deve à uma cena em específico e as consequências negativas que ela pode trazer. Por exemplo, em um dos momentos uma mulher é chamada de burra por acreditar em outra mulher em situação de violência sexual.
A atuação de Willa Fitzgerald é o maior destaque do longa. Sua entrega no papel tem vários momentos memoráveis, principalmente nos 15 minutos finais do filme. Kyle Gallner é sempre consistente e vem se destacando como protagonista em diversos filmes de horror ao longo dos últimos anos, como no excelente The Passenger (2023) e o mais recente Sorria 2 (2024). Ambos entregam tudo o que a trama pede, sendo destacados pela excelente direção de fotografia de Giovanni Ribisi , dessa vez do outro lado das câmeras. Mesmo que o anúncio da filmagem em 35MM apareça antes mesmo da história começar, dando um toque um pouco pretensioso demais.
O filme brinca com a linha tênue de dinâmicas de poder, entre consentimento e violência, usando inclusive o contexto erótico para trazer esse paralelo para nos deixar em dúvida e no desconforto. Tudo acontece muito rápido, tanto que a própria história do filme é sobre o período corrido de praticamente um dia.
Todas as personagens apresentadas ao longo dessa perseguição frenética quebram nossas expectativas de uma maneira ou outra. Somos surpreendidos o tempo todo mesmo que essas surpresas pareçam “pequenas”. Mas é o grande plot que faz com que o longa continue sendo aclamado e polemizado tanto pelas críticas. Leva a sério do começo ao fim sua missão em ser subversivo. Pode não ter nada de novo, mas é sem dúvida um grande destaque para a leva de horrores lançados em 2024.
Strange Darling é um filme melhor aproveitado quando assistimos sem saber quase nada sobre sua trama. Vem recebendo elogios de grandes mestres como Stephen King e Mike Flanagan. Ainda não possui data de estreia no Brasil, mas pode ser uma boa pedida aos fãs de Pulp Fiction, Gone Girl, entre outros. Dos mesmos produtores de Barbarian e Late Night with the Devil, possui um roteiro que não subestima a capacidade do espectador, mesmo que manipule com sua edição nossa percepção e emoções numa montanha russa memorável, com grande potencial de se tornar um “cult clássico”. É definitivamente uma estrela dourada brilhante na carreira de JT Mollner.
Desconfie de tudo, tenha um pé atrás com todos, mas dê uma chance de peito aberto ao considerado grande thriller do ano. Você pode se surpreender pelo bem ou pelo mal. Por aqui saímos satisfeitos e no aguardo por mais Kyle Gallner, mais Willa Fitzgerald e mais surpresas do diretor.