Exclusivo: “Supermax é um exercício de imaginação”, diz José Alvarenga Jr.

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O diretor José Alvarenga Jr. contou para o Boca que já está trabalhando em outra série, que envolve bruxas e demônios do Brasil (Foto: Globo/Artur Meninea)
O diretor José Alvarenga Jr. contou para o Boca que já está trabalhando em outra série, que envolve bruxas e demônios do Brasil (Foto: Globo/Artur Meninea)

Com a colaboração de Silvana Perez

José Alvarenga Júnior é um diretor de TV e cinema que começou sua carreira como assistente de direção no filme Os Fantasmas Trapalhões, de 1987. Depois disso, ele trabalhou como diretor nos saudosos seriados Você Decide e Sai de Baixo.

Apesar de ter em seu currículo grandes filmes e séries brasileiras de comédia, José Alvarenga Júnior também já fez projetos envolvendo os gêneros policial e suspense, como Força Tarefa e O Caçador. Agora, uma de suas últimas produções é o seriado de terror Supermax, que teve seu primeiro episódio exibido na Rede Globo no dia 21 de setembro. Supermax conta a história de doze pessoas que são trancadas em um presídio de segurança máxima no meio da floresta amazônica para um reality show, mas depois de um tempo esses participantes perdem o contato com a produção e as condições do local começam a ficar precárias, até que os confinados não sabem se tudo faz parte da produção ou se algo deu errado. O Boca do Inferno conversou com o diretor sobre essa nova produção, como surgiu a ideia, como foi ter vários roteiristas em um mesmo projeto e qual a nova proposta da Globo em relação ao horror, confira a entrevista exclusiva!

Qual foi o seu primeiro contato com o fantástico e o terror?

Meu primeiro contato foi com o cinema, mais ou menos nos anos 70, eram dois filmes na verdade dos anos 50, mas eu só fui ver nos anos 70. Um era O Monstro da Lagoa Negra e o outro era A Mulher de 40 Metros. Os dois filmes me meteram muito medo, era um medo, como todo medo, físico, e a partir daí eu senti a potência desse gênero, foi o que mais me pegou. Mais na frente, já com 11/12 anos eu fui ver O Exorcista… e aí comecei a ver uma série de filmes, mas esses dois filmes foram os que mais me marcaram e me deixaram com muito medo!

Você trabalhou bastante com comédia, como foi fazer a sua primeira produção que tem uma pegada de terror e como surgiu a ideia do Supermax?

Na verdade, eu nunca fui um diretor que tenha me preocupado em ter um espaço muito delineado, eu sempre tive curiosidades e eu procuro filmar o que me move, então eu fiz comédias quando eu quis fazer comédias, comédias infantis – no caso d’Os Trapalhões – quando eu quis fazer comédias infantis, comédias adultas d’Os Normais, fiz dramas, fiz o Força Tarefa e A Justiceira, que são policiais, fiz recentemente O Caçador, que também é policial… e a ideia é um pouco o que me move, eu tenho como filmes de terror, que eu admiro, Alien, Tubarão, O Iluminado do Stanley Kubrick, adoro o Sam Raimi quando ele fez Uma Noite Alucinante, gosto de Resident Evil, gosto de muita coisa, eu sempre fiquei muito encantado. Eu não sou fã do gênero específico, de só ver filme de terror, eu vejo muitas coisas, então na verdade ficava um desejo de um dia poder entrar nesse ambiente, e foi o que aconteceu. Chegou um ponto que a gente achou que eu tinha uma boa ideia para fazer o Supermax, eu estava muito impressionado com True Detective e com satanismo, aquele clima pagão, sobrenatural… aquele terror humano, e eu achei que a gente podia fazer uma coisa dessa no Brasil, aí começamos o Supermax, que fala do gênero através do sobrenatural, mas também do terror da própria humanidade, o terror que cabe dentro da gente.

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Em uma outra entrevista você disse que Supermax era uma mistura de suspense, horror e romance, como vocês pensaram o roteiro para que tudo ficasse coeso?

Esse foi um trabalho dificílimo, não fui eu sozinho, a gente montou uma write room, que era uma sala de criação com roteiristas muito potentes, alguns especialistas nesses gêneros, como o Raphael Draccon, que é do gênero fantástico, o Dennison Ramalho e a Juliana Rojas específicos do terror, Bráulio Mantovani do thriller policial, Raphael Montes do investigativo e policial, eu, o Marçal [Aquino] e o [Fernando] Bonassi já tínhamos passado bastante pelo policial também, então a gente montou uma equipe forte e criativa que pudesse explorar tudo isso. Era como se nós realmente fôssemos exploradores, nós entravamos em um ambiente percebendo onde a gente queria chegar, como iríamos construir a cena, como iríamos proporcionar o andamento daquela narrativa, e cada especialista era uma espécie de bússola, dava a mão pra gente e todo mundo segurava na mão daquele especialista e ia; e aí a gente ia descobrindo nossos interesses, os nossos desejos criativos iam se misturando e eu acho que o Supermax é fruto desse esforço, de querer misturar bastante as coisas, eu acho que a série é um caldeirão pop total. Nós fomos em alguns lugares comuns para poder fisgar o público e levar para outro lugar, essa que eu acho que foi a grande troca e talvez seja o grande barato que o Supermax está propondo.

Quais foram as referências que vocês tiveram para construir o Supermax?

Eu cito muito True Detective, mas o Alien para mim tem muito a ver com o Supermax, quando a gente pensa nos corredores que os personagens passeiam na prisão, era a mesma relação do Alien, aquilo de você saber que tem um perigo ali, mas não saber onde ele está, isso é de uma potência incrível, né?! Saber que o terror está perto e não ver, esse é o pior terror que tem, o que você não vê. Mas é engraçado isso, porque a gente não tinha referências vivas, enquanto a gente construía a história a gente tinha as referências individuais de cada autor. O Dennison Ramalho, que ajudou muito a gente a construir o terror citava cinquenta referências que eu nem sei qual dizer agora, porque eram filmes que a gente nunca tinha visto! Outra razão era porque as pessoas não colocavam as referências na mesa, a gente falava muito por imagens, aí às vezes a gente identificava de onde vinha. As minhas mais explícitas são Alien e True Detective, mas essa é uma pergunta boa para fazer aos meus colegas, porque a gente só falava das ideias, das imagens, e não citávamos as referências, mas todos vieram com referências muito fortes.

Você disse que o Supermax é uma série diferente do que a TV brasileira está acostumada, o que te fez achar que ela daria certo e teria uma boa recepção?

Essa é uma boa pergunta. A gente [os criadores] quando faz um trabalho pode ser que não esteja no mesmo mood que a massa. A massa é enorme, tem a massa unificada, a massa nos nichos, então a gente nunca sabe. Em relação ao Supermax a gente fez porque tínhamos o desejo de contar essa aventura, de provocar essas sensações nas pessoas, e como foi um roteiro muito bem escrito, porque a equipe sempre perguntava quando chegaria o próximo roteiro, o próximo episódio, a gente percebia que a gente estava construindo uma obra que provocava desejos no público.

Em cima, da esquerda para a direita, o diretor José Eduardo Belmonte, os roteiristas Marçal Aquino, Carolina Kotscho e Bráulio Mantovani. Na fileira abaixo, o roteirista Raphael Montes, o diretor José Alvarenga Jr. e o roteirista Fernando Bonassi (Foto: Globo/Artur Meninea)
Em cima, da esquerda para a direita, o diretor José Eduardo Belmonte, os roteiristas Marçal Aquino, Carolina Kotscho e Bráulio Mantovani. Na fileira abaixo, o roteirista Raphael Montes, o diretor José Alvarenga Jr. e o roteirista Fernando Bonassi (Foto: Globo/Artur Meninea)

Você acha que o horror agora está em alta?

Eu acho que não tem um sentimento mais antigo que o medo. Esse sentimento é inesgotável, porque é ele que nos preserva, que cria uma mitologia diante do maior medo que a gente tem, que é a morte. O medo cria toda uma narrativa de defesa nossa diante do mundo, então o medo é o que preserva a humanidade. É uma pena o Brasil ter tido poucos trabalhos nessa linha, porque é uma linha que provoca uma sensação imediata. O medo é muito atrativo e sempre tira você do lugar que você está.

Podemos esperar uma segunda temporada de Supermax ou mais produções de terror da Globo?

Isso a gente nunca sabe, para uma segunda temporada no Brasil é preciso uma série de coisas, inclusive casar o timing, porque o Supermax levou muito tempo para fazer, a gente trabalhou no texto, na filmagem, na pós-produção… Só a pós-produção levou quase nove meses, para encaixar os efeitos, trabalhar as músicas, tudo foi um trabalho original nosso, não pegamos de lugar nenhum, tudo foi muito inventado, o Supermax é um exercício de imaginação, então isso leva tempo e a gente não sabe se uma segunda temporada vai poder casar com o tempo de preparar essa segunda temporada. O que eu posso dizer é que eu tenho outro projeto na Globo, chamado Forças Ocultas, que é um trabalho anterior ao Supermax, onde a gente fala de bruxas e demônios no Brasil e é uma história interessantíssima, um policial feito em cima de um reino de bruxa e demônios que vive no Brasil, no meio de nós, como pessoas aparentemente comuns.

Supermax é exibida na Globo todas as quartas a partir das 23h35 e, para os assinantes da Globo na internet, os onze episódios já estão disponíveis na GloboPlay, somente a season finale será exibida com exclusividade na TV.

E você, está acompanhando a série? Ficou curioso para o novo projeto do diretor? É sempre bom lembrar o quão importante é valorizar as produções brasileiras para que cada vez mais projetos apareçam para o grande público. Deixe sua opinião nos comentários e conte-nos o que você achou!

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Laura Dourado

Jornalista, bailarina, amante irrecuperável de filmes de terror. Assiste todos os tipos possíveis, dispensando só os terríveis found footages.

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