Aldo Valletti, o bizarro dos bizarros

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Aldo Valletti

Se você já viu este rosto, é difícil tirá-lo da mente. A cara seca, os olhos vesgos e aquele sorriso bizarro de dentes tortos que te faz dar um passo para trás, só por precaução. Nascido em 1930 em Roma, e falecido na mesma cidade em 1992, Aldo Valletti é mais conhecido pelo papel do Presidente Curval em Salò ou os 120 Dias de Sodoma, de Pier Paolo Pasolini. O que você talvez não saiba é que ele foi um ator prolífico no cinema de gênero italiano da época, quase sempre em papéis minúsculos mas marcantes.

Aldo Valletti, por incrível que pareça, estudou para ser padre em sua juventude. Não chegou a terminar o seminário, mas pagou suas contas por muito tempo dando aulas de latim. Em 1974 teve seu primeiro papel como figurante em Il lumacone, comédia de Paolo Cavara. Seu primeiro papel num filme de horror foi em Il Profumo della Signora di Nero, também em 1974, onde interpretou um canibal. A partir daí, passou a aparecer em qualquer filme em que precisassem de um vesgo esquisitão.

O papel do Presidente caiu no seu colo devido à sua enorme semelhança física com a descrição feita pelo Marquês de Sade no livro 120 Dias de Sodoma. Sobre o casting, Pasolini afirmou que Aldo “não precisava atuar, precisava apenas ser“. De fato, Valletti era conhecido por errar falas e não obedecer às instruções de seus diretores. Talvez por isso sua voz tenha sido dublada por Marco Bellochio, um grande colaborador de Pasolini.

Ainda em 1975, Valletti teve um papel igualmente bizarro em Casanova Frankenstein, comédia erótica com elementos de horror dirigida por Armando Crispino. Em 76, teve participações brevíssimas mas marcantes no premiado Pasqualino Settebelezze, de Lina Wertmüller, como um louco num manicômio, e no clássico nazi-exploitation Salon Kitty. Neste último, interpreta um nazista que gosta de atirar dardos em partes curiosas da anatomia feminina.

Aldo Valletti (2)

Valletti seguiu com sua singular carreira até 1980, quando fez Arrivano i gatti, obscura comédia de Carlo Vanzina. Mesmo não tendo formação teatral, e de certa forma não podendo ser chamado de ator no sentido estrito da palavra, é impressionante o fato de ter conseguido trabalhar com diretores do calibre de Pier Paolo Pasolini, Lina Wertmüller, Damiano Damiani e Tinto Brass. Vale destacar também seu imenso comprometimento em interpretar personagens tão grotescos, apesar de ser considerando uma pessoa doce e simpática por seus colegas. Pouco se sabe do que ocorreu até sua morte em 1990, mas devemos agradecer Aldo Valletti por dar a filmes já tão bizarros um toque ainda mais único.

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Matheus Ferraz

Mineiro, autor publicado e mestre em Biografia pela University of Buckingham

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